Ciclocosmo https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br Um blog para quem ama bicicletas Thu, 02 Dec 2021 18:10:08 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Cultura da bike underground perde uma de suas maiores lendas nos EUA https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/12/07/cultura-da-bike-underground-perde-uma-de-suas-maiores-lendas-nos-eua/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/12/07/cultura-da-bike-underground-perde-uma-de-suas-maiores-lendas-nos-eua/#respond Mon, 07 Dec 2020 21:56:52 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/monstertrack2-469-x3-1606324524-320x213.jpg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=3000 Se a efervescência da cultura da bike se expande hoje em diversos lugares do mundo — como em São Paulo –, saiba que muito disso se deve a guerreiros do underground ciclístico que, anos e anos atrás, já davam o sangue para ocupar seu espaço em cidades violentas para quem pedala.

É gente que se juntava em manifestações como a Massa Crítica, tirava a roupa nas Pedaladas Peladas e que, mesmo sem apoio de governo ou marcas do setor, transformava o planeta em um lugar melhor, por meio da bicicleta.

Por isso o blog de hoje é dedicado a David Confer, um negro norte-americano de 52 anos que se tornou sinônimo da cultura da bike em Washington DC. Mecânico, dono de bike shop, organizador de crit races do submundo das duas rodas de sua cidade, David morreu hoje, após sofrer meses de cirrose e alguns anos depois de se recuperar de um câncer.

David à esquerda, durante um de seus formidáveis Tour de Bike Lane (Foto: The Awesome Foundation)

Esse “fixeiro” (como são chamados os ciclistas que curtem bike fixa, de uma só marcha) fez história ao participar de todos os projetos mais legais de bike de Washington e ao estar à frente de iniciativas sensacionais, como o Tour de Bike Lane DC.

Nesse Tour fantástico, David e uma galera se juntavam algumas vezes por mês ao redor de ciclovias do centro da cidade e, tal qual em eventos famosos como o Tour de France, torciam, vibravam, gritavam, davam flores e celebravam qualquer pessoa que passasse por ali de bicicleta. Sinos, assobios, música e cerveja compunham a balada, que foi criada apenas para festejar quem pedalava em Washington.

Mais uma imagem do formidável Tour de Bike Lane de David Confer (Foto: The Awesome Foundation)

David também ajudou a sofisticar o conceito de bicicletaria. Não, meu caro, uma boa bike shop não tem a ver com bikes milionárias na vitrine ou ferramentas brilhando em bancadas de aço escovado.

Uma loja de bicicleta excelente é aquela em que nos sentimos em casa, paramos para bater papo com nosso amigo — que por acaso é também o mecânico do lugar –, ficamos horas discutindo sobre o melhor guidão e de onde vamos embora com a certeza de que voltaremos em breve. E isso a Fathom Custom Bikes de David sabia fazer de forma exemplar (como, em São Paulo, também fazem, por exemplo, o Las Magrelas, a Ciclo Urbano e a oficina do mito Tom Cox).

Por sua loja modesta, passava a comunidade da bike de Washington, e cada bike criada por ele era largamente discutida com o futuro dono, em divertidos papos. Sempre sem grana, David ainda dava ótimos descontos aos fregueses, afinal, dinheiro não é o objetivo final de quem ama bicicleta de verdade.

David já bem debilitado devido a problemas no fígado (Foto: @demoncatslookbook)

Em 2017, David enfrentou um linfoma não-Hodgkin e, sem condições financeiras para bancar o tratamento em um país sem SUS, juntou grana com uma vaquinha e a ajuda de amigos. Dois anos depois, em março de 2019, ele acordou passando muito mal e logo foi diagnosticado com sérios problemas no fígado.

Alguns meses atrás, os médicos deram pouco tempo de vida a David, e outra vaquinha foi organizada pelos amigos, para que ele passasse os últimos dias com conforto em sua casa, após um ano difícil no qual ele se viu sem fontes de renda.

A comunidade ciclística de Washington se uniu, acolheu uma de suas maiores lendas e até organizou uma pedalada em sua homenagem, mesmo sem a participação de David, que ficou muito debilitado pela doença e já não conseguia fazer o que mais amava.

David morreu ao lado de sua companheira, cercado (mesmo que de longe, por causa da pandemia) por uma extensa rede de amigos eternamente gratos por toda a dedicação que ele mostrou à bicicleta.

Vá em paz, David! Que você pedale muito onde quer que esteja!

