Ciclocosmo https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br Um blog para quem ama bicicletas Thu, 02 Dec 2021 18:10:08 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Colírio na pandemia: as fotos maravilhosas do mais antigo clube de cicloturismo off-road https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/04/21/colirio-na-pandemia-as-fotos-maravilhosas-do-mais-antigo-clube-de-cicloturismo-off-road/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/04/21/colirio-na-pandemia-as-fotos-maravilhosas-do-mais-antigo-clube-de-cicloturismo-off-road/#respond Tue, 21 Apr 2020 19:26:35 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/Chater-John-Arthur-Easter-1973.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2627 Se a pandemia tem nos proibido de pedalar (pelo menos entre os ciclistas sensatos), ainda podemos sonhar com estradas e trilhas desafiadoras e cicloviagens por montanhas longínquas, em aventuras nas quais só importa o prazer libertário que a bike é capaz de proporcionar.

Que o digam os integrantes do Rough-Stuff Fellowship, o mais antigo clube de ciclismo off-road do planeta. Criada em 1955, em Leominster, uma pequena cidade do Reino Unido, quase divisa com País de Gales, a organização possui um dos mais belos e comoventes arquivos de fotos de expedições ciclísticas, desde aquela época até hoje.

Em expedição da Inglaterra à Austrália em 1984, amigos pedalaram de Katmandu ao campo base do Everest (Foto: Cortesia Rough-Stuff Fellowship)

São imagens como estas que você aqui no Ciclocosmo, tiradas por viajantes que há mais de seis décadas perceberam dois pontos essenciais para uma vida feliz: conhecer o mundo em cima de uma bicicleta e, de preferência, por estradas sem pavimentação que cortam terras isoladas e paisagens únicas.

O Rough-Stuff Fellowship surgiu quando Bill Paul, um ciclista de Liverpool, decidiu colocar um anúncio na então revista The Bicycle, conclamando entusiastas de cicloviagens off-road para se unir a ele em um clube. Poucos meses depois, cerca de 40 pessoas se reuniam em um pub em Leominster para o primeiro encontro da organização — que, aliás, funciona até hoje.

Empurra-bike (tandem!) em estradas de terra da Irlanda, em 1955 (Foto: Cortesia Rough-Stuff Fellowship)

Não se tratava de um clube para ultraciclistas que pedalam milhares de quilômetros, muito menos uma instituição para celebrar recordes ou grandes performances atléticas. Era, isso, sim, uma reunião de pessoas comuns, em sua maioria de classe média, com uma enorme paixão por desbravar a Terra de bike. Sem distinção de sexo, como você pode checar nas diversas imagens de mulheres participando das trips.

Pelas fotos (como a de cima), dá para ver como boa parte das expedições era um “empurra-bike” sem fim. Os dois ciclistas que foram pedalando de Katmandu, capital do Nepal, até o campo base do Everest, em 1984, confessaram que pedalaram uns 20% do percurso, empurrando suas bicicletas quase 80% do trajeto restante. Pura aventura da maior qualidade.

Cruzando o rio Maize Beck Crossing Easter, na Inglaterra, em 1966 (Foto: Cortesia Rough-Stuff Fellowship)

Uns dois anos atrás, o clube contratou o arquivista Mark Hudson para cuidar das milhares de imagens que foram sendo colecionadas ao longo das décadas, muitas delas de qualidade surpreendente. Os retratados se mostram cheios de estilo, com suas bikes de ferro de guidão curvo, encarando perrengues sensacionais.

Hudson não só organizou o arquivo como criou uma conta do Rough-Stuff Fellowship no Instagram, o que tem ajudado o clube a ganhar notoriedade e atraído aficionados por viagens desse tipo, em especial após a popularização da modalidade gravel (não sabe o que é? Escrevi sobre isso aqui).

Eram tantas fotos maravilhosas que Hudson decidiu que havia material suficiente para um livro, lançado recentemente no Reino Unido (mais informações aqui).

Parada para descanso na cidadezinha inglesa de Myerscough Smithy, em 1965 (Foto: Cortesia Rough-Stuff Fellowship)

Conversei com Mark Hudson para saber mais sobre esse fantástico clube que, com suas fotos, nos faz lembrar do poder que é ganhar o mundo pedalando (mesmo que tenhamos de esperar em casa até o arrefecimento de uma pandemia).

Quantas fotos possui o arquivo do Rough-Stuff Fellowship? Você tem uma preferida?
MARK HUDSON Há mais de 20.000 imagens, até perdi a conta exata! Uma grande parte é de slides em 35 mm, mas temos também muitas fotos e negativos em preto e branco. Não consigo ter uma imagem preferida, porque há tantas muito boas! E cada uma é envolta em sua história.

Como o arquivo foi se expandindo ao longo das décadas? Ainda há gente que envia fotos?
Tem crescido muito! Eu continuo encontrando fotos antigas que não conhecia, e também estou sempre aberto a receber mais material. Antes de eu me tornar arquivista do Rough-Stuff Fellowship, havia apenas umas 200 imagens disponíveis. Agora temos milhares, além de uma ótima coleção do nosso periódico Rough-Stuff Fellowship, cuja origem data de 1955. E também diários e recortes de jornais e outros tipos de materiais dos membros do clube.

A conta de Instagram do clube surgiu em 2018 e já conta com 18.000 seguidores. O que essas fotos têm que vêm atraindo tanta gente?
Quando eu comecei no arquivo, quis imediatamente compartilhá-lo com pessoas que não faziam parte do clube. A resposta foi incrível. Eu acho que isso aconteceu porque as pessoas das fotos são gente comum que se jogou por aí com suas bikes décadas e décadas atrás. É o tipo de pedal (ou caminhada!) que muitos ciclistas estão fazendo só agora. Espero que os seguidores do nosso perfil se sintam inspirados a viajar e curtir a natureza.

