Ciclocosmo https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br Um blog para quem ama bicicletas Thu, 02 Dec 2021 18:10:08 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Ciclocosmo agora tem novo endereço na Folha https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/12/02/ciclocosmo-agora-tem-novo-endereco-na-folha/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/12/02/ciclocosmo-agora-tem-novo-endereco-na-folha/#respond Thu, 02 Dec 2021 18:08:46 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=3366 Caro leitor,

Este blog continua na Folha, mas, agora, em um novo endereço. Acesse www.folha.com/blogs/ciclocosmo para continuar lendo tudo que o Ciclocosmo publica.

Os textos já publicados permanecerão neste espaço para serem lidos e relidos.

Clique a seguir para ler o novo texto do blog:

Alto fluxo de ciclistas demanda ciclopassarela sobre o Pinheiros

 

]]>
0
Santander passa a apoiar Avancini, e bike vira foco de grandes marcas https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/05/24/santander-passa-a-apoiar-avancini-e-bike-vira-foco-de-grandes-marcas/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/05/24/santander-passa-a-apoiar-avancini-e-bike-vira-foco-de-grandes-marcas/#respond Mon, 24 May 2021 17:07:27 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/Avancini-320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=3088 Muito já se falou sobre como a bike vem conquistando um novo espaço com a pandemia, aqui e lá fora. Meio de transporte limpo e que não gera aglomeração, a bicicleta tem visto boom de usuários em diversas cidades dos EUA, Europa e em muitos países da Ásia e América Latina.

O ano de 2020 foi de crescimento recorde para o mercado mundial de bikes (inclusive de elétricas), com tendência semelhante no Brasil –que, segundo a Aliança Bikes, teve salto de 50% nas vendas em relação a 2019. (Uma pena que o país enfrenta falta de peças, com dificuldade para normalizar a produção e lista de espera de consumidores querendo produtos novos ou usados.)

Se no passado era osso conseguir marcas fora do setor que topassem participar do desenvolvimento do mercado de bikes no Brasil, agora o cenário vem mudando de forma surpreendente.

Nesta segunda-feira (24/maio), por exemplo, o Santander anunciou seu apoio oficial ao brasileiro Henrique Avancini, maior nome do mountain bike nacional, primeiro do ranking mundial e favorito a medalha em Tóquio. Mas suas iniciativas envolvendo bicicleta não param por aí.

O banco, que hoje já é parceiro da Ciclovia da Marginal Pinheiros, em São Paulo, também estará presente no futuro Parque Linear na margem oeste do rio. O parque —sobre o qual escrevi aqui— ganhou recentemente o nome de Bruno Covas, em homenagem ao prefeito morto no dia 16 de maio. Como parte da parceria, o banco tem hoje na ciclovia uma parada para descanso –modelo que será adotado em outras cidades do país, como Belo Horizonte.

Além disso, a instituição passa a oferecer seguro de vida com proteção contra acidentes de bike, e seguro residencial com cobertura de roubo e furto de bicicletas. E os correntistas terão até mesmo 30 dias de pacote premium pago do aplicativo Strava, o queridinho dos ciclistas brasileiros, que hoje são a segunda nacionalidade com maior número de usuários do app (nunca ouviu falar? Escrevi sobre o assunto aqui).

“Quando assumimos a ciclovia, no período pré-pandemia, a bike ainda era um assunto distante em muitos círculos de empresas”, diz Michel Farah, da Farah Service, que passou a administrar a ciclovia do rio Pinheiros a partir de 2020, atraindo a iniciativa privada para investir ali. “Com os meses, fomos percebendo o crescimento do interesse pela ciclovia e pela bike em geral de marcas gigantes, coisa que nunca imaginamos antes.”

As próprias melhorias na ciclovia e a expansão de público no local contribuíram para despertar a atenção de empresas de peso, como Sabesp, Caloi, Strava, Smart Fit e a gigante Sherwin-Williams.

A ciclovia do rio Pinheiros ganhou café, iluminação e outras melhorias (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress)

A descoberta do poder de marketing da bicicleta chegou até ao banco Safra. Recentemente, foi lançada uma campanha publicitária ligando a precisão e a tecnologia do ciclismo de estrada aos fundos de investimento da empresa. Veja só que doideira:

Que esses novos ventos empurrem cada vez mais bicicletas para as ruas do Brasil. Que o interesse de grandes empresas seja genuíno e que vá muito além de um peça de publicidade ou jogada de marketing. O país precisa desesperadamente de políticas públicas –e de grana do setor privado– para expandir a cultura da bike e colocá-la de vez no centro da revolução que nossas cidades merecem.

 

 

]]>
0
Tour de Serra Leoa enche o mundo do ciclismo de graça e esperança https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/04/16/tour-de-serra-leoa-enche-o-mundo-do-ciclismo-de-graca-e-esperanca/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/04/16/tour-de-serra-leoa-enche-o-mundo-do-ciclismo-de-graca-e-esperanca/#respond Fri, 16 Apr 2021 20:47:59 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/sprintfaces-320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=3073 Há não muito tempo, Serra Leoa, na África Ocidental, era sinônimo de palavras sinistras como guerra civil, crianças-soldado, estupro em massa, tráfico de diamantes.

O país até “fez sucesso” em Hollywood, servindo de pano de fundo para o filme “Diamante de Sangue”, protagonizado por Leonardo DiCaprio e mostrando a guerra civil que durou 11 anos, matou centenas de milhares de pessoas e resultou em mais de 2 milhões de refugiados e deslocados internos (quando alguém precisa fugir de casa, mas não cruza as fronteiras de sua nação).

Passados os anos, Serra Leoa continua miserável, mas já tem um Tour de ciclismo inacreditavelmente sensacional para chamar de seu — e esse é um dos sinais de que o país vem aos poucos se recuperando emocionalmente dos traumas de uma das guerras mais sangrentas da África.

