Ciclocosmo https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br Um blog para quem ama bicicletas Thu, 02 Dec 2021 18:10:08 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Novidade no Brasil, Bikingman desafia corpo e alma https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/10/30/novidade-no-brasil-bikingman-desafia-corpo-e-alma/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/10/30/novidade-no-brasil-bikingman-desafia-corpo-e-alma/#respond Sun, 31 Oct 2021 02:03:20 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/recon2020brazil01068-320x213.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=3323 Dia desses meu amigo Jeffrey me perguntou se eu medito. Respondi que não. Fui então surpreendido com uma segunda pergunta. Reveladora, a questão serviu de alerta ao meu grande engano: “mas você não pedala, Caio?” Realmente Jeffrey, eu medito… E como medito! O excesso de intenções conscientes sobre minhas pedaladas, muitas vezes solitárias e levadas ao limite das capacidades físicas, sempre ocultaram de mim o profundo mergulho introspectivo que o ato de pedalar me proporciona.

Penso agora que só isso —o profundo mergulho introspectivo— pode justificar a participação de ciclistas amadores numa prova tão treta como o primeiro Bikingman Brasil. É mesmo necessário o equilíbrio de mestres iogues e a reflexão de monges budistas para superar —sem nenhum tipo de ajuda externa— os 1.000 Km de buraqueira, os 19.000 metros de ascensão acumulada, as subidas mais insanas do país, no limite máximo de cinco dias (120 horas).

A prova Bikingman Brasil, que largará às 5h desta segunda-feira (1/11) em Taubaté (SP), cruzará estradas de terra e asfalto, e contará com desafios extremos de nosso país: A subida mais longa pela estrada mais alta do Brasil —35 Km e quase 2.000 metros de ascensão dentro do Parque Nacional do Itatiaia—, e a subida pavimentada mais dura em território nacional, que começa em Paraty (RJ) e termina 17 Km depois, em Cunha (SP).

Parafernália que Jessica Ropcke vai carregar consigo pelos 1.000 Km (foto: Pedro Filipi Valente Silva)

Os cenários de natureza exuberante, pelas serras da Mantiqueira, do Mar e da Bocaina, e a beleza pitoresca de cidades históricas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, trazem o equilíbrio mental para tamanho desgaste físico. 

Vinícius Martins, organizador da prova e experiente ciclista de ultradistância, comenta que “diferente dos desafios ‘brevê’, que não premiam o mais rápido, o Bikingman é uma competição sim. Essa característica aproxima o ciclista competitivo do modelo contemplativo do cicloturismo”. Ganha quem terminar os 1.000 Km mais rápido. Vinícius já tem seu palpite, acredita que o mais veloz terminará a prova em 60 horas (2 dias e meio) —o que obrigará o futuro campeão a pedalar quase constantemente, com breves cochilos que, somados, não passarão de 4 horas.

Durante a prova, a peculiar regra da autossuficiência deixa o desafio ainda mais severo. Nenhum tipo de ajuda é permitido. O ciclista tem que carregar tudo, de roupas a ferramentas, passando por comida e hidratação. É osso! No caminho, só é permitido o uso de estruturas públicas, como restaurantes, hotéis e borracharias. Se, eventualmente, o ciclista passar pela cidade da família e decidir comer um pudim na casa da vovó, ou tirar um cochilo da casa da prima, estará automaticamente desclassificado. Burlar essa regra é quase impossível —todo trajeto é registrado por aparelhos de GPS instalados em cada uma das bikes, e divulgado publicamente ao vivo, através do website do evento (sim, você pode ser um espectador remoto e curtir a emoção a partir de seu sofá, o que pode ser bem legal!). 

Apesar da dureza desta prova, tem sim gente iniciante em ultradistância na lista de largada. A empresária catarinense Jessica Ropcke nunca competiu nada tão longo. “Conhecer lugares novos de bike é motivador. Vou encarar como se fosse uma viagem de bike”. Para se preparar, Jessica começou a fazer treinos mais longos e teve que aprender técnicas de mecânica de bicicleta, como trocar as pastilhas de freio —tarefa que diz já fazer melhor que o noivo, um ciclista experiente. As mulheres são minoria, e Jessica diz que isso a motiva ainda mais. Seu objetivo é concluir a prova dentro do limite de 5 dias para incentivar outras mulheres a participar na próxima edição da prova.

A advogada paulistana Victória de Sá tem longa experiência em ultradistância e provas Bikingman. Com alguns desafios bravos no currículo, como Everesting e Inca Divide, Victória sabe bem onde está se metendo. “Adoro planejar e ter estratégias. O bom planejamento me ajuda a não gastar energia pensando durante a prova”

Victória de Sá em sua experiência na prova peruana de ultradistância Inca Divide (Foto: Bruno Rosa)

Quando perguntei para Victória se ela tinha alguma dica para quem quer começar nas provas de ultradistância, me surpreendi. Achei que ela falaria sobre equipamentos, mapas, treinamento… “Tem que sentir o ambiente. O sol, a lua, a chuva, as árvores, o asfalto, a sombra, o calor…” disse a sábia ciclista.

Realmente, meu amigo Jeffrey, pedalar é pura meditação.

