Ciclocosmo https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br Um blog para quem ama bicicletas Thu, 02 Dec 2021 18:10:08 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Novidade no Brasil, Bikingman desafia corpo e alma https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/10/30/novidade-no-brasil-bikingman-desafia-corpo-e-alma/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/10/30/novidade-no-brasil-bikingman-desafia-corpo-e-alma/#respond Sun, 31 Oct 2021 02:03:20 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/recon2020brazil01068-320x213.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=3323 Dia desses meu amigo Jeffrey me perguntou se eu medito. Respondi que não. Fui então surpreendido com uma segunda pergunta. Reveladora, a questão serviu de alerta ao meu grande engano: “mas você não pedala, Caio?” Realmente Jeffrey, eu medito… E como medito! O excesso de intenções conscientes sobre minhas pedaladas, muitas vezes solitárias e levadas ao limite das capacidades físicas, sempre ocultaram de mim o profundo mergulho introspectivo que o ato de pedalar me proporciona.

Penso agora que só isso —o profundo mergulho introspectivo— pode justificar a participação de ciclistas amadores numa prova tão treta como o primeiro Bikingman Brasil. É mesmo necessário o equilíbrio de mestres iogues e a reflexão de monges budistas para superar —sem nenhum tipo de ajuda externa— os 1.000 Km de buraqueira, os 19.000 metros de ascensão acumulada, as subidas mais insanas do país, no limite máximo de cinco dias (120 horas).

A prova Bikingman Brasil, que largará às 5h desta segunda-feira (1/11) em Taubaté (SP), cruzará estradas de terra e asfalto, e contará com desafios extremos de nosso país: A subida mais longa pela estrada mais alta do Brasil —35 Km e quase 2.000 metros de ascensão dentro do Parque Nacional do Itatiaia—, e a subida pavimentada mais dura em território nacional, que começa em Paraty (RJ) e termina 17 Km depois, em Cunha (SP).

Parafernália que Jessica Ropcke vai carregar consigo pelos 1.000 Km (foto: Pedro Filipi Valente Silva)

Os cenários de natureza exuberante, pelas serras da Mantiqueira, do Mar e da Bocaina, e a beleza pitoresca de cidades históricas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, trazem o equilíbrio mental para tamanho desgaste físico. 

Vinícius Martins, organizador da prova e experiente ciclista de ultradistância, comenta que “diferente dos desafios ‘brevê’, que não premiam o mais rápido, o Bikingman é uma competição sim. Essa característica aproxima o ciclista competitivo do modelo contemplativo do cicloturismo”. Ganha quem terminar os 1.000 Km mais rápido. Vinícius já tem seu palpite, acredita que o mais veloz terminará a prova em 60 horas (2 dias e meio) —o que obrigará o futuro campeão a pedalar quase constantemente, com breves cochilos que, somados, não passarão de 4 horas.

Durante a prova, a peculiar regra da autossuficiência deixa o desafio ainda mais severo. Nenhum tipo de ajuda é permitido. O ciclista tem que carregar tudo, de roupas a ferramentas, passando por comida e hidratação. É osso! No caminho, só é permitido o uso de estruturas públicas, como restaurantes, hotéis e borracharias. Se, eventualmente, o ciclista passar pela cidade da família e decidir comer um pudim na casa da vovó, ou tirar um cochilo da casa da prima, estará automaticamente desclassificado. Burlar essa regra é quase impossível —todo trajeto é registrado por aparelhos de GPS instalados em cada uma das bikes, e divulgado publicamente ao vivo, através do website do evento (sim, você pode ser um espectador remoto e curtir a emoção a partir de seu sofá, o que pode ser bem legal!). 

Apesar da dureza desta prova, tem sim gente iniciante em ultradistância na lista de largada. A empresária catarinense Jessica Ropcke nunca competiu nada tão longo. “Conhecer lugares novos de bike é motivador. Vou encarar como se fosse uma viagem de bike”. Para se preparar, Jessica começou a fazer treinos mais longos e teve que aprender técnicas de mecânica de bicicleta, como trocar as pastilhas de freio —tarefa que diz já fazer melhor que o noivo, um ciclista experiente. As mulheres são minoria, e Jessica diz que isso a motiva ainda mais. Seu objetivo é concluir a prova dentro do limite de 5 dias para incentivar outras mulheres a participar na próxima edição da prova.

A advogada paulistana Victória de Sá tem longa experiência em ultradistância e provas Bikingman. Com alguns desafios bravos no currículo, como Everesting e Inca Divide, Victória sabe bem onde está se metendo. “Adoro planejar e ter estratégias. O bom planejamento me ajuda a não gastar energia pensando durante a prova”

Victória de Sá em sua experiência na prova peruana de ultradistância Inca Divide (Foto: Bruno Rosa)

Quando perguntei para Victória se ela tinha alguma dica para quem quer começar nas provas de ultradistância, me surpreendi. Achei que ela falaria sobre equipamentos, mapas, treinamento… “Tem que sentir o ambiente. O sol, a lua, a chuva, as árvores, o asfalto, a sombra, o calor…” disse a sábia ciclista.