O Tour de Lunsar começou nesta semana, com competições femininas e de atletas juniores. Nesta sexta-feira (16 de abril) teve início a prova masculina, que segue elevando a auto-estima nacional e empolgando o mundo ciclístico até o dia 18.

A alegria de quem ama uma corrida de bike <3 (Foto: Matt Grayson)

Não se trata de um Tour profissional, com bikes caras e ciclistas famosos, muito menos cobertura internacional da mídia. Estamos falando de uma volta de ciclismo de estrada humilde, em que os competidores vestem roupas doadas e pilotam bicicletas que já viram dias melhores. E cujo público frequentemente mal tem o que comer.

Mas é aí que reside a imensa beleza desses eventos africanos, como o Tour du Faso (em Burkina Faso, sobre o qual já escrevi aqui), o Tour de Ruanda (leia mais aqui) e o Tour de Camarões.

Tratam-se de competições feitas graças ao colossal esforço nacional de quem adora bike e corridas, como o Lunsar Cycling Team (que já foi tema deste blog), protagonizadas por ciclistas locais que não possuem grana para comprar equipamentos, mas isso pouco importa: ao amor por pedalar supera qualquer dificuldade.

Muito suor e batalhas épicas na prova dos juniores (Foto: Matt Grayson)

O Tour de Lunsar, que é o maior evento de bike de Serra Leoa, acontece longe da capital, Freetown. Lunsar tem cerca de 36.000 habitantes e vive da mineração.

Se você procurar “Lunsar” no Google Images, vai ter uma ideia do quão significativo é fazer com que toda uma cidade vibre ao som de bikes, em um ambiente que já sofreu de surtos de ebola a exércitos de crianças carregando armas e matando gente.

Com 7,8 milhões de habitantes, Serra Leoa contabilizou até agora apenas 4.000 casos de covid-19 e 79 mortes em decorrência da doença. Os baixos números se devem em grande parte ao isolamento do país, cuja fama ainda está ligada à violência e ao caos social.

Observe a largada e reflita se esse não é o Tour mais bacana do momento (Foto: Matt Grayson)

Sem reconhecimento oficial da União Ciclística Internacional (a UCI, órgão que coordena ciclismo mundial), devido a uma série de confusõespolíticas internas, Serra Leoa mal tem federação nacional para representar seus atletas. Como resultado, a UCI ignora um dos Tours mais divinos do continente africano — já tão mal contemplado por eventos e empresas de bike.

Mas o Tour de Lunsar vem atraindo simpatizantes mundo afora, como a Le Col, marca sofisticada de roupas de ciclismo, baseada em Londres. Para apoiar a competição, a Le Col tem feito lindos caps (bonés para pedalar) e jerseys (camisas de ciclistas) celebrando a prova, com renda revertida para os organizadores em Serra Leoa.

Além disso, a renomada marca de suplementos esportivos SIS (Science in Sport) é a grande patrocinadora.

Foco, garra e amor pela bike no Tour de Serra Leoa (Foto: Matt Grayson)

Obviamente que o Tour de Lunsar não vai ser exibido em uma ESPN da vida. Mas você consegue acompanhá-lo via Instagram do Lunsar Cycling Team, que vai te presentear com vídeos e stories fascinantes (não olhe apenas para os atletas, para não perder vendedores de bananas com bacias na cabeça passando do lado dos corredores com olhares curiosos).

Ver esse Tour, mesmo que só pelo celular, vai te colocar um sorriso no rosto, acendendo uma bela ponta de esperança no seu coração. Sim, o ciclismo e o amor pela bike ainda vivem, quase sempre nos cantos mais improváveis do mundo. Lá bicicletas milionárias e roupas de grife não existem, porém sobra paixão, que é o que realmente importa.

]]>
0
Filme mostra que tamanho do corpo pouco importa para quem ama pedalar https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/30/filme-mostra-que-tamanho-do-corpo-pouco-importa-para-quem-ama-pedalar/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/30/filme-mostra-que-tamanho-do-corpo-pouco-importa-para-quem-ama-pedalar/#respond Tue, 30 Mar 2021 12:53:52 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/abob1-1200x675-320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=3058 O novo documentário “All Bodies on Bikes”, lançado nesta semana, joga na nossa cara um dos maiores preconceitos no universo da bike: pessoas gordas — ou, como gostamos de chamar de maneira fascistinha, “acima do peso” ou “fora de forma”, como se existissem um peso ideal e um condicionamento certo a ser atingido.

O filme, produzido pela sempre competente produtora norte-americana Sweetgrass Productions, tem apenas 13 minutos, mas cada segundo que passa nos enche de emoção e esperança: enfim, os tempos estão mudando e já passa da hora de acelerarmos nossas bicicletas e deixar a gordofobia para trás. Chega!

“All Bodies on Bikes” é estrelado por Marley Blonsky, cicloativista que já liderou o movimento With These Thighs (Com Estas Coxas), que defende a diversidade de corpos na bike (entrevistei-a para este blog, leia mais aqui), e Kailey Kornhauser, que esteve na capa da revista Bicycling proclamando que “every body is a cycling body” (todo corpo é um corpo para se pedalar).

Bem produzido, com cenas lindas de uma cicloviagem de dois dias que a dupla fez recentemente pelo estado do Oregon (USA), o curta-metragem dá um tapa na cara de nós, que em gigantesca maioria acredita que ser um bom ciclista significa, sempre, ser magro.

“Ser rápido não é o que te faz ser um ciclista experiente’, diz Kailey no filme. “Para ser ciclista, você só precisa ser uma pessoa que pedala uma bike.” Simples assim.

Kailey, aliás, dá belíssimos depoimentos ao longo do documentário, cutucando a ferida desse problema: por que associamos gordura com sentimentos negativos? Por que achamos quase sempre que ser gordo é ser preguiçoso, feio?

