Com dólar alto, ciclistas brasileiros criam lindas versões nacionais de camisas de bike
Pouquíssimos anos atrás, quem curtia pedalar no Brasil não tinha muita escolha na hora de se vestir “a caráter”. A nós, pobres ciclistas tupiniquins, ou cabia gastar uma fortuna para comprar no exterior uma “jersey” (como chamamos as camisas desse esporte) ou encarar as então raras e não muito esteticamente felizes marcas nacionais. Quem era mulher, então, sofria horrores. Não havia modelos femininos, e o jeito era mesmo treinar com blusas largonas de cores sofríveis e bermudas mal-ajambradas.
Felizmente a popularização da bicicleta em muitos cantos do Brasil nos últimos anos mudou essa situação. E, quem diria, a crise econômica deu uma força a mais para que ciclistas brasileiros arregaçassem as mangas e criassem eles mesmos jerseys modernas, versáteis e com a sua cara. Se qualquer boa camisa de ciclismo lá fora não sai por menos de uns R$ 400 com o dólar nas alturas, a saída tem sido fazer aqui nossas roupas para treino. Surpreendentemente, tornamo-nos um celeiro de ótimas jerseys, elogiadas também por ciclistas de outros países. Até a apresentação das peças costuma ser caprichadíssima, com lindos ensaios fotográficos que incorporam o estilo de cada criador. Feitas em pequena escala, de forma quase artesanal, essas jerseys são vendidas no “boca a boca”, esgotam rápido e costumam virar símbolo de orgulho de quem as veste. Muito mais do que apenas “roupas para pedalar”, elas são uma ode ao amor desses ciclistas locais por suas magrelas. E um desdobramento agradabilíssimo da cada vez mais forte cultura brasileira da bike.
A seguir, algumas das mais legais que surgiram recentemente:
> SUMARÉ.CC
(sumare.cc)
Os cariocas da Sumaré deram esse nome a sua marca lançada em 2016 em homenagem a uma das mais longas e gostosas estradas locais, dentro do Parque Nacional da Floresta da Tijuca. “Observamos a cidade e suas vias como um espaço plural e democrático, e por elas nos locomovemos. Para a Sumaré, lugar de ciclista é na rua”, dizem seus criadores. Suas jerseys são elegantíssimas, sóbrias, porém supermodernas. Eles também produzem caps (os bonés de ciclismo), bretelles (bermudas de bike com alças) e camisetas. Um luxo.
> KIRSCHNER BRASIL
(kirschnerbrasil.cc)
A mais antiga e consolidada das marcas dessa nova onda de criativos produtores locais de roupas de bike, a catarinense Kirschner volta e meia aparece em editoriais internacionais de moda esportiva. Seu criador, Isaque Kirschner, é um apaixonado pelo esporte e coloca em suas peças um cuidado que transparece em cada detalhe. “O ciclismo não é um esporte mainstream no Brasil”, diz ele, em seu site. “A Kirschner existe para as minorias, e fazemos roupas inspiradas na tradição europeia, porém com toque brasileiro. Nossos ciclistas merecem.”
> DAEMON CYCLING
(daemoncycling.com)
O projeto Daemon Cycling, do polivalente ciclista e designer mineiro Francisco Martins, engloba não só jerseys, mas um blog de notícias ligadas à bike, pôsteres com ídolos do esporte e provas “underground” que vêm agitando a cena em São Paulo. Os dotes de designer de “Chicão” têm sido usados para desenvolver jerseys provocativas, altamente contemporâneas. Sua última criação, com estampa de caveirinhas, é sem dúvida uma das camisas de ciclismo mais interessantes a surgir por aqui recentemente. Como as outras marcas aqui citadas, tudo esgota rápido, por isso fique ligado no site e redes sociais do Daemon para saber quando virá coisa nova por aí.
> CANELA.CC
(canela.cc)
A advogada e ciclista paulistana Adriana Vojvodic faz parte de uma nova geração de mulheres que tomaram gosto pela bike e saíram às ruas em busca de liberdade e um espaço mais igualitário para elas (como foi comentado neste blog recentemente, leia aqui). Seu projeto Canela.cc, sobre bike e mulheres, rendeu frutos recentemente: um cap (boné de ciclismo) e uma jersey que representam a vibe dessas novas ciclistas: bem “fresh”, com um charme entre o deboche e o classudo. Pena, a jersey em pouco tempo esgotou — mas quem sabe Adriana não faz mais um tanto para quem ficou sem?
> HELL LANE FIXED CREW
(helllane.com)
A cultura das bikes fixas está por trás desta que talvez seja a mais underground das marcas que aparecem neste texto. Criado por Adri Masson e Jéssica Röpcke, duas “fixeiras” de Blumenau (SC), o projeto não tem pretensão alguma além de vestir bem as meninas do “rolê”. Elas já lançaram cap, meias e camisetas, além da jersey da foto abaixo — fofa, irreverente e deliciosamente charmosa.