Realmente, meu amigo Jeffrey, pedalar é pura meditação.

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Espetáculo exótico, Copa do Mundo de Ciclocross já começou https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/10/15/espetaculo-exotico-copa-do-mundo-de-ciclocross-ja-comecou/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/10/15/espetaculo-exotico-copa-do-mundo-de-ciclocross-ja-comecou/#respond Fri, 15 Oct 2021 23:01:14 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/Screen-Shot-2021-10-15-at-19.46.44-320x213.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=3275 Uma das vertentes mais emocionantes do ciclismo, o ciclocross é uma mistura de ciclismo de estrada e corrida a pé, acontece em circuitos de terra e, apesar de ainda não ser um esporte olímpico, é pelo menos 80 anos mais velho que seu irmão caçula —e já olímpico— mountain-bike. A modalidade consiste em usar bicicletas de estrada com pneus finos e guidão ‘enrolado’, ligeiramente adaptadas para rodar em trilhas enlameadas, cheias de obstáculos naturais e artificiais.

As tradicionais provas acontecem no inverno do hemisfério norte, época que o ciclismo de estrada profissional entra em pausa naquela região. Neve, chuva, lama, escadas, areia e diversos obstáculos artificiais dão forma ao circuito e obrigam o ciclista a inverter, por vezes, a sua posição com o equipamento —a bike é que vai por cima do atleta. Pelas características de certos obstáculos, como escadas e lamaçais, é vantagem correr com a bike nas costas. As provas são disputadas em circuitos curtos, de até 3Km, e duram cerca de 1 hora em pura explosão de energia humana.

Ainda pouco conhecida pelos brasileiros, a modalidade teve sua temporada internacional inaugurada no último dia 10, com a primeira etapa da Copa do Mundo de Ciclocross. 

O evento aconteceu no “quintal” da fábrica de bicicletas Trek, em Waterloo (EUA). A marca americana emprestou seu circuito à UCI como forma de consolidar a popularidade desse esporte —tradicionalmente dominado pelos europeus— naquele país. A segunda etapa também já rolou, foi no dia 17, em Fayetteville, também nos Estados Unidos, e serviu para confirmar a hegemonia européia. Belgas dominaram as duas etapas no circuito masculino e holandesas foram a maioria nos dois pódios femininos. 

Mesmo sem nunca ter atingido o topo do pódio no circuito mundial, os Estados Unidos já é o país com o maior número de atletas na linha de largada —tanto no feminino quanto no masculino— e promete bons resultados nesta temporada.

O Brasil, que nunca teve um ciclista participante nos Campeonatos Mundiais e Copas do Mundo, vê o ciclocross ser tocado por pequenos grupos de entusiastas. O empresário curitibano Ivo Siebert acompanha apaixonadamente a modalidade desde 1993. Em 2012, utilizando recursos próprios, Siebert promoveu a primeira prova de ciclocross do país. O evento foi realizado em uma pista de Curitiba e contou com apenas 20 participantes. Ivo ainda organizou outras sete provas, mas teve que abandonar sua empreitada por falta de apoio. “Nós paramos de promover as provas por conta da economia. É complicado ser proprietário de uma loja e organizador de eventos.” 

Ivo Siebert passa por obstáculo da prova de ciclocross organizada por ele mesmo, em Curitiba (Foto: Diego Cagnato)

Para o advogado Albert Pellegrini, co-fundador do Fuga Clube de Ciclismo, a questão passa pela cultura. “até mesmo o ciclismo tradicional tem dificuldade em manter a temporada no Brasil. São poucas as equipes e é pequeno o público que acompanha os campeonatos”. 

Enquanto o ciclismo brasileiro faz vaquinha para sobreviver —sim(!), por falta de investimento público e privado, tá rolando uma vaquinha online para premiar a campeã e o campeão brasileiro de estrada em 2021—, as espertas empresas e os capazes governos além-mar investem pesado nesse mágico e surpreendente espetáculo esportivo.

A próxima etapa da Copa do Mundo de Ciclocross acontece neste domingo (17) às 15h50 (horário de Brasília), em Iowa City (EUA), com transmissão ao vivo pelo canal oficial da UCI no Youtube. Ao final das 16 etapas, a futura campeã e o futuro campeão devem receber, cada um, 81 mil Euros como prêmio.

Já o Campeonato Brasileiro de Estrada 2021, acontecerá de 20 a 24 de outubro, em Londrina (PR). Não há programação de transmissão online. O prêmio oficial será distribuído em medalhas, e, Deus ajude, a campeã e o campeão serão recompensados pela  vaquinha online, criada pelos fãs solidários desse esporte.

 

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