Ela revela ainda que, por um longo tempo, usou a bike como forma de punição; era preciso sofrer para conseguir o corpo desejável. Pedalar virou parte da obsessão de queimar calorias, assim como uma perigosa restrição alimentar que a deixava com tonturas e vertigens.

Um dia, Kailey contactou Marley, atraída pela desenvoltura com que esta pedalava, sem vergonha do próprio corpo e mandando um baita recado para nossa sociedade doente: ela não estava ali para “consertar” seu corpo, muito menos para fazer com que parecesse menor.

Juntas, a dupla resolveu lutar pela inclusão no universo da bike. Ao final do filme (assista abaixo, na íntegra), elas se unem a outros ciclistas gordos, em um pelotão admirável de corpos “fora do padrão” — que pedalam por amor à bike, por diversão e para nos fazer entender que todos nós, sem exceção, podemos e devemos sentir o prazer inenarrável que a bicicleta nos proporciona.

]]>
0
Obrigada, mulheres que nos inspiram a pedalar sempre em frente https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/08/obrigada-mulheres-que-nos-inspiram-a-pedalar-sempre-em-frente/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/08/obrigada-mulheres-que-nos-inspiram-a-pedalar-sempre-em-frente/#respond Mon, 08 Mar 2021 13:17:34 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/image-320x213.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=3043 No Dia Internacional da Mulher, não tem como a gente não lembrar de algumas manas que, em cima da bike e fora dela, nos inspiram a pedalar sempre em frente, a não levar desaforo para casa, a seguir vencendo as pirambas da vida e, principalmente, a jamais desistir.

Nos últimos anos, cresceu vertiginosamente o número de mulheres que viram na bicicleta uma ferramenta de transformação, seja fazendo esporte ou se locomovendo pelas cidades. O Brasil não ficou de fora dessa tendência: por aqui, vemos cada vez mais mulheres vencendo seus medos para praticar um ato de coragem absurda: pedalar neste país machista, violento e onde governantes e motoristas ainda relutam em admitir o poder que tem a bike de mudar vidas e nações inteiras.

Seria impossível colocar aqui todas as mulheres que vêm me inspirando nestes anos, mas fiz uma seleção muito pessoal de minas que me surpreendem a cada dia. Muitas delas já deram entrevista aqui neste Ciclocosmo, sempre atento à importância dessa luta para todas nós.

Marina Kohler Harkot
Ah, Marina… você não podia faltar nesta lista. Cicloativista e pesquisadora arretada sobre mobilidade, a ciclista morreu aos 28 anos, em novembro de 2020, quando pedalava em São Paulo. O motorista José Maria da Costa Junior, de 33 anos, estava bêbado quando a atingiu. O Brasil perdeu, assim, não apenas uma lutadora pelos direitos de quem pedala, mas um talento brilhante em entender que as cidades devem ser pensadas para as pessoas, e não para os carros. Marina se foi, porém sua lembrança ficará sempre conosco. Feliz dia da mulher, Marina!

Galera sensacional da TransEntrega
Não adiantar tentar entrevistar a equipe dessa iniciativa incrível de entregador@s de São Paulo — já tentei várias vezes, e nada. Pouco importa: assim como projetos semelhantes, entre eles o Señoritas Courier, o TransEntrega é um serviço de bike messenger formado pela comunidade LGBTQI+ consciente não apenas sobre seu valor na sociedade, mas sobre questões de sustentabilidade e responsabilidade social e ambiental. Tem de ser muuuuuito valente para ocupar esse espaço numa cidade como São Paulo — e ainda fazer isso em cima de uma bicicleta.

Bugesera Women Cycling Team
Criado em 2020 em Ruanda, na África centro-oriental, a equipe de ciclismo feminina surgiu no interior desse país devastado por um genocídio em 1994 que acabou com a vida de cerca de 800 mil pessoas. Como já explique neste blog (leia aqui), Ruanda é um exemplo de como a bicicleta pode ajudar a acabar com rivalidades étnicas e reerguer a autoestima de um país inteiro. Ver uma equipe de meninas num distrito isolado de uma nação que ainda pena para cicatrizar as feridas do passado é algo de uma beleza emocionante. O jornal ruandês The New Times fez um vídeo bem legal com as atletas:

Juliana Hirata
Essa intrépida bióloga paulista está pedalando sozinha do Alasca até a Argentina desde 2016 (já escrevi sobre ela aqui). Juli não possuía experiência prévia com cicloviagem, mas tinha dentro de si uma vontade enorme de entender melhor o continente americano, em especial a América Latina. Viaja apenas com sua bagagem, um sorriso no rosto e um coração gigante, sempre pronto a ajudar quem precisa. Juli Hirata me inspira a não deixar que o amor pela aventura ciclística se apague, mesmo em tempos de pandemia.

Erica Elle, do Level Up Cycling Movement
A norte-americana Erica Elle se encantou pela bike, porém logo percebeu que havia bem pouco acolhimento para pessoas como ela — mulher, negra e amadora. Em vez de guardar a bike na garagem e desencanar de se “meter onde não é chamada”, ela criou o Level Up Cycling Movement (leia mais aqui), para ampliar o espaço de negros (mulheres e homens) no universo do ciclismo. O projeto organiza pedais com foco na diversidade, ensina pessoas a começar a pedalar e espalha a ideia de que a bike é para todos, independentemente de gênero, classe social, raça etc.

Talita Noguchi, do Las Magrelas e Chave Quinze
Impossível pensar na força de uma mulher e sua bike e não citar Talita Noguchi. Sua bicicletaria Las Magrelas, em São Paulo, tornou-se um ponto de encontro da diversidade, onde mulheres, lésbicas, trans, gays e toda a comunidade LGBTQI+ pode chegar, tirar dúvidas, fazer amizades, arrumar algum problema mecânico e — principalmente — se sentir em casa. Além de sua bike shop, Talita também faz parte do maravilhoso projeto Chave Quinze, que há anos posta vídeos com tutoriais de mecânica de bike.