]]>
0
Ciclista se torna primeira trans a pedalar do Alasca à Patagônia https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/05/29/ciclista-se-torna-primeira-trans-a-pedalar-do-alasca-a-patagonia/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/05/29/ciclista-se-torna-primeira-trans-a-pedalar-do-alasca-a-patagonia/#respond Fri, 29 May 2020 21:32:53 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/ABRE.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2683 Foram quase dois anos, mais de 46.000 km pedalados e 17 países visitados, em uma aventura que teve início no Alasca e terminou na outra ponta do continente americano, na Patagônia.

Só por isso, a empreitada de Natalie Corbett, 33, já seria estupenda. Mas a norte-americana de poderosos olhos azuis e respostas inteligentes vai muito além. Há seis anos, ela assumiu-se mulher e, assim, tornou-se a primeira ciclista trans a completar o percurso, uma das rotas mais sonhadas por quem ama viajar de bicicleta.

Yonder, a bike de Natalie, e uma nova amiga da estrada

A saga ciclística de Natalie não exige apenas determinação e pernas em dia. Requer, acima de tudo, leveza e coragem para enfrentar preconceitos e se viver como se quer. E tornar sonhos realidade — seja derrubando imposições de gênero ou estudando mapas de onde se quer pedalar.

Ver as fotos de sua expedição, algumas das quais publico aqui, é ter a honra de poder acompanhar momentos únicos de uma ciclista inspiradora. E que a todo tempo desafia regras. Seu rosto forte de olhar penetrante e sua risada em países tão distintos quanto os Estados Unidos e o Equador fascinam aqueles que sabem que uma das melhores maneiras de conhecer o mundo — ou seja, de se viver a vida — é mesmo em cima de uma bike.

Autorretrato durante a cicloviagem
Visitando a latitude zero do planeta, no Equador

A seguir, um bate-papo com Natalie sobre transgêneros, desafios e, claro, cicloviagens.

Por que você decidiu pedalar sozinha um percurso tão extenso?
NATALIE CORBETT Porque sozinha eu não preciso perguntar para outra pessoa onde ela quer ir! Para mim, pedalar é uma atividade individual, para se fazer só. Eu uso meu tempo na bike para introspecção e para me perder nos meus pensamentos. Eu curto outras atividades em que prefiro ter alguém comigo, como caminhadas no mato e escalada em rocha. Mas ciclismo, e principalmente cicloviagem, é melhor se fazer sem companhia.

Como pedalar e se lançar em aventuras ciclísticas te ajudou a ser assumir como uma mulher trans, em um mundo onde frequentemente as escolhas alheias não são respeitadas?
Eu diria que foi, na verdade, o contrário. Tornar-me uma pessoa trans me ajudou a ser uma ciclista de aventura. Aprender a não ter vergonha de quem eu sou, a ter orgulho de mim e a viver diariamente como eu acredito foi fundamental para eu viver uma vida de aventuras e acolher esse outro lado de mim mesma.

Muitas pessoas são criadas para se adequar a pequenas caixas, não para facilitar suas vidas, mas sim para fazer a vida dos outros em volta menos desconfortável. Então eu decidi sair dessa caixa das normas de gênero, deixando minha casa para viver na estrada pedalando e acampando. E há muito tempo que deixei de me importar como os outros me vêem. Tornar-me mulher foi a experiência mais profunda da minha vida — não apenas meu gênero se transformou, mas todo meu ser, em direção à pessoa que eu sempre soube que eu era.

A dura arte de limpar o cassete
A Brooks Range ao fundo, cadeia de montanha que vai do Alasca ao Canadá
Autorretrato de bretelle (bermuda de bike com alças), a melhor roupa do mundo

Quais as maiores lições que você aprendeu pedalando do Alasca até a Patagônia?
Essa é a questão mais difícil de responder. Enquanto eu estava pensando em uma maneira de dar uma resposta, percebi minha dificuldade em colocar uma experiência acima de outra. Talvez seja por minha característica de conseguir passar longos períodos de tempo pensando e procurando minhas verdades.

Estamos enfrentando um período muito duro de pandemia, quarentena etc. Como sua vida de bike na estrada te ajudou a lidar com essa situação tão bizarra?
Quando algo dá errado durante uma viagem desse tipo, você tem de tentar fazer o seu melhor e encontrar uma solução produtiva. Houve momentos quando eu estava em subidas intermináveis, com muito vento e chuva. Meu corpo estava ensopado, em uma friaca. Eu fui levada aos meus limites e me senti acabada. Nessas horas, eu gritava o mais alto que conseguia, amaldiçoando o tempo, as montanhas, tudo. Depois de um minuto de gritaria, eu me sentia melhor e prosseguia no meu caminho, porque era isso que eu tinha de fazer.

E é isso que precisamos fazer agora, deixar essas emoções saírem, extravasar as tensões do corpo. Depois disso, vamos usar nossas máscaras e nos isolar até que tudo fique mais seguro. Não está sendo fácil, mas no final essas medidas de proteção vão ter valido a pena.

