Ciclocosmo https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br Um blog para quem ama bicicletas Thu, 02 Dec 2021 18:10:08 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Cinema, pipoca, cerveja e… bicicleta! https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/09/29/cinema-pipoca-cerveja-e-bicicleta/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2021/09/29/cinema-pipoca-cerveja-e-bicicleta/#respond Wed, 29 Sep 2021 03:01:12 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/Born-From-Junk-1-320x213.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=3213 A ciclovia do rio Pinheiros receberá neste final de semana (2 e 3/10), o festival Rocky Spirit de documentários sobre a vida ao ar livre. Ótima oportunidade para experimentar um jeito inusitado de ir ao cinema —curtindo o rolê de bike no percurso de 21,5Km entre as duas “salas” de projeção.

A 11ª edição do festival, que tradicionalmente acontece no gramado de parques ou na areia das praias, ganhou sua primeira versão ride-in (entrada pedalando) em dois pontos da ciclovia —um telão será montado no limite norte (Jaguaré), sob viaduto da Marginal Pinheiros, e o outro telão estará no estacionamento do limite sul (Interlagos).

“A ideia é fazer o pessoal curtir a programação nos dois pontos da ciclovia, se deslocando de bike pelos 21,5Km que separam os telões”, diz a curadora Andrea Estevam. Para ir de um ponto a outro, o ciclista deverá usar as ciclovias das duas margens do rio Pinheiros, interligadas por ciclofaixas nas pontes Cidade Jardim e João Dias.

As três base-jumpers (paraquedistas) de “Jump to Zero” (foto: divulgação)

Os horários das sessões de sábado e de domingo serão os mesmos —das 9 às 13h no Jaguaré, das 14 às 17h em Interlagos e das 18 às 21h novamente no Jaguaré. Serão projetados 43 filmes, distribuídos separadamente pelos dois telões. Quem quiser assistir a todos, terá que fazer o rolê de ida e volta, totalizando 43Km de pedaladas —que ótimo! Assim você pode abusar da pipoca, sem culpa! 

Além da pipoca e dos tradicionais lanches saudáveis, cafés e isotônicos vendidos nos quiosques da ciclovia, o evento contará com a distribuição gratuita de água mineral e —delirem— cerveja! Sim, cerveja de graça para tomar deitado nos pufes da ciclo enquanto você curte o cineminha! (mas é cerveja zero-álcool). 

Os títulos trazem uma variedade de enredos esportivos praticados ao ar livre —o festival não traz apenas filmes sobre bikes; tem também filmes sobre skate, escalada, paraquedismo, canoagem… Da superação pessoal à aventura extrema, todos eles são recheados de histórias emocionantes e de belezas naturais de tirar o fôlego.

Alguns são pura poesia, como o canadense “Spirit of Adventure” —em seus 5 minutos o filme nos hipnotiza com deslumbrantes paisagens naturais exploradas por Mike e sua bike. Ou como o americano “Jump to Zero”, que conta a saga de três mulheres paraquedistas que usam suas bikes para alcançar o cume das montanhas, de onde se jogam embriagadas para vôos alucinantes. 

Paisagens do filme “Spirit of Adventure” são impressionantes (foto: divulgação)

O brasileiro “Confie na Bike!” traz a emocionante narrativa em primeira pessoa da jornalista Erika Sallum (criadora deste blog) sobre sua luta contra o câncer. No filme de 3 minutos, Erika enfatiza o importante papel que a bicicleta pode desempenhar na vida de quem trava duras batalhas físicas ou psicológicas.

De todos, um dos que mais me tocou, foi o americano “Born from Junk”. O filme conta a história dos caras que inventaram o mountain-bike. Imagens de arquivo mostram jovens desocupados da década de 1980 e suas bikes adaptadas rasgando as paisagens vertiginosas das montanhas do Colorado. Em contraponto, os pródigos inventores, já bem tiozinhos, narram em entrevistas atuais as suas memórias do arco-da-velha: “éramos um bando de foras-da-lei com muito tempo livre e milhares de hectares de terras selvagens para explorar”, relata um ciclista velhinho enquanto, sabiamente, curte sua breja.

Cola lá, pedalando, para também curtir uma breja (ou isotônico)!

ATUALIZAÇÃO

A Ambev, fornecedora da cerveja Heinekken 0.0 (zero-álcool), informa que a distribuição da bebida se encerrará às 14h dos dois dias de evento.

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Ciclista se torna primeira trans a pedalar do Alasca à Patagônia https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/05/29/ciclista-se-torna-primeira-trans-a-pedalar-do-alasca-a-patagonia/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/05/29/ciclista-se-torna-primeira-trans-a-pedalar-do-alasca-a-patagonia/#respond Fri, 29 May 2020 21:32:53 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/ABRE.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2683 Foram quase dois anos, mais de 46.000 km pedalados e 17 países visitados, em uma aventura que teve início no Alasca e terminou na outra ponta do continente americano, na Patagônia.