]]>
0
Rio Pinheiros vai ganhar parque linear com ciclovia na margem oeste https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/01/12/rio-pinheiros-vai-ganhar-parque-linear-com-ciclovia-na-margem-oeste/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/01/12/rio-pinheiros-vai-ganhar-parque-linear-com-ciclovia-na-margem-oeste/#respond Tue, 12 Jan 2021 20:48:06 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/15629706165d2909f89f0fd_1562970616_3x2_md-1-320x213.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=3016 Ótima notícia para os paulistanos: a margem oeste do rio Pinheiro vai ganhar um parque linear com ciclovia, pista de corrida, muita área verde, pontos de alimentação, banheiros e até oficina para reparos rápidos nas bikes dos usuários.

O Parque Linear Novo Rio Pinheiros — que ficará na margem oposta onde hoje existe a ciclovia do rio — terá, em seu primeiro trecho, 8,2 km de extensão, da sede do Projeto Pomar até a ponte Cidade Jardim. Serão cerca de 400 mil m², que vão conectar, para pedestres e ciclistas, outros parques da cidade, como Villa-Lobos, Parque do Povo, Alfredo Volpi e Ibirapuera.

Trecho da Margem Oeste onde ficará o parque linear

O projeto é um sopro de esperança no desejo de milhares de paulistanos de ver o rio Pinheiros como atração da cidade. O governo João Doria não esconde que revitalizar as margens e limpar o rio tem sido uma de suas plataformas para alçar voos maiores na política nacional. Concorde-se ou não com o governo de Doria, o fato é que um novo parque como esse, se realizado, será um presentão para todo mundo que vive na cidade.

Em novembro, o governo de São Paulo, por meio da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA), publicou um chamamento público para implementar o parque linear na margem oeste do rio Pinheiros. Houve três grupos interessados, e agora foi divulgado a escolha do Consórcio Parque Linear Novo Rio Pinheiros, formado pelas empresas Parque Global, Farah Service, Jardiplan e Metalu.

Passarela que será construída ligando as margens leste e oeste, na continuidade da passarela existente

A Farah Service é a mesma que ganhou, em 2020, o chamamento público para cuidar da ciclovia do rio Pinheiros, na margem leste. Desde que assumiu a administração da área de 21,5 km, a empresa vem realizando melhorias significativas ali, incluindo cafés e a reabertura de trechos fechados há anos por causa das obras do monotrilho.

Com isso, milhares de ciclistas paulistanos têm frequentado a ciclovia, especialmente nos finais de semana, um alívio para muita gente que pedala em uma época tensa e bizarra de pandemia.

“O novo parque será feito em fases. O trecho 1 vai da ponte Cidade Jardim até a sede do Projeto Pomar. Na fase 2, será da ponte Cidade Jardim até Ponte Jaguaré, enquanto a etapa 3 irá do Pomar à Vila da Paz”, diz Michel Farah, CEO e fundador da empresa, frisando que seu consórcio ganhou até agora a primeira fase do projeto.

Farah explica que as obras, estimadas entre R$ 15 e R$ 20 milhões, não serão feitas com dinheiro público. No chamamento público, a empresa vencedora não recebe nada do governo, e arca com todos os custos, com exceção da segurança. Em contrapartida, pode captar investimentos de marcas que queiram apoiar a iniciativa por meio de anúncios ou serviços.

Segundo ele, o projeto já começa a ter início uma semana após a assinatura do chamamento, o que deve ocorrer dentro de alguns dias. “A margem oeste já está aberta ao público e não a fecharemos totalmente durante a realização do parque”, diz Farah. “Como nesse lado do rio não há os trilhos da CPTM, é possível deixar alternativas de passagem quando algum trecho estiver em obras.”

Como parte do projeto, a ciclovia já existente na margem oeste será reformada e sinalizada. Hoje essa margem conta com uma ciclovia bem agradável, porém extremamente isolada e perigosa (muitos assaltos acontecem ali). Em toda a extensão do parque, também haverá uma pista de caminhada e corrida, de aproximadamente 3 metros de largura — bela iniciativa para atrair quem anda a pé para a beira do rio, e não apenas ciclistas.

Uma estrutura metálica será engatada na margem oeste para um mirante da Ponte Estaiada

Haverá, ainda, novas passarelas conectando as duas margens do rio Pinheiros, como uma que vai se ligar ao Parque do Povo (que hoje conta com uma passarela até o lado leste). Entre os novos acessos, será executada uma nova rampa de entrada e saída na antiga ponte do Morumbi, além de outra rampa semelhante na ponte Cidade Jardim. O projeto ainda contempla um mirante na altura da ponte Estaiada.

O consórcio conseguiu o apoio do Grupo Votorantim para revitalizar o deck da sede do Projeto Pomar.

Doria já falou diversas vezes que pretende despoluir o rio Pinheiros até 2022, em uma promessa ambiciosa que inclui também a privatização da Usina de Traição, que, segundo ele, será transformada em área de lazer com cafés, bares, restaurantes. Tudo isso alardeado como um futuro “Puerto Madero paulistano”, em uma referência ao cais revitalizadíssimo de Buenos Aires, na Argentina.

Goste-se ou não de Doria, o projeto seria uma bênção para uma cidade carente de áreas verdes, de ciclovias e de um rio digno onde os cidadãos possam conviver e curtir a vida. Tomara que ele e sua administração consigam realizar esse sonho de tanta gente.