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#ClimbHigherTogether quer mais mulheres pedalando (em subidas!) https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/16/climbhighertogether-quer-mais-mulheres-pedalando-em-subidas/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/16/climbhighertogether-quer-mais-mulheres-pedalando-em-subidas/#respond Fri, 16 Oct 2020 18:55:30 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/WhatsApp-Image-2020-10-16-at-15.21.49-320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=2971 Apesar do crescente entusiasmo (de parte) do público com as competições femininas de bike, ainda é sofrível a desigualdade entre homens e mulheres nesse esporte, em todos os níveis.

Provas de ciclismo de estrada como o Giro Rosa, a versão delas do tradicional Giro d’Italia, não costumam ser transmitidas na íntegra por nenhum canal de TV. Os salários e prêmios deles e delas quase nunca são os mesmos, com exceção de alguns eventos, como a competição australiana Santos Tour Down Under. E ainda não temos tantas moças participando de provas amadoras e campeonatos nacionais.

Isso não só no Brasil como em muitos lugares onde as competições de bike são bem mais fortes, como Estados Unidos e Europa.

Na Grã-Bretanha, não é diferente, mas nas últimas semanas um movimento feminino (e feminista) interessante vem conquistando adeptas por lá em uma modalidade bem particular: as provas de subida. As competições de “hill climb” são famosas no Reino Unido, atraem mulheres, porém não muitas — e é isso o que o movimento #ClimbHigherTogether (#SubamosMaisAltoJuntas, em tradução livre) pretende mudar.

Organizado por ciclistas locais como Becky Hair, 30, o movimento quer unir mais mulheres em torno do tema, inspirar meninas a começarem a pedalar (e a competir), lutar por salários e prêmios iguais aos homens e mais visibilidade na mídia, além de criar ambientes mais amigáveis para iniciantes se sentirem confiantes para se lançar em desafios ciclísticos.

Becky compete nas provas do Reino Unido e torce para ter mais concorrentes mulheres (Foto: Arquivo pessoal)

A ciclista e fisioterapeuta Becky começou a pedalar por influência do pai e penou até se sentir confortável para competir. Já tiraram sarro dela em lojas de bike e já foi olhada com desdém em pelotões majoritariamente masculino. Mas a moça cresceu em todos os sentidos e hoje, toda corajosa, compete em hill climbs, em provas de critério e ainda inventa movimentos interessantes para convencer mais meninas de que o lugar delas é em cima de uma bicicleta.

A seguir, um bate-papo com essa inglesa muito especial:

Como nasceu o movimento #ClimbHigherTogether?
BECKY HAIR: Desafios de subida são uma tradição bem britânica. Basicamente consiste em uma competição que começa no sopé de uma montanha e termina lá no topo, e vence quem faz o percurso em menos tempo. A temporada de subidas dura pouco, de setembro a outubro, para tradicionalmente caber no calendário que inclui provas de ciclismo de estrada e de critério. 

Só que os desafios de subida têm muito pouca participação de mulheres: cerca de 12% apenas. Neste ano, houve um forte movimento do Clube de Ciclismo de Reading para melhorar esse número para as etapas do campeonato nacional de subidas. Agora entre os participantes há 30% mulheres!

Eu e algumas poucas ciclistas dos desafios de subida, então, decidimos começar uma campanha com a hashtag #ClimbHigherTogether. Eu e minha colega Haddi Conant recebemos o apoio de muitas meninas com quem competimos no passado. Nós todas queremos continuar esse movimento, queremos divulgar imagens positivas sobre o assunto. 

Basicamente, queremos aumentar o número de mulheres competindo no Reino Unido, encorajá-las a compartilhar suas histórias e a continuar esse debate — se elas virem mais mulheres em provas, mais vão querer se inscrever. Também queremos lutar pela igualdade de gênero, especialmente depois que uma recente competição de subida deu prêmios bem diferentes para homens e mulheres.

Quais as principais desigualdades que ainda existem hoje nas competições femininas e masculinas?
Muito poucas mulheres competem. E a experiência de uma competição para elas não é a mesma que para eles. Por exemplo, em alguns casos, juntam categorias como “ júnior” e “mulheres”. Muitos organizadores de provas continuam achando a prova masculina o principal e mais importante evento. 

Eu venho participando de competições femininas faz anos, e uma das grandes barreiras para elas vem do fato de muitas não terem confiança em suas bikes (medo de um pneu furado no meio do percurso, por exemplo). Isso limita a independência de sair por aí pedalando, e muitas acabam só saindo para pedalar com os maridos. Cursos de mecânica ajudam bastante na autoconfiança. É importante ter mais mulheres pedalando, tirando dúvidas, o que leva mais ciclistas a também perguntarem mais e a participarem mais. 

