Ciclocosmo https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br Um blog para quem ama bicicletas Thu, 02 Dec 2021 18:10:08 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Ciclovia do rio Pinheiros reabre com melhorias e desafio de ser mais inclusiva https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/07/30/ciclovia-do-rio-pinheiros-reabre-com-melhorias-e-desafio-de-ser-mais-inclusiva/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/07/30/ciclovia-do-rio-pinheiros-reabre-com-melhorias-e-desafio-de-ser-mais-inclusiva/#respond Thu, 30 Jul 2020 20:25:44 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/foto-maior-320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2849 No dia 3 de agosto, está prevista a reabertura do lado leste da ciclovia do rio Pinheiros, fechado desde 21 de março por causa da pandemia. É uma notícia e tanto em uma cidade cujo transporte público tem estado abarrotado, apesar do ainda elevado número de casos de covid-19.

Com 21,5 km totais, a ciclovia teve grande parte de sua extensão interditada em 2013, por conta de obras do monotrilho que deveriam durar dois anos — até hoje isso não aconteceu. Como resultado, desde então os usuários contam apenas com o trecho que vai do Parque Villa-Lobos à Vila Olímpia.

Como já escrevi aqui no blog, desde março deste ano a administração do local passou para a iniciativa privada, no caso, a Farah Service, por meio de chamamento público. Pelo contrato, a parceria dura 36 meses, que podem ser estendidos por mais 60 meses.

A empresa não recebe nada da CPTM (Companhia Paulista de Transporte Metropolitano), a responsável pelo local, e arca com todos os custos, com exceção da segurança. Em contrapartida, pode captar investimentos com os projetos e anúncios que fizer.

Pintura amarela para alertar ciclistas em trechos próximos a acessos e retornos (Foto: Erika Sallum)

A convite da Farah Service, visitei a ciclovia na semana passada, para ver de perto quais melhorias estão sendo realizadas.

Michel Farah, CEO e fundador da empresa, se mostra bastante animado com as potencialidades que a ciclovia oferece. Isso, por si só, já é louvável, visto que por anos e anos a CPTM tratou o local como uma espécie de fardo que caíra por acaso em suas mãos.

Os ciclistas que voltarão a usar a querida “ciclo-capivara” vão ver um ambiente mais bem cuidado, com grama cortada, plantio de árvores, pintura renovada, com trechos sinalizando em tinha amarela os pontos de maior perigo de acidentes.

No acesso ao Parque do Povo, agora há uma área de espera, onde o usuário pode aguardar um amigo ou observar o melhor momento de entrar na pista (muita gente já se machucou nesse entroncamento por falta de atenção). Ao lado, a empresa construiu uma guarita de alvenaria, com banheiro, muito mais decente do que a triste versão anterior, na qual a equipe de manutenção sofria com calor, frio e falta de infraestrutura.

No acesso da Vila Olímpia, foi instalado um container com cinco chuveiros (banho a R$ 16), uma mão na roda para quem está suado e precisa de uma ducha antes da escola ou do trabalho. E, no retorno do Parque Villa-Lobos, agora existe uma pequena rotatória, uma tentativa simples e que pode se mostrar eficiente em evitar as trombadas desnecessárias de antes.

No acesso da Vila Olímpia, a ciclo ganhou um container com chuveiro, com banho a R$ 16 (Foto: Erika Sallum)

A Farah também está firmando parceria para a instalação de iluminação, para que a ciclo possa ser usada até as 23h (hoje ela funciona das 5h30 às 18h30).

Tudo lindo, ainda mais para nós, ciclistas paulistanos, acostumados com a falta de apoio público e privado a políticas cicloviárias. Certo? Não totalmente.

Ao se tornar a nova administradora da maior ciclovia da capital, a Farah Service também aceita, automaticamente, o complexo desafio de fazer do local um espaço inclusivo, onde diferentes vertentes de ciclistas possam se sentir seguros para pedalar, seja como meio de transporte, lazer ou esporte. Afinal, a ciclo é pública e a todos pertence.

A tarefa até parece simples, mas não é. A ciclovia do rio Pinheiros tem um movimento de 50 mil acessos por mês, sendo 28 mil de usuários únicos. O público “da mobilidade”, ou seja, que utiliza a bike para se deslocar pela cidade, compõe uma bela parcela: 17 mil, enquanto 11 mil pedalam ali por esporte, lazer ou turismo.

Pense nos números acima sob a ótica da pandemia e da ideia de que a bicicleta é um meio de locomoção seguro, que evita aglomerações, que faz bem à saúde física e mental e, para completar, não polui. Por essas e outras, é primordial incentivar mais paulistanos a pedalar. E a ciclovia precisa se tornar um espaço ainda mais acolhedor a ciclistas — amadores e veteranos — que usam a bike para transporte.

Nova guarita, de alvenaria e com banheiro, no acesso do Parque do Povo (Foto: Erika Sallum)

Nesse aspecto, causa estranheza a retirada do acesso da ponte Cidade Jardim. A escada, de fato, estava instalada de forma mambembe em um lugar que volta e meia provocava incidentes. A Farah afirma que retirou a estrutura a pedido da equipe que cuida da ciclovia, que apontara diversas falhas de segurança nela.