]]>
0
Carta a Marina Harkot https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/11/11/carta-a-marina-harkot/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/11/11/carta-a-marina-harkot/#respond Wed, 11 Nov 2020 19:01:11 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/7pb2ur6yesl3rwv98vhnl12k7-320x213.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2991 Querida Marina,

Não te conheci pessoalmente e, após saber da sua morte no último domingo (8/nov), fiquei me perguntando como teria sido sensacional ouvir você defendendo suas ideias tão certeiras e contemporâneas sobre mobilidade, gênero, bicicleta e cidades mais humanas.

Puxa, Marina, como alguém de 28 anos e em pleno caminho para conquistar um doutorado que São Paulo necessitava tanto morre assim? Queria ter te conhecido lá pelos seus 20 anos, para poder ter visto de perto a formação de suas teorias de que as cidades precisam ser para todos — e isso exclui segregar grupos em determinados espaços, aprisionar ciclistas em certos “chiqueirinhos” e manter divisões socioeconômicas que ainda nos remetem aos tempos coloniais da escravidão.

Sabe que ouvi muita gente próxima e querida perguntar por que você não estava pedalando na ciclovia ali da Sumaré, e sim na rua. Escutei até alguém falar que era muito tarde, já passava da meia-noite, para uma menina pedalar sozinha naquela escuridão.

Ainda bem que me enviaram um vídeo da sua orientadora, a professora Paula Freire Santoro (FAU-USP). Porque eu, na minha tristeza, não teria tido a clareza de proferir as palavras tão impactantes de Paula: você estava no lugar onde deveria estar. No horário em que queria estar. Conhecia aquele trecho de São Paulo muitíssimo bem. A questão não é culpar a própria vítima pelo “incidente” (termo que você mesma usou em uma palestra, pois não foi “acidente”). As cidades são para todos, né, Marina? É preciso urgentemente aprender a compartilhar os espaços.

Adeus, Marina, obrigada por tudo (Foto: Arquivo Pessoal)

Na cidade de São Paulo, são tantos e tão variados os corpos que diariamente lutam para se locomover de forma limpa, seja de bike ou a pé. Todo ciclista já tomou “fechada educativa”, recebeu xingamento do nada e teve de suportar carros passarem colados a nosso guidão. O motorista, de cara feia, grita que nosso lugar é na ciclovia. A menina sozinha leva cantada e até passada de mão em movimento. Ainda bem que você sabia que nosso lugar é onde queremos estar, Marina.

Você também sabia que ciclovia não é garantia de segurança (aquela lá do Sumaré tem tantos assaltos). Em 2018, ano em que você defendeu sua dissertação de mestrado (A bicicleta e as mulheres: mobilidade ativa, gênero e desigualdades socioterritoriais em São Paulo), por exemplo, eu pedalava na ciclovia da Pedroso de Moraes e, ao atravessar a rua em um trecho sem semáforo, quase morri ao ser atingida por um carro que não olhou se ali — um local de ciclovia! — poderia haver ciclistas. Dente quebrado, ligamento rompido, rosto cheio de hematomas e meses em trauma.

Que pena que não nos conhecíamos para você me dar força e me fazer entender que, diante da violência do trânsito, é preciso continuar, estudar, debater, lutar por um mundo melhor.

Eu, logo após ser atropelada pedalando em uma ciclovia de SP

Eu fico olhando suas fotos, seu rosto ainda tão jovem, porém já tão cheio de conquistas. Sinto orgulho imenso de sua garra, de seu talento para analisar problemas e soluções para as caóticas cidades brasileiras.

Caramba, Marina, o mundo é mesmo tão doido. Não acredito que não vai dar para te convidar para uma cerveja em alguma bicicletaria de São Paulo e te ouvir me explicar que, sim, as cidades têm futuro — e passam por políticas públicas sérias, nas quais o carro para de ser o centro dos interesses para dar lugar aos pedestres e ciclistas.

Precisava tanto do seu sorriso agora para me animar e me dar conforto na certeza de que os políticos brasileiros um dia vão entender isso.

Prometo não perder as esperanças, Marina. Tem horas que bate desânimo. Mas não seria justo com você e tudo o que você estudou em busca de um mundo melhor.

Obrigada por tudo. E um abraço apertado.

 

]]>
0
Level Up Movement amplia o espaço dos negros no mundo da bike https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/11/04/level-up-movement-amplia-o-espaco-dos-negros-no-mundo-da-bike/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/11/04/level-up-movement-amplia-o-espaco-dos-negros-no-mundo-da-bike/#respond Wed, 04 Nov 2020 19:00:52 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/WhatsApp-Image-2020-11-03-at-16.30.23-320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2982 Quando começou a pedalar, a norte-americana Erica Elle não sabia quase nada sobre o universo da bike. Acreditava que um dos caminhos para aprender mais sobre essa comunidade e esporte seria por meio de outros ciclistas, seus clubes e turmas.

Mas ela logo entendeu que estava errada. Mulher e negra, Erica percebeu que não havia espaços seguros e diversos para pessoas de sua cor, assim como para muitas outros grupos mais vulneráveis.

Resolveu, então, parar de pedalar? De jeito nenhum. Criou (ainda mais) coragem e decidiu abrir, mesmo que na marra, o caminho para que mais pessoas negras se sentissem à vontade para se aproximar da bicicleta — uma ferramenta certeira de empoderamento e crescimento pessoal.

“Saquei que eu mesma teria de tomar a iniciativa e criar um espaço para não somente crescer nesse meio como para que outras pessoas conseguissem também”, diz Erica, fundadora do Level Up Cycling Movement, um movimento dedicado a apresentar os muitos benefícios do ciclismo a minorias e também a ajudar a facilitar a trajetória de jovens ciclistas dessas comunidades aos níveis mais profissionais do esporte.

O Level Up organiza pedais para grupos ainda pouco bem-vindos no meio da bike, promove palestras sobre as vantagens de se pedalar, faz eventos nos quais ciclistas célebres — como o negro Justin Williams — podem conhecer de perto seus fãs, participa de campanhas de doações para comunidades em necessidade, e por aí vai.