Camping à beira da Laguna Islacocha, no Peru
Poderosa, corajosa, independente, musa absoluta
Natalie com a jersey (camisa) da marca americana Machines for Freedom, que apoia ciclistas que celebram a diversidade

 

]]>
0
Colírio na pandemia: as fotos maravilhosas do mais antigo clube de cicloturismo off-road https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/04/21/colirio-na-pandemia-as-fotos-maravilhosas-do-mais-antigo-clube-de-cicloturismo-off-road/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/04/21/colirio-na-pandemia-as-fotos-maravilhosas-do-mais-antigo-clube-de-cicloturismo-off-road/#respond Tue, 21 Apr 2020 19:26:35 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/Chater-John-Arthur-Easter-1973.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2627 Se a pandemia tem nos proibido de pedalar (pelo menos entre os ciclistas sensatos), ainda podemos sonhar com estradas e trilhas desafiadoras e cicloviagens por montanhas longínquas, em aventuras nas quais só importa o prazer libertário que a bike é capaz de proporcionar.

Que o digam os integrantes do Rough-Stuff Fellowship, o mais antigo clube de ciclismo off-road do planeta. Criada em 1955, em Leominster, uma pequena cidade do Reino Unido, quase divisa com País de Gales, a organização possui um dos mais belos e comoventes arquivos de fotos de expedições ciclísticas, desde aquela época até hoje.

Em expedição da Inglaterra à Austrália em 1984, amigos pedalaram de Katmandu ao campo base do Everest (Foto: Cortesia Rough-Stuff Fellowship)

São imagens como estas que você aqui no Ciclocosmo, tiradas por viajantes que há mais de seis décadas perceberam dois pontos essenciais para uma vida feliz: conhecer o mundo em cima de uma bicicleta e, de preferência, por estradas sem pavimentação que cortam terras isoladas e paisagens únicas.

O Rough-Stuff Fellowship surgiu quando Bill Paul, um ciclista de Liverpool, decidiu colocar um anúncio na então revista The Bicycle, conclamando entusiastas de cicloviagens off-road para se unir a ele em um clube. Poucos meses depois, cerca de 40 pessoas se reuniam em um pub em Leominster para o primeiro encontro da organização — que, aliás, funciona até hoje.

Empurra-bike (tandem!) em estradas de terra da Irlanda, em 1955 (Foto: Cortesia Rough-Stuff Fellowship)

Não se tratava de um clube para ultraciclistas que pedalam milhares de quilômetros, muito menos uma instituição para celebrar recordes ou grandes performances atléticas. Era, isso, sim, uma reunião de pessoas comuns, em sua maioria de classe média, com uma enorme paixão por desbravar a Terra de bike. Sem distinção de sexo, como você pode checar nas diversas imagens de mulheres participando das trips.

Pelas fotos (como a de cima), dá para ver como boa parte das expedições era um “empurra-bike” sem fim. Os dois ciclistas que foram pedalando de Katmandu, capital do Nepal, até o campo base do Everest, em 1984, confessaram que pedalaram uns 20% do percurso, empurrando suas bicicletas quase 80% do trajeto restante. Pura aventura da maior qualidade.

Cruzando o rio Maize Beck Crossing Easter, na Inglaterra, em 1966 (Foto: Cortesia Rough-Stuff Fellowship)

Uns dois anos atrás, o clube contratou o arquivista Mark Hudson para cuidar das milhares de imagens que foram sendo colecionadas ao longo das décadas, muitas delas de qualidade surpreendente. Os retratados se mostram cheios de estilo, com suas bikes de ferro de guidão curvo, encarando perrengues sensacionais.

Hudson não só organizou o arquivo como criou uma conta do Rough-Stuff Fellowship no Instagram, o que tem ajudado o clube a ganhar notoriedade e atraído aficionados por viagens desse tipo, em especial após a popularização da modalidade gravel (não sabe o que é? Escrevi sobre isso aqui).

Eram tantas fotos maravilhosas que Hudson decidiu que havia material suficiente para um livro, lançado recentemente no Reino Unido (mais informações aqui).

Parada para descanso na cidadezinha inglesa de Myerscough Smithy, em 1965 (Foto: Cortesia Rough-Stuff Fellowship)

Conversei com Mark Hudson para saber mais sobre esse fantástico clube que, com suas fotos, nos faz lembrar do poder que é ganhar o mundo pedalando (mesmo que tenhamos de esperar em casa até o arrefecimento de uma pandemia).

Quantas fotos possui o arquivo do Rough-Stuff Fellowship? Você tem uma preferida?
MARK HUDSON Há mais de 20.000 imagens, até perdi a conta exata! Uma grande parte é de slides em 35 mm, mas temos também muitas fotos e negativos em preto e branco. Não consigo ter uma imagem preferida, porque há tantas muito boas! E cada uma é envolta em sua história.

Como o arquivo foi se expandindo ao longo das décadas? Ainda há gente que envia fotos?
Tem crescido muito! Eu continuo encontrando fotos antigas que não conhecia, e também estou sempre aberto a receber mais material. Antes de eu me tornar arquivista do Rough-Stuff Fellowship, havia apenas umas 200 imagens disponíveis. Agora temos milhares, além de uma ótima coleção do nosso periódico Rough-Stuff Fellowship, cuja origem data de 1955. E também diários e recortes de jornais e outros tipos de materiais dos membros do clube.