Para piorar, a CPTM anunciou que o acesso de ciclistas pela estação Santo Amaro foi desativado do nada, sem aviso prévio, consulta com usuários e entidades.

Seja lá como for, a diminuição de acessos é um ponto de inflexão em uma ciclovia que precisa urgentemente ser mais plural e diversa, em uma época bizarra de pandemia e distanciamento social. Enquanto o resto do mundo, incluindo Peru e Colômbia, criam novas ciclovias e ciclorrotas emergenciais para ajudar a conter a propagação do coronavírus, São Paulo praticamente assistiu a esse “boom da bike” sem fazer nada por seus cidadãos.

“A ciclovia da Marginal passa por inúmeros lugares importantes, mas faltam conexões”, diz Sasha Hart, da Câmera Temática da Bicicleta (câmara técnica criada para auxiliar o Conselho Municipal de Transporte e Trânsito em temas relacionadas à mobilidade por bicicletas). “Hoje há trechos literalmente sem saída. Na zona oeste, por exemplo, ela passa próxima da abarrotada ciclovia da avenida Faria Lima, onde a CET já contabilizou quase 10 mil viagens de ciclistas por dia. Se a ciclovia da Marginal Pinheiros tivesse mais acessos, ela seria bem mais utilizada.”

Outra questão crucial que a Farah vai enfrentar é como fazer com que diferentes tipos de ciclistas convivam em harmonia. Muita gente (eu, inclusive) usa a ciclo da Marginal para treinar. Com a proibição de ciclistas “esportivos” na USP, a ciclocapivara se tornou praticamente o único local onde praticar ciclismo. Mas é preciso saber compartilhar a via com outros usuários, sem que a atividade de um prejudique a do outro.

Parafraseando aquela música dos Titãs, a gente não quer só ciclovia, a gente quer ciclovia, acessos, inclusão, diversidade e, claro, muita gente pedalando.

 

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Ciclovia do rio Pinheiros passa por reforma — e isso é importantíssimo hoje https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/06/12/ciclovia-do-rio-pinheiros-passa-por-reforma-e-isso-e-importantissimo-hoje/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/06/12/ciclovia-do-rio-pinheiros-passa-por-reforma-e-isso-e-importantissimo-hoje/#respond Fri, 12 Jun 2020 20:36:41 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/17194376.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2744 Eis um fato com o qual a cidade de São Paulo precisa se familiarizar o quanto antes: no tal “novo normal” pós-coronavírus, as metrópoles do mundo todo terão na bicicleta um de seus maiores aliados.

Parte dos paulistanos já se deu conta do fato, mesmo que ainda só em teoria, como mostrou recentemente a pesquisa Viver em São Paulo: Especial Pandemia, realizada pelo Ibope Inteligência e a Rede Nossa São Paulo. Segundo a pesquisa, feita entre 21 de maio e 1º de junho, 38% dos habitantes da capital desejam se deslocar mais a pé depois que a fase aguda da pandemia passar, enquanto 20% querem usar mais a bicicleta no dia a dia.

Prática, econômica, não poluente, a bike afasta as pessoas das aglomerações. Além disso, comprovadamente, trata-se de uma ferramenta que faz um bem danado para a saúde física e mental (algo essencial após meses de distanciamento social).

Como diz o cartaz que reproduzo abaixo, “pedalar não é fantasia; é o futuro”. E esse futuro já chegou, sem pedir licença, atropelando uma cidade inteira (e o país também).

Por tudo descrito acima, os desdobramentos envolvendo a ciclovia do rio Pinheiros ganham importância especial. O local está sob nova administração desde março e passa atualmente por uma reforma, enquanto permanece fechado por conta da pandemia.

Uma ciclovia melhor, mais segura e acolhedora aos ciclistas pode atrair mais gente e, como consequência, contribuir para desafogar o movimento em ônibus e metrô, ajudando a evitar uma segunda onda de contaminação.

Sem falar que mais pessoas pedalando significa menos gastos com saúde pública: uma pesquisa de 2018 revelou que, se a população do município incorporasse a bike em suas atividades, haveria uma economia anual de R$ 34 milhões no Sistema Único de Saúde (SUS) só em internações por doenças cardiovasculares e diabetes (escrevi sobre essa pesquisa aqui).

Funcionários contratados pela Farah Service, nova gestora da ciclovia, trabalhando na reforma (Foto: Divulgação)

Para receber mais ciclistas, São Paulo precisa de mais infraestrutura cicloviária, além de oferecer mais segurança a quem pedala.

Um passo interessante foi dado em março deste ano, quando a ciclovia passou para as mãos da iniciativa privada, no caso a empresa Farah Service, por meio de um chamamento público. A parceria é de 36 meses podendo ser prorrogados por mais 60 meses.

A empresa não recebe nada da CPTM, a responsável pelo local, e arca com todos os custos, com exceção da segurança. Em contrapartida, pode captar investimentos de marcas que queiram apoiar a iniciativa por meio de anúncios ou serviços.