Erica (à dir) e os amigos do Level Up estão mostrando que os negros pedalam, e muito (Foto: Arquivo pessoal)

No Instagram do grupo (@levelup_cyclingmovement), dá uma alegria enorme ver os vídeos de pelotões negros, femininos, entre outros, saírem por aí com suas bikes, cheios de esperança e orgulho de um futuro mais diverso.

Se o ciclismo não dava passagem a praticantes de outras raças, gênero e classe social, agora o caminho não tem mais volta: as minorias estão conquistando seu lugar. Como diz o slogan do Level Up, “the Movement is here”.

A seguir, Erica explica melhor sobre sua organização e as atividades que organiza.

Por que você decidiu criar o Level Up Cycling Movement?
ERICA ELLE: Quando eu comecei a pedalar, percebi que não havia minorias nessa comunidade, e era rara a representação de mulheres em clubes de ciclismo dos quais tentava participar, em eventos de bike e pedaladas em geral. Conforme fui me apaixonando pelo ciclismo, passei a investir mais tempo nisso, a gastar mais dinheiro com equipamentos caros, a ler revistas especializadas, a assistir provas. Foi então que reparei que não havia nada que me representasse nesse esporte, ou pequenas minorias com quem eu gostaria tanto de pedalar. 

Encontrei e comecei a pedalar com ciclistas jovens e talentosos dessas minorias, que tinham o sonho de competir em nível profissional. Após assistir a algumas competições, foi ficando bem claro que a chance dessas pessoas irem além do nível amador era praticamente zero. Mesmo no circuito amador, o apoio para eles era ínfimo. 

O esporte que agora eu tanto amava pela sensação de liberdade que me proporcionava parecia, na verdade, uma caixa de vidro fechada, da qual se via o resto do mundo participar, menos pessoas como eu.

Foi quando eu, enfim, entendi que mulheres e minorias, de amadores a profissionais, não tínhamos um espaço no qual nos conectar, para nos sentir seguros, onde pudéssemos aprender e florescer com garantida inclusão. 

Inspirada pela frase “Crie o futuro que você quer ver”, decidi fundar o Level Up Cycling Movement, para levar o ciclismo e seus benefícios a minorias e, dessa forma, construir comunidades seguras onde se pode lapidar talentos.

E como é possível tornar mais diversa a comunidade ciclística?
Acredito que seja possível nutrindo, educando, expondo esse meio. Eu tenho testemunhado um crescimento exponencial do ciclismo em minorias ao meu redor. No Level Up, nós já oferecemos 250 sessões de treinamento para mulheres e minorias, além de várias pedaladas focadas nesse tipo de ciclista. 

São tantas as histórias de superação, de perda de peso, de melhora da saúde física e mental. Ver o progresso das pessoas com meus próprios olhos é o que me motiva todos os dias a fazer do mundo da bike um lugar melhor para nós.

Erica e Justin Williams, ciclista profissional e ícone negro do ciclismo nos EUA (Foto: Arquivo pessoal)

Nos pelotões profissionais, a diversidade é ainda mais rara. Você tem visto mudanças positivas nos últimos anos? Como mudar isso?
Tenho visto algumas mudanças recentes, mas só vindas da UCI [a organização internacional que rege o ciclismo profissional] e de algumas poucas equipes. Tenho percebido mais esforços da UCI em selecionar ciclistas de minorias para seus training camps e em atrair atenção para suas competições. Há iniciativas também de algumas federações e organizações em relação ao ciclismo feminino, para equiparar com o do masculino itens como salários e apoio médico, além do número de profissionais do staff para apoiar as ciclistas durante a temporada. Todos esses esforços são um bom começo.

Alguns eventos do Level Up contaram com a presença de ciclistas negros que estão ficando célebres, como Justin Williams. Qual a importância de se ter pessoas assim icônicas hoje?
A missão de Williams de diversificar o esporte, assim como a disposição que ele tem para usar sua voz e sua plataforma, são essenciais para o futuro do ciclismo. Seu trabalho e sua dedicação têm contribuído muito não somente para consolidar a ideia, mas também a realidade de que o ciclismo de elite e profissional podem ser para todo mundo.

Como uma simples bicicleta pode empoderar as pessoas?
Tenho visto bikes trazerem tanta alegria para muitas vidas, de maneiras tão diversas. Tenho testemunhado bicicletas unirem famílias e aprofundarem amizades de toda uma vida. Ontem mesmo, uma jovem mulher com quem tenho treinado me contou que, por causa do ciclismo, ela tem aprendido a ter mais empatia com os outros. Por causa da bicicleta, vejo pessoas voltarem a ter controle sobre sua própria saúde. Já vi gente ficar empoderada e criar seu clube de ciclismo, quando pouco antes nem percebia seu talento para liderança. Resumindo: a bike te empodera a se conectar consigo mesmo para que você encontre maneiras de impactar o mundo.

O futuro é multicolorido, como prova a nova geração de bikers do Level Up (Foto: Arquivo pessoal)
]]>
0
#ClimbHigherTogether quer mais mulheres pedalando (em subidas!) https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/16/climbhighertogether-quer-mais-mulheres-pedalando-em-subidas/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/16/climbhighertogether-quer-mais-mulheres-pedalando-em-subidas/#respond Fri, 16 Oct 2020 18:55:30 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/WhatsApp-Image-2020-10-16-at-15.21.49-320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2971 Apesar do crescente entusiasmo (de parte) do público com as competições femininas de bike, ainda é sofrível a desigualdade entre homens e mulheres nesse esporte, em todos os níveis.

Provas de ciclismo de estrada como o Giro Rosa, a versão delas do tradicional Giro d’Italia, não costumam ser transmitidas na íntegra por nenhum canal de TV. Os salários e prêmios deles e delas quase nunca são os mesmos, com exceção de alguns eventos, como a competição australiana Santos Tour Down Under. E ainda não temos tantas moças participando de provas amadoras e campeonatos nacionais.