A conta de Instagram do clube surgiu em 2018 e já conta com 18.000 seguidores. O que essas fotos têm que vêm atraindo tanta gente?
Quando eu comecei no arquivo, quis imediatamente compartilhá-lo com pessoas que não faziam parte do clube. A resposta foi incrível. Eu acho que isso aconteceu porque as pessoas das fotos são gente comum que se jogou por aí com suas bikes décadas e décadas atrás. É o tipo de pedal (ou caminhada!) que muitos ciclistas estão fazendo só agora. Espero que os seguidores do nosso perfil se sintam inspirados a viajar e curtir a natureza.

Em 1972, a brabeza de pular uma porteira na Escócia com bike de ferro no ombro (Foto: Cortesia Rough-Stuff)Fellowship)
]]>
0
Brasileiro quer atravessar a Antártida toda de bike https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/29/brasileiro-quer-atravessar-a-antartida-toda-de-bike/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/29/brasileiro-quer-atravessar-a-antartida-toda-de-bike/#respond Fri, 29 Mar 2019 16:34:43 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/Harbin-China-menor-320x213.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2017 Desde a popularização das “fat bikes”, como são chamados os modelos robustos com pneus bem grossos feitos para encarar neve, areia e outros terrenos complicados, a Antártida faz brilhar os olhos de ciclistas expedicionários do mundo todo.

Agora um brasileiro quer tentar uma cicloviagem ambiciosa: pedalar todo o continente antártico, no que seria a primeira travessia de costa a costa. Já houve quem tentasse desbravar a região em duas rodas, porém em geral começavam na costa e iam até o Polo Sul (ver mapa abaixo). Pela primeira vez, um ciclista quer encarar a façanha de ponta a ponta, em uma empreitada de 55 dias e temperaturas que variam de menos 10°C a menos 40°C.

O ciclista em questão é o gaúcho Leandro Martins, 35, que atualmente vive na China, onde dá aulas de inglês para crianças. Não se trata de um novato em aventuras ciclísticas: em 2013, ele pedalou 14.000 km por 18 países, em uma viagem que lhe deu certa notoriedade pelo encontro com o Papa Francisco (leia aqui).

Mas agora a “brincadeira” é mais séria. Aventureiros renomadíssimos, como o explorador polar norte-americano Eric Larsen, já tentaram a proeza, mas precisaram abandonar a viagem. Em 2014, o também norte-americano Daniel Burton conquistou um baita recorde ao pedalar 1.247 km de Hercules Inlet até o Polo Sul geográfico.

O professor brasileiro com sua fat bike em Harbin, na China (Foto: Divulgação)

No caso de Leandro, serão 1.800 km, tendo como ponto de partida a Plataforma de Gelo Ross. De lá, ele ruma para a Geleira Leverett, cruza o Planalto Antártico até alcançar o Polo Sul, em uma jornada de umas três semanas e cerca de 3.000 metros de subida acumulada. Depois são mais cinco semanas, agora com muitos trechos de descida, para atingir o destino final, Hercules Inlet.

Ele planeja pedalar de 30 a 40 km diários, e contará com um carro de apoio para transportar parte dos suprimentos — caso contrário, precisaria carregar mais de 120 kg de bagagem. Mesmo com a ajuda de um veículo, a expedição, se bem-sucedida, será uma das mais duras e corajosas do mundo.

O gaúcho está em fase de finalização dos preparativos, em busca, principalmente, de patrocinadores que queiram auxiliar nos custos da viagem (mais informações sobre isso e outras questões de seu projeto, basta acessar o site Laoshi By Bike: www.laoshibybike.com). “Laoshi” significa “professor” em chinês, e o brasileiro planeja entrar em contato com seus alunos uma vez por semana, para contar sobre as aventuras gélidas.

Leandro no Lago Baikal, na Sibéria, em fase de preparação para a Antártida (Foto: Divulgação)

Bati um papo com Leandro para saber mais sobre essa saga:

Há muitos lugares inóspitos no mundo, incluindo outras áreas geladas e desertos incríveis. Por que a Antártida? Pergunto isso porque fazer expedições por lá custa caro e precisa de muita logística.
LEANDRO MARTINS 
A Antártida é um lugar tão único e especial que parece ser parte de outro planeta. Ouvi de pessoas que já estiveram lá que uma expedição no continente de gelo é uma experiência para toda vida. É claro que o custo logístico de um projeto como esse torna tudo muito mais difícil, mas é aí que a determinação e o trabalho duro fazem a diferença.

Que bike você vai usar, já sabe? Já tem alguma marca de fat bike te patrocinando?
A princípio, usarei uma Momentum, da Giant. Estamos ainda em contato com empresas do setor.

Você contará com um planejamento alimentar. Como será isso?
Nas condições que se enfrenta na Antártida, e pedalando uma média de dez horas por dia, o total de calorias necessárias pode chegar a 7.000. É preciso uma dieta hipercalórica, com paradas para comer de hora em hora, além de duas refeições quentes por dia, no estilo “comida de acampamento”.

Onde vai dormir? Vai levar sua própria barraca? Você terá que tipo de apoio de equipe ao longo da expedição?
Vou acampar todos os dias, assim como serei eu mesmo que fará as atividades de camping, como cozinhar e derreter neve para beber. Se tivesse que carregar todo o suprimento, combustível para cozinhar e equipamentos necessários para me manter ao longo de quase dois meses, teria que carregar comigo algo como 120 kg — o que tecnicamente é impossível. Por essa razão haverá um carro de apoio que levará tudo isso e que levará apenas o motorista e uma equipe de TV (que vai fazer um documentário). Mas não contarei com nenhuma ajuda deles. É uma expedição solo.