Entrevistei Michel Farah, CEO e fundador da Farah Service, para saber mais sobre a reforma. Segundo ele, as melhorias são resultado de um estudo realizado pela empresa e também de conversas com usuários, entre assessorias esportivas e ciclistas amadores.

Estranhamente, a Farah Service não consultou nenhuma entidade civil organizada em torno das questões de mobilidade urbana.

Melhorias são bem-vindas, porém deveriam ser definidas com base em um processo participativo público e inclusivo, o que não foi feito”, diz Sasha Hart, da Câmera Temática da Bicicleta (câmara técnica criada para auxiliar o Conselho Municipal de Transporte e Trânsito em temas relacionadas à mobilidade por bicicletas). 

Dentre as melhorias, não está prevista, por exemplo, a inclusão de mais acessos à ciclovia, uma demanda de muita gente que vai para o trabalho de bike. Pelo contrário: a escada de acesso à ponte Cidade Jardim será retirada, a pedido dos usuários esportistas consultados pela Farah, que usam o local para treinar. 

Não se pode contemplar apenas ciclistas de elite que circulam ali em alta velocidade”, diz Hart. E ele tem razão: a ciclovia do rio Pinheiros não pode ser apenas um local de treinamento esportivo. É preciso saber compartilhar espaços (ouviram, pelotões de atletas muitas vezes mal educados?) e entender que todo mundo tem o direito de uso.

A seguir, Michel Farah explica o projeto com mais detalhes:

Desde que a parceria foi concretizada, quais melhorias já foram feitas no local, mesmo fechado por conta da pandemia?
MICHEL FARAH 
Inicialmente, gerenciamos a reforma do asfalto na área cedida com as enchentes do verão e também podamos a vegetação. Estamos retirando a escada de acesso à ponte Cidade Jardim e fazendo a manutenção de bebedouros, lavatórios e banheiros. Há ainda a pintura de pontos de apoio e manutenção elétrica deles; ligação de energia, água, esgoto, troca de fechaduras, lâmpadas fluorescentes, luminárias tartarugas e higienização.

Estamos produzindo e instalando placas de sinalização e placas de aviso de restrição por conta do conoravírus em todos os acessos da ciclovia. Além disso, estamos retirando o lixo ao longo de seus 21,5 km. Foram removidas mais de 50 toneladas de lixo e 1 milhão de metros quadrados de grama cortados. Os próximos passos são a instalação de postes de iluminação e câmeras de segurança. Haverá novas guaritas, para melhorar o ambiente de trabalho dos controladores de acesso.

 Na última semana, também foram instaladas seis vending machines com produtos para ciclistas, seis máquinas de carregar celulares e um container-chuveiro no ponto de apoio da Vila Olímpia, levando mais uma funcionalidade para a ciclovia. 

Slides de apresentação da Farah Service para atrair patrocinadores (Foto: Reprodução)

Na apresentação da Farah para prospectar parceiros, há imagens que mostram que haverá uma via só para carros [reproduzidas acima]. Os ciclistas não ficarão espremidos em uma só faixa?Originalmente, não existia a ciclovia, que era apenas uma via para os carros de serviço da CPTM, Sabesp e outros órgãos governamentais. Depois, essa via foi adaptada e alargada para conviver com as bicicletas, sendo a faixa da margem do rio preferencialmente para veículos e a que beira os trilhos, para bicicletas [na prática, não é isso que ocorre: há duas mãos para uso das bicicletas, e veículos respeitam essa organização, buzinando eventualmente para conseguir passar].

Haverá velocidade limite na ciclovia? Como vocês vão gerenciar os grupos que treinam ali em alta velocidade e as pessoas que utilizam a ciclovia para deslocamentos?
Os limites de velocidade da ciclovia não serão alterados, porém faremos vídeos para comunicar boas práticas para a segurança de todos. 

Os espaços para patrocinadores podem contemplar algo como um café para o usuário comer e descansar, abrindo assim opções de lazer mais completas para quem usa a ciclovia, especialmente nos finais de semana?
Sim, com certeza está nos nossos planos abrir cafés, minimercados, oficinas de bicicleta e serviços que beneficiem os usuários. 

Os novos containers com chuveiros para os ciclistas (Foto: Divulgação)

Por que apenas um dos lados da ciclovia ficou sob responsabilidade da Farah Service?
A Farah está com o contrato de doação com a CPTM, que administra apenas o lado leste da ciclovia. O lado oeste está sob cuidados do metrô, porém temos o intuito de adotar esse outro lado também.

Haverá mudanças no horário de funcionamento?
De imediato, não, mas estamos tentando um patrocinador para fazer a iluminação da ciclovia. Isso ampliaria o horário diurno de 5h30 para 4h da manhã e noturno de 18h30 para 23h [hoje a ciclovia funciona das 5h30 às 18h30].

Quando as melhorias serão finalizadas?
Estão sendo realizadas desde o primeiro dia da parceria e vamos continuar até o fim do nosso contrato. Acreditamos que até o final do ano teremos a maioria de nossas propostas já implantadas. 

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