Isso não só no Brasil como em muitos lugares onde as competições de bike são bem mais fortes, como Estados Unidos e Europa.

Na Grã-Bretanha, não é diferente, mas nas últimas semanas um movimento feminino (e feminista) interessante vem conquistando adeptas por lá em uma modalidade bem particular: as provas de subida. As competições de “hill climb” são famosas no Reino Unido, atraem mulheres, porém não muitas — e é isso o que o movimento #ClimbHigherTogether (#SubamosMaisAltoJuntas, em tradução livre) pretende mudar.

Organizado por ciclistas locais como Becky Hair, 30, o movimento quer unir mais mulheres em torno do tema, inspirar meninas a começarem a pedalar (e a competir), lutar por salários e prêmios iguais aos homens e mais visibilidade na mídia, além de criar ambientes mais amigáveis para iniciantes se sentirem confiantes para se lançar em desafios ciclísticos.

Becky compete nas provas do Reino Unido e torce para ter mais concorrentes mulheres (Foto: Arquivo pessoal)

A ciclista e fisioterapeuta Becky começou a pedalar por influência do pai e penou até se sentir confortável para competir. Já tiraram sarro dela em lojas de bike e já foi olhada com desdém em pelotões majoritariamente masculino. Mas a moça cresceu em todos os sentidos e hoje, toda corajosa, compete em hill climbs, em provas de critério e ainda inventa movimentos interessantes para convencer mais meninas de que o lugar delas é em cima de uma bicicleta.

A seguir, um bate-papo com essa inglesa muito especial:

Como nasceu o movimento #ClimbHigherTogether?
BECKY HAIR: Desafios de subida são uma tradição bem britânica. Basicamente consiste em uma competição que começa no sopé de uma montanha e termina lá no topo, e vence quem faz o percurso em menos tempo. A temporada de subidas dura pouco, de setembro a outubro, para tradicionalmente caber no calendário que inclui provas de ciclismo de estrada e de critério. 

Só que os desafios de subida têm muito pouca participação de mulheres: cerca de 12% apenas. Neste ano, houve um forte movimento do Clube de Ciclismo de Reading para melhorar esse número para as etapas do campeonato nacional de subidas. Agora entre os participantes há 30% mulheres!

Eu e algumas poucas ciclistas dos desafios de subida, então, decidimos começar uma campanha com a hashtag #ClimbHigherTogether. Eu e minha colega Haddi Conant recebemos o apoio de muitas meninas com quem competimos no passado. Nós todas queremos continuar esse movimento, queremos divulgar imagens positivas sobre o assunto. 

Basicamente, queremos aumentar o número de mulheres competindo no Reino Unido, encorajá-las a compartilhar suas histórias e a continuar esse debate — se elas virem mais mulheres em provas, mais vão querer se inscrever. Também queremos lutar pela igualdade de gênero, especialmente depois que uma recente competição de subida deu prêmios bem diferentes para homens e mulheres.

Quais as principais desigualdades que ainda existem hoje nas competições femininas e masculinas?
Muito poucas mulheres competem. E a experiência de uma competição para elas não é a mesma que para eles. Por exemplo, em alguns casos, juntam categorias como “ júnior” e “mulheres”. Muitos organizadores de provas continuam achando a prova masculina o principal e mais importante evento. 

Eu venho participando de competições femininas faz anos, e uma das grandes barreiras para elas vem do fato de muitas não terem confiança em suas bikes (medo de um pneu furado no meio do percurso, por exemplo). Isso limita a independência de sair por aí pedalando, e muitas acabam só saindo para pedalar com os maridos. Cursos de mecânica ajudam bastante na autoconfiança. É importante ter mais mulheres pedalando, tirando dúvidas, o que leva mais ciclistas a também perguntarem mais e a participarem mais. 

Como fazer com que a comunidade ciclística seja mais igualitária em relação às mulheres?
Aumentando o número de mulheres nas competições, por meio de mais investimentos em redes sociais, TV e revistas. Se houvesse mais material audiovisual sobre o tema, mais mulheres se inspirariam a competir, e maior ficaria o pelotão feminino nas provas. Precisamos de atitudes e atributos positivos associados ao universo das competições, além de mostrar às pessoas como elas podem chegar lá — e isso se dá tornando todos os níveis das provas mais acessíveis.

Também é bem evidente que as equipes profissionais e as provas femininas sofrem com falta de dinheiro para torná-las mais atrativas para a mídia. Mesmo olhando para trás para a época dos escândalos de doping envolvendo Lance Armstrong, os contratos das equipes profissionais e os patrocinadores das mulheres eram as primeiras coisas a serem cortadas. Muitas ciclistas profissionais ainda precisam ter outro emprego para manter a carreira no ciclismo. É urgente ter mais mulheres nos comitês organizadores de provas, para ajudar a espalhar essas ideias. Isso pode ser feito — há algumas mulheres de grande sucesso nas provas britânicas. 

Em um nível mais de base, comunitário, precisamos oferecer mais pedaladas acessíveis às mulheres, mais cursos de mecânica e de técnicas de pilotagem. Precisamos encorajá-las a pedalar em todos os níveis.

Eventos de ciclismo profissional feminino como o La Course (a versão delas do Tour de France) e o Giro Rosa têm ajudado a melhorar a situação?
Sem patrocínio e sem cobertura na mídia, não se tornam eventos que chegam às mulheres que mais precisam vê-los. Essas provas ainda não são transmitidas na TV britânica, o que é vergonhoso. Precisamos de cobertura de TV, de revistas de ciclismo, do jornalismo esportivo em geral.