Quais seus maiores receios para essa travessia?
Primeiramente as condições meteorológicas, por serem muito imprevisíveis. E, depois, acho que ser levado ao meu limite físico por um período tão longo de tempo será um grande desafio.

Quantos quilômetros por dia imagina percorrer para completar os 1.800 km?
Estou prevendo uma média de 30 a 40 km por dia. Pedalar na neve requer um maior esforço físico e se alcança uma média de velocidade muito menor do que pedalando em qualquer outro terreno. Lembro que durante minha viagem de bike pelo mundo eu pedalava uns 100 km diariamente. Na Antártida, estarei feliz de conseguir fazer 30 km sob condições tão adversas.

Já pedalou em um lugar com temperaturas extremamente baixas antes? Onde?
Nos últimos dois anos, participei de treinamentos e expedições em regiões com temperaturas e condições semelhantes às da Antártida. Estive no Norte da China, na Rússia, fiz um treinamento polar com profissionais na Noruega. Também realizei uma expedição solo atravessando o lago Baikal, na Sibéria, onde por dez dias enfrentei temperaturas em torno de 30 °C negativos e ventos que chegaram a 127 km/h. E sempre acampando, derretendo neve para beber e cozinhar, com uma rotina muito próxima do que será a expedição na Antártida.

]]>
0
Guia das maiores Clássicas de Primavera https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/15/guia-das-maiores-classicas-de-primavera/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/15/guia-das-maiores-classicas-de-primavera/#respond Fri, 15 Mar 2019 19:27:33 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/c98b4-320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2000 Enquanto as Grandes Voltas (Giro d’Italia, Tour de France,Vuelta a España) não chegam, o calendário do ciclismo de estrada 2019 começa a se eletrizar com as Clássicas de Primavera, na Europa. Tratam-de de provas mais curtas que as voltas em etapas, em geral de um dia de duração, e que oferecem ao público algumas das mais emblemáticas cenas desse esporte.

Tradicionais (algumas com mais de 100 anos), costumam misturar dificuldades extremas ao longo de percursos implacáveis, que incluem trechos de terra e/ou paralelepípedo, além de subidas de lascar. Muitos astros do ciclismo, como o eslovaco Peter Sagan, adoram participar, o que deixa essas competições ainda mais imperdíveis.

Sangue, suor e lágrimas fazem parte do roteiro de provas como Paris-Roubaix, na França, e Tour de Flanders, na Bélgica. Subidas terríveis são as protagonistas, como o Mur de Huy, que faz parte da também belga La Flèche Wallonne — uma ladeira horripilante de 1,3 km com média de 9,8% (como o ciclismo classifica o grau de dificuldade das subidas) e um trecho absurdo de 25%, íngreme para dedéu. O público europeu vibra como jogos de futebol por aqui: gritos, cartazes, gente fantasiada, cerveja e muita animação caracterizam a torcida presente nos acostamentos.

Em São Paulo, cafés com temática de bike como o King of the Fork, o Velo 48 e o Lanterne Rouge sempre contam com amplas TVs passando várias das Clássicas ao vivo. Chame os amigos, peça um bom cafezinho e curta essas batalhas de titãs em duas rodas, em algumas das mais belas rotas europeias.

A seguir, preparei um guia com informações e datas das principais Clássicas de Primavera para você não deixar de participar dessa festança. Algumas importantes, como a italiana Strade Bianche, já rolaram, por isso fique de olho para não perder as outras. A lista segue em ordem cronológica:

MILÃO-SANREMO

Quando: 23 de março
Onde: Itália
Por que assistir: Com mais de 100 anos de idade, é uma das cinco “Monumentais” Clássicas de Primavera, como são chamadas as provas mais longas e importantes desta época. O percurso tem 291 km, pelo qual já pedalaram mitos como o belga Eddy Merckx, o maior vencedor da competição até hoje, com sete títulos. Apesar de a maior parte do trajeto não ser de grande dificuldade, os quilômetros finais cortam duas subidas duras, terminando em uma descida traiçoeira na qual os mais ambiciosos arriscam a vida para pisar no pódio. Como se tudo isso não bastasse, a prova passa por cinematográficas paisagens italianas.

GHENT-WEVELGEM

Quando: 31 de março
Onde: No berço do ciclismo de estrada, na região de Flanders, na Bélgica
Por que assistir: Com extenuantes 251 km, a prova te dá a chance de ver grandes ídolos quase sempre encharcados de chuva, morrendo de frio e lutando para vencer estradas sinuosas. Trata-se de uma competição boa para sprinters (velocistas), pois não conta com tantas subidas assim — porém algumas são de chorar, como a Kemmelberg, de paralelepípedo, 1,3 km de extensão e gradiente que chega a 23%. Apesar de ficar a uns 30 km da linha de chegada, a Kemmelberg é um ponto estratégico, que separa “os homens dos meninos”, como se diz no ciclismo.