Só por isso, a empreitada de Natalie Corbett, 33, já seria estupenda. Mas a norte-americana de poderosos olhos azuis e respostas inteligentes vai muito além. Há seis anos, ela assumiu-se mulher e, assim, tornou-se a primeira ciclista trans a completar o percurso, uma das rotas mais sonhadas por quem ama viajar de bicicleta.

Yonder, a bike de Natalie, e uma nova amiga da estrada

A saga ciclística de Natalie não exige apenas determinação e pernas em dia. Requer, acima de tudo, leveza e coragem para enfrentar preconceitos e se viver como se quer. E tornar sonhos realidade — seja derrubando imposições de gênero ou estudando mapas de onde se quer pedalar.

Ver as fotos de sua expedição, algumas das quais publico aqui, é ter a honra de poder acompanhar momentos únicos de uma ciclista inspiradora. E que a todo tempo desafia regras. Seu rosto forte de olhar penetrante e sua risada em países tão distintos quanto os Estados Unidos e o Equador fascinam aqueles que sabem que uma das melhores maneiras de conhecer o mundo — ou seja, de se viver a vida — é mesmo em cima de uma bike.

Autorretrato durante a cicloviagem
Visitando a latitude zero do planeta, no Equador

A seguir, um bate-papo com Natalie sobre transgêneros, desafios e, claro, cicloviagens.

Por que você decidiu pedalar sozinha um percurso tão extenso?
NATALIE CORBETT Porque sozinha eu não preciso perguntar para outra pessoa onde ela quer ir! Para mim, pedalar é uma atividade individual, para se fazer só. Eu uso meu tempo na bike para introspecção e para me perder nos meus pensamentos. Eu curto outras atividades em que prefiro ter alguém comigo, como caminhadas no mato e escalada em rocha. Mas ciclismo, e principalmente cicloviagem, é melhor se fazer sem companhia.

Como pedalar e se lançar em aventuras ciclísticas te ajudou a ser assumir como uma mulher trans, em um mundo onde frequentemente as escolhas alheias não são respeitadas?
Eu diria que foi, na verdade, o contrário. Tornar-me uma pessoa trans me ajudou a ser uma ciclista de aventura. Aprender a não ter vergonha de quem eu sou, a ter orgulho de mim e a viver diariamente como eu acredito foi fundamental para eu viver uma vida de aventuras e acolher esse outro lado de mim mesma.

Muitas pessoas são criadas para se adequar a pequenas caixas, não para facilitar suas vidas, mas sim para fazer a vida dos outros em volta menos desconfortável. Então eu decidi sair dessa caixa das normas de gênero, deixando minha casa para viver na estrada pedalando e acampando. E há muito tempo que deixei de me importar como os outros me vêem. Tornar-me mulher foi a experiência mais profunda da minha vida — não apenas meu gênero se transformou, mas todo meu ser, em direção à pessoa que eu sempre soube que eu era.

A dura arte de limpar o cassete
A Brooks Range ao fundo, cadeia de montanha que vai do Alasca ao Canadá
Autorretrato de bretelle (bermuda de bike com alças), a melhor roupa do mundo

Quais as maiores lições que você aprendeu pedalando do Alasca até a Patagônia?
Essa é a questão mais difícil de responder. Enquanto eu estava pensando em uma maneira de dar uma resposta, percebi minha dificuldade em colocar uma experiência acima de outra. Talvez seja por minha característica de conseguir passar longos períodos de tempo pensando e procurando minhas verdades.

Estamos enfrentando um período muito duro de pandemia, quarentena etc. Como sua vida de bike na estrada te ajudou a lidar com essa situação tão bizarra?
Quando algo dá errado durante uma viagem desse tipo, você tem de tentar fazer o seu melhor e encontrar uma solução produtiva. Houve momentos quando eu estava em subidas intermináveis, com muito vento e chuva. Meu corpo estava ensopado, em uma friaca. Eu fui levada aos meus limites e me senti acabada. Nessas horas, eu gritava o mais alto que conseguia, amaldiçoando o tempo, as montanhas, tudo. Depois de um minuto de gritaria, eu me sentia melhor e prosseguia no meu caminho, porque era isso que eu tinha de fazer.

E é isso que precisamos fazer agora, deixar essas emoções saírem, extravasar as tensões do corpo. Depois disso, vamos usar nossas máscaras e nos isolar até que tudo fique mais seguro. Não está sendo fácil, mas no final essas medidas de proteção vão ter valido a pena.

Camping à beira da Laguna Islacocha, no Peru
Poderosa, corajosa, independente, musa absoluta
Natalie com a jersey (camisa) da marca americana Machines for Freedom, que apoia ciclistas que celebram a diversidade

 

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Vá para a terra em 2020! https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2019/12/30/va-para-a-terra-em-2020/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2019/12/30/va-para-a-terra-em-2020/#respond Mon, 30 Dec 2019 16:14:09 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/WhatsApp-Image-2019-12-30-at-08.12.48-320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2381 Quer uma boa resolução ciclística para 2020 (além de “vou comprar uma bike e fazer exercício”)?