]]>
0
Australiano tenta quebrar recorde de maior distância pedalada em 7 dias https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/09/25/australiano-tenta-quebrar-recorde-de-maior-distancia-pedalada-em-7-dias/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/09/25/australiano-tenta-quebrar-recorde-de-maior-distancia-pedalada-em-7-dias/#respond Fri, 25 Sep 2020 21:31:44 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/WhatsApp-Image-2020-09-25-at-14.54.54-320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2943 Nos últimos anos, uma vertente antigamente underground do ciclismo tem conquistado cada vez mais adeptos: as longas distâncias.

São ciclistas que ou entram em competições de percurso bem extenso (como os 1.600 km da Inca Divide) ou se lançam em desafios pessoais, nos quais o objetivo é ficar muitas e muitas horas em cima da bike até completar algum feito insano (caso do Everesting).

O australiano Jack Thompson, 32, faz parte do segundo grupo: decidiu, por conta própria, quebrar o recorde mundial de maior distância pedalada em sete dias. Durante a próxima semana, ele vai tentar fazer 500 km por dia (!), para somar 3.500 km ao final da empreitada.

Não é pouca coisa. Um atleta dedicado de ciclismo de estrada chega a pedalar 700 km ou até um pouco mais. Porém nada que chegue perto do que Jack pretende rodar, em um percurso próximo a Sevilha, na Espanha, país onde mora.

A bike tem salvado Jack da depressão (Foto: @sauriproductions)

Jack é veterano em ultradesafios: já fez três Everesting de uma só vez (pedalar a altimetria da maior montanha da Terra, ou seja, 8.848 metros), encarou quatro vezes seguida a subida mais temida de Taiwan (na qual acontece uma prova batizada de KOM Challenge) e percorreu de bike, sozinho, parte dos Himalaias.

Como muita gente que curte longas distâncias, Jack é assumidamente viciado em ciclismo e nas endorfinas que a modalidade produz. Tem sido o esporte um dos principais fatores para o australiano tratar uma depressão crônica. É na bicicleta, quilômetro após quilômetro, que ele ouve seus monstros interiores e acalma a mente.

A seguir, meu bate-papo com Jack, o Ultraciclista (@jackultracyclist), como é conhecido esse australiano extremamente simpático.

Por que forçar tantos seus próprios limites para quebrar esse recorde mundial?
JACK THOMPSON: Eu sempre acalentei a ideia de ver meu nome em um recorde mundial. Os quilômetros pedalados em uma semana sempre são uma espécie de grande parâmetro para ciclistas de estrada determinarem o quão pesado é seu treinamento semanal. E por isso pensei que esse seria um feito e tanto em minha busca para quebrar os limites do ultraciclismo, de minha mente e dos estigmas atrelados aos problemas psicológicos.

Você vai pedalar em um mesmo percurso em Sevilha, ou em diferentes estradas?
Eu planejei uma volta de 274 km (137 km ida e o mesmo de volta). Passei tempos mapeando percursos mais planos, e também que fossem menos atingidos por ventos. Essa rota em particular foi a que melhor oferece as duas condições na Espanha, onde moro. Com as restrições de viagem por causa da pandemia, precisei pensar em um trajeto dentro do país. Eu hoje considero a Espanha minha terra, e quebrar esse recorde “em casa” também me pareceu ótimo.

Para você, qual será o maior obstáculo durante sua tentativa de quebrar o recorde?
O vento. Eu venho monitorando o clima como se fosse um metereologista, e estou confiante de que tudo estará dentro do esperado. Mas o clima é sempre imprevisível, pode mudar do dia para a noite. Além do vento, ingerir uma enorme quantidade de calorias diárias também será desafiador. Eu geralmente tenho uma taxa de queima calórica de 800 calorias por hora, o que já é complicado de suprir. Imagine em um pedal de sete dias seguidos, no qual provavelmente vou totalizar mais de 150 horas em cima da bike. São muitas calorias!

Ele vai tentar pedalar 500 km por dia (Foto: @sauriproductions)

Quantas horas você acredita que vai passar pedalando a cada dia?
Planejo pedalar entre 18 e 20 horas por dia. Em um mundo ideal, vou fazer 500 km diários. Não quero de jeito nenhum atrasar meu cronograma, porque eu sei o quanto isso pode perturbar minha mente.

Por que você se apaixonou tanto por ciclismo de longa distância?
Para mim, o ciclismo é onde me refugio de pensamentos pesados que rodam na minha cabeça. Eu tenho e continuo sofrendo de depressão. Enfrento altos e baixos diariamente, e a bike me ajuda muito a achatar essa curva de sobe e desce. Ao desafiar meus limites e documentar esses desafios em filmes, eu tenho conseguido inspirar outras pessoas e a ajudá-las durante tempos difíceis. Isso, por si só, me inspira enormemente.

Na sua opinião, por que uma simples bicicleta consegue ajudar tantas pessoas a superar momentos de crise?
Eu amo a simplicidade de uma bike. Trata-se de um objeto que, desde criança, me proporciona aventura e liberdade. Eu amo isso. Já adulto, continua a me oferecer essa sensação de escape. São apenas duas rodas, um quadro e uma série de peças, mas com ela você pode viajar o mundo, ver lugares maravilhosos e encontrar pessoas interessantes. Nos tempos atuais, é tão fácil cair nas armadilhas de dinheiro, ambição e procura por poder… e nada disso nos faz feliz. Simplificar a vida, para mim, significa pedalar minha bike.

Além desse novo desafio, qual empreitada ciclística anterior foi a mais dura?
Boa pergunta. Acho que foi pedalar três vezes a altimetria do Everest no desafio “The Grand Tours Everesting Project”. Eu estava com uma lesão na mão e também, naquela época, não era tão cuidadoso com minha nutrição. De repente me vi totalmente sem energia, e tive até alucinações. Recentemente, mudei bastante meu posicionamento em cima da bike e minha estratégia de alimentação, e espero colher os frutos disso agora.

]]>
0