TOUR OF FLANDERS (ou RONDE VAN VLAANDEREN)

Quando: 7 de abril
Onde: Bélgica
Por que assistir
: Pergunte a um belga qual o dia da primavera mais legal de todos, e quase sempre a resposta será a data do Tour de Flanders. A “Ronde” está na 103o edição, e em seus quase 268 km rolam algumas dos momentos mais históricos do ciclismo. Muitos apontam-na como a mais dura das Clássicas, devido a seus trechos íngremes de paralelepípedo e clima miserável típico da Bélgica. Subidas como a de Bosberg já entraram para as lendas do esporte, sendo palco de duelos fantásticos de nomes como Tom Boonen e Fabian Cancellara (ambos com três vitórias no evento).

PARIS-ROUBAIX

Quando: 14 de abril
Onde: França
Por que assistir
: Que os belgas me desculpem, mas não há Clássica como a Paris-Roubaix. Conhecida como o “Inferno do Norte”, teve a primeira edição em 1896 e até a celebrity eslovaca Peter Sagan já penou para vencê-la, em 2018. Seus trechos de paralelepípedo, que levam à fronteira com a Bélgica, se tornaram mundialmente famosos. O final é triunfal: para completar o trajeto de 257 km — sendo 54 km de paralelepípedo –, é necessário dar voltas no Velódromo de Roubaix, onde os competidores precisam ter energia para o sprint derradeiro. Desde sua criação, foram vitoriosos 56 belgas, contra 30 franceses. A foto acima, da mão de um dos ciclistas após a prova, mostra o sofrimento que é pedalar em trechos de pavés trepidantes. Se tiver que escolher uma Clássica para ver neste ano, fique com esta.

AMSTEL GOLD RACE

Quando: 21 de abril
Onde: Holanda
Por que assistir
: Na terra dos Países Baixos, cerca de 30 curtas subidas íngremes dão o tom a essa prova relativamente “nova”, inaugurada em 1966. A marca de cerveja Amstel é a patrocinadora do evento desde sua primeira edição. O percurso já mudou bastante ao longo dos anos, mas costuma ter por volta de 260 km. Uma boa nova é que, desde 2017, após um intervalo de 14 anos, acontece uma versão feminina da competição. O maior vencedor de sua história foi o holandês Jan Raas, com cinco títulos.

LA FLÈCHE WALLONNE

Quando: 24 de abril
Onde: Bélgica
Por que assistir
: Uma das mais prestigiosas Clássicas é também uma das mais difíceis. São quase 196 km, culminando no belga Mur de Huy, citado no começo deste texto. Curiosidade: a prova sempre acontece em uma quarta-feira, para que os ciclistas tenham alguns dias para se recuperar antes de outra Spring Classic renomada, a Liège–Bastogne–Liège. Em seu pódio, já pisaram nomes como Eddy Merckx, Bernard Hinault, Fausto Coppi e, mais recentemente, Cadel Evans e Alejandro Valverde (seu maior ganhador, com cinco vitórias). Paisagens rurais misturam-se a vilarejos e construções históricas — se for passar férias na Bélgica, considere visitar o país na época do evento, para ver de perto a alegria dos locais na torcida por seus ídolos.

LIÈGE–BASTOGNE–LIÈGE

Quando: 28 de abril
Onde: Bélgica
Por que assistir
: Parte das Cinco Monumentais, a prova é carinhosamente chamada de a “Velha Senhora”, por ser uma das mais antigas — sua primeira edição se deu em 1892. São 256 km de pura emoção. Muitos entusiastas apontam-na como a Clássica mais casca-grossa de todas. Após seguir para Bastogne, os corajosos competidores pagam seus pecados no retorno a Liège, quando enfrentam mais dez subidas ferozes, quase sempre longas e íngremes. No YouTube você pode achar cenas antigas de Eddy Merckx (seu maior vencedor) e outras lendas dando tudo de si para completar o evento.

]]>
0
Zine retrata o amor do Japão pelas bikes https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2018/10/03/zine-retrata-o-amor-do-japao-pelas-bikes/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2018/10/03/zine-retrata-o-amor-do-japao-pelas-bikes/#respond Wed, 03 Oct 2018 18:45:04 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/000495200015-320x213.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=1820 O paulista Ricardo Ampudia, 34, voltou de uma viagem ao Japão com mais de 300 fotos mostrando a íntima relação dos habitantes daquele país com a bike.

O jornalista e designer tinha uma ideia da forte ligação dos japoneses com a bicicleta, porém se surpreendeu ao perceber como a magrela está intrinsicamente inserida no dia a dia de quem vive em cidades como Tóquio.

Após um extenso processo de seleção das imagens, a experiência acabou se transformando no zine “Jitensha – Um jornada visual pela cultura da bicicleta no Japão” (“jitensha” significa bicicleta em japonês).

Com um bonito design gráfico, a publicação de 30 páginas mostra o peculiar estilo japonês de quem se desloca em duas rodas nas cidades nipônicas, as pilhas de bike estacionadas por todas as partes, os habitantes despretensiosamente despreocupados com o olhar estrangeiro de Ampudia e sua câmera.

Feito artesanalmente, “Jitensha” pode ser encomendado por R$ 25, diretamente com o autor, pelo email riampudia@gmail.com.