Pegue sua bicicleta e vá para a terra encarar trilhas, sentir a natureza, pedalar e rir como se não houvesse amanhã, ficar com a perna maravilhosamente marcada por mato que raspa na pele nos singletracks ou coberta de poeira e areia. Não há jeito de se divertir mais em cima de uma bike do que em terrenos fora do asfalto.

Quando eu comecei a pedalar, uns 13 anos atrás, ou você fazia “speed” (ciclismo de estrada) ou mountain bike — e o MTB resumia-se quase sempre ao que conhecemos hoje como cross-country, que nada mais é do que explorar uma trilha longa, com bastante estradão de terra batida e alguns trechos de mato fechado.

Atualmente, graças aos deuses da bike, a cena é outra. Ainda existem as maravilhas do cross-country, mas novas modalidades injetaram ânimo extra a quem curte um conceito bem antigo, porém que entrou na moda: aventura.

Galeras como a do clube de ciclismo Fuga, de São Paulo, vai para a terra com frequência se divertir com as adventure bikes (Foto: Fabio Kassai)

Surgiram assim, as “adventure bikes”, que são uma sensacional combinação de estrada e terra, para quem quer começar o dia pedalando no asfalto, depois entrar em algum trecho off-road. Explorar, desbravar, curtir as mudanças do terreno, sair da “noia” do Strava e tentar novas habilidades são alguns dos atrativos do que também se convencionou chamar de “gravel”.

No Brasil, o gravel teve o azar de chegar quando nossa economia iniciava seu caminho rumo ao abismo. Dólar nas alturas, pouco dinheiro no bolso, e assim fomos (quase) deixando a onda passar, enquanto babávamos não só pelas bikes como por provas de gravel, como a Dirty Kanza, que acontece anualmente no Kansas (EUA) e virou uma das competições mais legais da modalidade.

Mas, devagarzinho, estamos conseguindo fazer nossos pedais na terra. Tem ajudado bastante a iniciativa de marcas nacionais de apostar nesse filão, como a mineira Sense, que vem lançando modelos honestíssimos para a prática do gravel, porém a preços mais camaradas que as importadas.

E ainda há a vantagem de que as bikes de gravel são ótimas para usar na cidade durante a semana, pois aguentam bem o “tranco” de nossas ruas esburacadas.

A Versa 2020, da Sense, é uma gravel bacanuda, bela e relativamente em conta (Foto: Divulgação)

Em 2020, vamos até mesmo sediar uma etapa de BikingMan, um circuito mundial de provas de ultradistância que mistura trechos desafiadores em estradas de asfalto e de terra, com muuuuuuita subida.

Sua prova mais famosa é o Inca Divide, no Peru (falei dela neste post aqui), mas existem edições em diversas partes do mundo. No dia 7 de junho, será a largada da etapa brasileira, que terá 1.000 km, com 17.000 metros de altimetria acumulada. No percurso, passagens pela Mantiqueira, Itatiaia, Vale do Paraíba, entre outros lugares — com 70% de asfalto, 25% de terra e 5% de bloquetes ou paralelepípedos.

Veja o teaser das etapas do BikingMan em 2020:

Temos ainda a Diverge Gravel Race, patrocinada pela Specialized, marca que fabrica as bikes de gravel Diverge e que sempre incentivou bastante a modalidade. A prova tem se mostrado um sucesso, com percursos de 100 km e 65 km, sempre mesclando terrenos variados.

Cena da Diverge Gravel Race, prova de um dia que oferece percursos que misturam terra e asfalto (Foto: Divulgação)

Em São Paulo, grupos como o Fuga.cc volta e meia organizam rolês de gravel para apresentar a mais “estradeiros” o prazer da terra.

Brasileiros também têm se lançado em expedições de gravel fora do país, como os mineiros do Peloton pelo Mundo (Instagram @pelotonpelomundo). Eles estão fazendo uma viagem de fim de ano pelo Atacama, no Chile, pedalando em uma das paisagens mais surreais para quem curte bike.

A revista norte-americana Bicycling (que tem versão brasileira, na qual eu trabalho) também sacou o poder dessa tendência e lançou recentemente uma espécie de “bíblia” do gravel, com dicas de treinamento, equipamentos, nutrição, tudo voltado para quem quer se aperfeiçoar no esporte.

Capa do novo livro sobre gravel lançado pela Bicycling USA

Há outras vertentes ciclísticas off-road que também transformaram a ida para as trilhas em diversão garantida — escreverei logo mais sobre o enduro, que aos poucos ganha adeptos por aqui.

Resumindo: que nosso 2020 não seja apenas repleto de bicicletas, mas que elas rumem para a terra, voltem para o asfalto, fujam para os paralelepípedos de vez em quando, em um vai-e-vem de aventuras esplendorosas em duas rodas!

 

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