Em 1972, a brabeza de pular uma porteira na Escócia com bike de ferro no ombro (Foto: Cortesia Rough-Stuff)Fellowship)
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Com quase 30 mil inscritos, Pedal Anchieta comprova o amor do paulistano pela bike https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/29/com-quase-30-mil-inscritos-pedal-anchieta-comprova-o-amor-do-paulistano-pela-bike/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/29/com-quase-30-mil-inscritos-pedal-anchieta-comprova-o-amor-do-paulistano-pela-bike/#respond Fri, 29 Nov 2019 22:26:47 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/15437697525c040e9879b4a_1543769752_2x3_md-320x213.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2409 Já são 29.500 inscritos para a segunda edição do Pedal Anchieta, um percurso tradicional do cicloturismo paulista que vai de São Paulo a Santos — e que tem sua maior celebração neste domingo (30 de novembro).

Trata-se, de acordo com os organizadores, do segundo maior evento de cicloturismo do mundo. Isso sem grandes patrocinadores (alô, alô, marcas esportivas e de bike!), além do importantíssimo apoio de órgãos como a Ecovias, concessionária responsável pelo Sistema Anchieta-Imigrantes, a Polícia Rodoviária Estadual, a Polícia Militar, a Agência de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp), secretarias da cidade de São Paulo e a prefeitura de Santos.

Rodovia fechada e belas paisagens da Serra do Mar são atrativos do Pedal Anchieta (Foto: Edson Lopes Jr / Folhapress)

 

Não é um passeio de logística tranquila. Sai-se de bicicleta do Km 12 da Via Anchieta e segue-se até o Km 40 da rodovia. Ali, pega-se a Interligação e desce-se pela Imigrantes. No final, os milhares de ciclistas precisam se virar para voltar a suas casas, de ônibus, fretados, vans ou carona de amigos. Por milhares, entenda-se não só ciclistas veteranos, mas famílias inteiras que quase nunca têm a oportunidade de se divertir de bike em uma cidade tão pouco amiga da bicicleta como São Paulo.

Para participar, não se paga nada, porém é preciso se inscrever (clique aqui), com retirada de kit até amanhã (sábado, dia 30).

A multidão de brasileiros invadindo o sistema Anchieta-Imigrantes com suas bikes de todos os tipos é de emocionar. No ano passado, quando 40 mil ciclistas participaram do evento, formou-se uma massa contínua de gente de 12 km, em um trajeto total de uns 55 km (em 2019, o percurso aumentou para 70 km). Dentre os ciclistas que pedalaram em 2018, cerca de 15 mil eram da capital, 10 mil da Grande São Paulo e o restante de outros cantos do Brasil — incluindo galeras de Belém do Pará e São Luís do Maranhão.

Para os leigos que não se ligaram do poder da bike, o Pedal Anchieta ajuda a provar como somos carentes de eventos desse tipo — gratuitos, sustentáveis, que promovem saúde, que coloquem o cidadão em outro tipo de contato com seu corpo e com seu entorno. 

Megapasseios ciclísticos são comuns na Europa, porém ainda se mostram tímidos por aqui, onde no entanto crescem provas elitizadas para gente de classe média e alta (altíssima, aliás) que pratica ciclismo de estrada e mountain bike. Para as camadas da população que não têm condições de pagar inscrições e comprar bikes inacreditavelmente caras (sem falar no tempo para treinar essas modalidades), sobra pouquíssima opção. E nenhuma delas é tão bacana, pela quantidade de inscritos e pela natureza ao redor da rodovia, quanto o Pedal Anchieta.

O trajeto é velho conhecido de quem ama cicloturismo em São Paulo. Foi lá pelo início dos anos 2000 que grupos de ciclistas começaram a descer da capital até Santos. A rota ganhou o nome de Márcia Prado, em homenagem à cicloativista Márcia Regina Duarte Prado, morta em 2009 ao ser atropelada por um ônibus. Márcia fazia parte de movimentos de cicloativistas, que na época criaram o Manifesto dos Invisíveis, documento que pedia mais segurança nas vias urbanas.

Durante anos, a Descida a Santos era mal vista pelos governantes — que, em dezembro de 2017, tiveram a imbecilidade de mandar a Polícia Militar barrar os ciclistas com violência (como eu escrevi aqui). Mas, após muitas conversas entre sociedade civil e poder público, o Pedal Anchieta conquistou apoio das autoridades e virou esse estrondoso sucesso em 2018; e que deve se repetir neste ano.

Em 2018, a multidão de ciclistas formou uma massa de gente por 12 km contínuos (Foto: Edson Lopes Jr / Folhapress)

 

Para organizar um passeio assim, todos os órgãos envolvidos se unem em uma operação absurdamente complexa, com centenas de agentes de segurança, policiais, CET, médicos. Já em Santos, os bikers terão infraestrutura com água, banheiros, ambulâncias do SAMU e música, em uma grande festa. Para quem quiser aproveitar a praia, a CET vai fazer comboios para levar os ciclistas até a costa em segurança.

Vida longa ao Pedal Anchieta! E que empresas privadas e outros órgãos governamentais se liguem de que nós, brasileiros, queremos mais celebrações da bike desse tipo. E, claro, mais cidades seguras onde pedalar o resto do ano.

 

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