A seguir um bate-papo com Ampudia sobre sua encantadora publicação, que nos faz querer viajar para a Ásia e passear de bicicleta pelas ruas estreitas e avenidas do Japão.

Como você teve a ideia de fazer um zine a partir de sua viagem?
RICARDO AMPUDIA Na verdade, eu já tinha pensado nisso antes de viajar. Sabia que no Japão havia uma cultura de bike muito forte, e fui pensando em retratar isso quase como uma pesquisa etnográfica. O zine foi o produto final após bater mais de 300 fotos.

O que mais te agradou no Japão em relação ao povo e à bike?
Acho que a naturalidade com que a bicicleta se inclui na cidade e na vida das pessoas. Não é como um esporte, uma cultura urbana ou ativismo; no Japão, andar de bike revela-se natural como pegar um trem ou um carro

Como você abordava as pessoas a serem fotografadas?
Eu não abordava ninguém. Queria retratar essa naturalidade, então ficava sempre atento para boas cenas e composições. A maioria das imagens foi tirada com o celular, então era algo de sacar uma cena e fazer a foto. A barreira da língua é muito difícil por lá. Pouca gente fala inglês, os japoneses são muito prestativos e educados, porém não muito abertos.

Gosto muito da foto da mãe com a criança e compras. Esse tipo de bicicleta é muito comum lá. Na frente das escolas infantis, há estacionamento em fila dupla de mamacharis. É incrível porque não traz aquela consciência de “temos um filho, precisamos de um carro”, mas sim “temos um filho, precisamos de uma bike maior”.

Eu estava na fila do mercado quando vi a cena e fiz a foto dali mesmo, usando a porta de moldura.

Também gosto da que está na capa. Era na ilha de Naoshima, bem conhecida por seu um museu a céu aberto. A foto mostra só um pescador no fim do expediente, pegando a magrela e voltando para casa, traduzindo bem a naturalidade do transporte lá.

Que outras coisas te impressionaram por lá sobre as bikes?
Os bicicletários públicos. No Japão, há muita infraestrutura para bicicleta, você encontra estacionamento por todos os lados, muita sinalização de onde pode e onde não pode andar e parar. Entrei em um bicicletário em Uno que tinha dois andares, abarrotado de magrelas. Para quem fica carregando dois cadeados para prender bike em poste em São Paulo, escorre até uma lagriminha…

Você se inspirou em algum outro projeto semelhante para fazer o zine?
Eu leio bastante sobre bikes e também adoro fotolivros e fotografia em geral. Não me inspirei em nada específico, mas eu gosto muito do trabalho da Copenhagenize, que estuda a bike por essa perspectiva urbanística e cultural.

Você pedala há quanto tempo?
Pouca gente começa a pedalar adulto, então é mais correto dizer que eu voltei a pedalar há uns 12 anos. Eu tinha saído da faculdade e o único esporte fazia era rolar no sofá. Comecei a procurar bicicletas e achava tudo muito caro, até que passei em uma bicicletaria de bairro e um cara estava se desfazendo de uma Caloi 10. Andar em uma bike de estrada pela primeira vez é como explodir sua cabeça para um universo novo. Nunca mais parei.

]]>
0
Transcontinental Race: o ultradesafio de bike mais difícil e bacana do mundo https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2018/07/30/transcontinental-race-o-ultradesafio-de-bike-mais-dificil-e-bacana-do-mundo/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2018/07/30/transcontinental-race-o-ultradesafio-de-bike-mais-dificil-e-bacana-do-mundo/#respond Mon, 30 Jul 2018 17:28:35 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/James-Robertson--320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=1684 A mais dura competição de ciclismo de longa distância do mundo é também uma das mais undergrounds, originais, anárquicas (no bom sentido) e incríveis que já foram criadas.

A sexta edição da Transcontinental Race começou neste domingo, 29 de julho, com largada na Bélgica e chegada na Grécia. Durante o desafio, os 260 participantes provavelmente pedalarão cerca de 3.900 km e subirão mais de 35 mil metros de ladeiras, em um evento transgressor em que cada um escolhe sua própria rota. Uma das únicas regras é passar por quatro Postos de Controle (que, neste ano, serão na Áustria, Eslovênia, Polônia e Bósnia-Herzogóvina).

Na Transcontinental, o ciclista precisa ser 100% autossuficiente, carregando consigo tudo o que é necessário e sem contar com equipe ou carro de apoio.

Bjorn Lenhard na Transcontinental 5, em 2017 (Foto: James Robertson)

Não se trata de uma prova em etapas, com horário de largada diário. A Transcontinental, como explica a própria organização, está mais para um contra-relógio individual de dias e dias: após a largada, o relógio não para nunca. Não há data limite para cumprir: vence quem primeiro chegar à Grécia. O atleta tem de fazer todo o percurso com a força das próprias pernas — caronas em balsas, por exemplo, precisam ser previamente aprovadas pela organização.

A prova de 2018 é particularmente delicada: é a primeira edição que não foi organizada e executada por Mike Hall, o ciclista gênio que criou a Transcontinental. Mike foi morto em 2017, ao ser atingido por um carro enquanto competia na Indian Pacific Wheel, na Austrália.

