Marca de roupas de bike questiona conceitos de feminilidade e padrões de beleza em campanhas maravilhosas

Erika Sallum

Como já foi debatido diversas vezes neste blog (veja aqui e aqui), a bicicleta tem contribuído imensamente para o empoderamento feminino (goste você ou não do termo “empoderar”). Nunca tivemos tantas mulheres pedalando por aí, de casa para o trabalho, em desafios esportivos e provas ou nas ciclovias das grandes e pequenas cidades. A bike dá sensação de liberdade, aumenta a autoestima, mostra o mundo de um jeito totalmente diferente de “antes”. O mercado de bikes percebeu isso, porém nenhuma marca tem desenvolvido tanta afinidade com o tema quanto a norte-americana Machines for Freedom. Criada em 2014 por um mulherão da porra e feita 100% para mulheres, a grife de roupas para pedalar sempre se destacou pela elegância com que entende as necessidades das ciclistas.

A mais recente campanha da Machines para lançar sua nova camisa de bike (Fotos: Divulgação)

Nos últimos tempos, suas campanhas e ensaios fotográficos vêm dando um show de sensibilidade, com modelos “gente como a gente” e estreladas por mulheres mais velhas, acima do peso, asiáticas, latinas, negras, de óculos, sardas. Ou seja, todas nós. Sua mais nova jersey (camisa de ciclismo) foi lançada com uma proposta louvável: a de desafiar os conceitos que nos limitam. As criadoras da marca enviaram emails a suas clientes com um ensaio lindíssimo de uma ciclista grisalha e com a pergunta: “O que você ama em si mesma que muitas vezes já foi considerado por muitos como sendo não ‘feminino'”? Jeen Kriske, a fundadora da Machines, também deu sua resposta: “No meu caso, é meu jeito direto de ser. Eu posso ser bem diretona e de poucas palavras. Muitas vezes sou rotulada de agressiva, mas em meu atual papel de CEO estou aprendendo a reformular essa ideia, enxergando o antes ‘pouco feminino’ como uma demonstração de força”.

Não resisti e fui bater um papo com Jenn — cuja marca, aliás, faz na minha opinião a melhor jersey para mulheres do planeta. Leia a entrevista a seguir:

Acima do peso uma ova! A beleza da ciclista vai muito além de padrões de magreza (Fotos: Divulgação)

Por que você decidiu criar campanhas estreladas por ciclistas mulheres com diferentes tipos de corpos e idades?
JENN KRISKE A comunidade ciclística é tão diversa. Mas não é fácil perceber isso a partir das imagens e histórias divulgadas por um monte de marcas. Desde nosso primeiro dia, mostrar a vasta gama de mulheres que pedalam suas bikes tem sido nossa missão. Para que o esporte cresça, não se pode colocá-lo com sendo algo acessível apenas a umas poucas pessoas de uma pequena elite.

Como a bike pode empoderar as mulheres?
Ah, de tantas formas! Em primeiro lugar, trata-se de um desafio físico. Quando seu corpo se sente forte, sua mente e seu coração também se sentem. A bike proporciona uma sensação de independência e autossuficiência, que surge quando você se sente confortável consigo mesma, pedalando sozinha nas montanhas, por exemplo. Falando de maneira bem pessoal, saber que eu posso tomar conta e cuidar de mim mesma caso algo saia errado no meio do nada me traz uma confiança enorme que se espalha por outras áreas da minha vida. E então eu sei que ficarei bem.

Quais são os objetivos da Machines for Freedom em relação a esse foco de sempre lançar tendências que empoderem as mulheres?
Os últimos anos têm sido tão empolgantes para as mulheres, que vêm redefinindo sua própria comunidade, suas próprias fronteiras. Temos nos tornado mais corajosas em falar contra o patriarcado, a misoginia, o abuso. O empoderamento feminino que temos visto em muitas partes do mundo é muito maior que uma marca ou uma pessoa. A Machines for Freedom está aqui para se unir a isso, para adicionar força a esse movimento como um todo.

Pedalar há décadas é sinal de orgulho nas campanhas da Machines for Freedom (Fotos: Divulgação)
Negras, brancas, altas, baixas, pouco importa. O que vale é o amor pela bike (Fotos: Divulgação)