“Nosso objetivo é zelar para que a Transcontinental continue como Mike imaginava: um desafio ciclístico inovador, feito por ciclistas para ciclistas”, diz a equipe que toca hoje a competição, que prossegue com seu estilo low profile, sem grandes patrocinadores, mantendo uma aura cool e irreverente.

Largada de edição passada, em Muur van Geraardsbergen, na Bélgica (Foto: Camille McMillan)

Os competidores pedalam solo ou em dupla, e podem traçar a rota que quiserem. No site da prova, um mapa vai mostrando a posição de cada um em tempo real.

Trata-se de um esforço brutal. No ano passado, dos 283 ciclistas inscritos, apenas 143 completaram. Mike Hall havia morrido poucos meses antes da largada, e o clima geral era de tristeza, apesar de o time da prova ter decidido que ela aconteceria. Nas primeiras horas da edição da Transcontinental 5, o estreante Frank Simons também foi morto ao ser atingido por um veículo. A chefia optou por não cancelar o evento.

O primeiro a cruzar a linha de chegada foi James Hayden, em 9 dias, 2 horas e 14 minutos. Ele pedalou diariamente mais de 400 km, carregando a própria bagagem! A primeira mulher foi Melissa Prichard, em 13 dias, 2 horas e 29 minutos (que venceu mais de 300 km diários durante esse tempo).

Neste vídeo, da edição do ano passado, dá para ter uma ideia da atmosfera mágica da Transcontinental:

O Brasil já esteve presente na prova, em 2016, com Vinicius Martins, que tem encarado diversos ultradesafios ciclísticos nos últimos anos.

Se você curte bike, mesmo que de outra modalidade, tente acompanhar a Transcontinental ao longo dos próximos dias. As fotos são particularmente belas — o Instagram deles é @thetranscontinental. No Facebook (/transconrace/), há postagens diárias de informações e fotos.

Sorte e diversão aos competidores valentes da Transcontinental 2018!

 

 

]]>
0
Triplo Stelvio desafia ciclistas a escalar todas as faces da mais famosa montanha da Itália https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2018/02/16/triplo-stelvio-desafia-ciclistas-a-escalar-todas-as-faces-da-mais-famosa-montanha-da-italia/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2018/02/16/triplo-stelvio-desafia-ciclistas-a-escalar-todas-as-faces-da-mais-famosa-montanha-da-italia/#respond Fri, 16 Feb 2018 15:19:32 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/charity-150x150.jpg http://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=1345 Não se trata da montanha mais dura da Itália — um dos berços do ciclismo mundial –, mas certamente o Stelvio figura entre as mais míticas. Suas curvas sinuosas estão entre as mais fotografadas, e pedaladas!, do planeta. Como bem lembrou o ótimo site Cyclist, foi no Stelvio, a “jóia dos Alpes orientais”, que ocorreram algumas das cenas mais triunfais desse esporte. Em 1953, por exemplo, quando a montanha entrou para o circuito das Grandes Voltas, a lenda italiana Fausto Coppi deu ali um de seus mais famosos ataques, deixando o então líder da competição para trás e vencendo a etapa por mais de 3m30s de vantagem (e assegurando sua quinta e última vitória na prova). Por isso, o topo do Stelvio também é conhecido como “Cima Coppi”, e os italianos até hoje idolatram essa façanha.

Hordas de ciclistas, incluindo centenas de brasileiros, rumam para o Stelvio no verão europeu. Em geral, sobem por uma das faces da montanha, o lado de Bormio, em uma escalada de 21,5 km e 1.533 metros de altimetria. Mas há duas outras faces que levam ao cume, localizado a 2.758 metros de altitude. Criado em 2017, um desafio peculiar convoca corajosos ciclistas de estrada a pedalar as três subidas que levam ao topo do Stelvio — tudo no mesmo dia!

As míticas curvas do Stelvio povoam os pensamentos de ciclistas do mundo todo  (Foto: Divulgação)

Batizado de Triplo Stelvio, o evento não é uma prova, mas sim uma celebração do amor que todos nós que pedalamos de “speed” sentimos por monumentos como as montanhas italianas. Marcado para o próximo dia 26 de junho, o desafio tem, no total, 130 km e 4.600 de altimetria. Os participantes partem às três da matina, para conseguirem ver o nascer do sol no cume após a primeira escalada do longo dia.

Depois de Bormio, é a vez da face de Prato, uma escalada de 25,4 km e altimetria de 1.842 metros. Por último, vem o lado de Santa Maria, com “meros” 15,4 km e altimetria de 1.372 metros. Uma “vantagem” é que o Stelvio não apresenta subidas demasiadamente íngremes, com no máximo 14% (no lado Bormio). Isso, no entanto, não tira em nada o mérito de quem topa encarar tamanho esforço físico e tantas horas em cima da bike.

Parte do grupo que fez o Triplo Stelvio em 2017 (Foto: Divulgação)

O Triplo Stelvio foi criado pela Polisportiva Sanmaurese, uma associação europeia que organiza expedições ciclísticas. A primeira edição, em 2017, foi apenas para convidados, e neste ano é aberta a quem quiser se inscrever (mais informações aqui). É ainda um evento pequeno, mas que tem tudo para ganhar os corações de ciclistas de vários países (incluindo, claro, o Brasil).

Nos Alpes orientais, não há montanha mais famosa que o Stelvio (Foto: Divulgação)
]]>
0