Como fazer com que a comunidade ciclística seja mais igualitária em relação às mulheres?
Aumentando o número de mulheres nas competições, por meio de mais investimentos em redes sociais, TV e revistas. Se houvesse mais material audiovisual sobre o tema, mais mulheres se inspirariam a competir, e maior ficaria o pelotão feminino nas provas. Precisamos de atitudes e atributos positivos associados ao universo das competições, além de mostrar às pessoas como elas podem chegar lá — e isso se dá tornando todos os níveis das provas mais acessíveis.

Também é bem evidente que as equipes profissionais e as provas femininas sofrem com falta de dinheiro para torná-las mais atrativas para a mídia. Mesmo olhando para trás para a época dos escândalos de doping envolvendo Lance Armstrong, os contratos das equipes profissionais e os patrocinadores das mulheres eram as primeiras coisas a serem cortadas. Muitas ciclistas profissionais ainda precisam ter outro emprego para manter a carreira no ciclismo. É urgente ter mais mulheres nos comitês organizadores de provas, para ajudar a espalhar essas ideias. Isso pode ser feito — há algumas mulheres de grande sucesso nas provas britânicas. 

Em um nível mais de base, comunitário, precisamos oferecer mais pedaladas acessíveis às mulheres, mais cursos de mecânica e de técnicas de pilotagem. Precisamos encorajá-las a pedalar em todos os níveis.

Eventos de ciclismo profissional feminino como o La Course (a versão delas do Tour de France) e o Giro Rosa têm ajudado a melhorar a situação?
Sem patrocínio e sem cobertura na mídia, não se tornam eventos que chegam às mulheres que mais precisam vê-los. Essas provas ainda não são transmitidas na TV britânica, o que é vergonhoso. Precisamos de cobertura de TV, de revistas de ciclismo, do jornalismo esportivo em geral.

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Equipe Favelaframa mostra energia brasileira no Red Hook Crit de Milão https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2018/10/05/equipe-favelaframa-mostra-energia-brasileira-no-red-hook-crit-de-milao/ https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/2018/10/05/equipe-favelaframa-mostra-energia-brasileira-no-red-hook-crit-de-milao/#respond Fri, 05 Oct 2018 17:25:04 +0000 https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/30979a76-69a8-4f18-bcd4-019784521439-320x213.jpeg https://ciclocosmo.blogfolha.uol.com.br/?p=1828 Neste sábado (6 de outubro), acontece o Red Hook Crit de Milão, uma das mais aguardadas provas de critério do calendário anual e a última desse porte na Europa antes do longo inverno que chegará lá logo mais.

Como já explicado aqui neste blog, as competições tipo “crit” rolam, geralmente, em circuitos fechados e curtos (de 1 km ou poucos quilômetros). Existem vários formatos de crit, porém quase todos costumam ser disputados em bikes fixas, aquelas com uma só marcha e sem freio, com pinhão fixo (em que se não pode parar imediatamente de pedalar).

Tratam-se de eventos de alta velocidade, cheios de adrenalina, com muitos acidentes e cenas cinematográficas de gente caindo aos montes. Diferentemente de outras vertentes mais “certinhas” da bike, nos crits a galera é mais jovem, tatuada, modernosa e festejante.

Se no início eram provas informais, que ocorriam longe das vistas das autoridades dentro de grandes centros urbanos, hoje diversos critérios nos EUA e Europa viraram sucesso de público, de mídia e de patrocinadores — e, nesses quesitos, ninguém supera o Red Hook Crit (RHC).

Original de Nova York, o Red Hook cresceu, ganhou versões em Barcelona, Londres e Milão. E o Brasil, mesmo com uma comunidade ainda muito nascente de “crit racers“, estará lá na Itália disputando cada milímetro de asfalto e cotoveladas com os melhores do mundo nessa modalidade.

Gabriel Rodrigues, fotógrafo e ciclista da equipe brasileira Favelaframa (Foto: Divulgação/Favelaframa)

Parte dos brasileiros em Milão estará representada na equipe Favelaframa, com cinco homens e duas mulheres — recorde na história deles em critérios internacionais.

O time foi criado por Henrique Leandro de Azevedo, 34, que mora em Barcelona há 12 anos, onde trabalha com turismo e hotelaria. A seguir, ele responde a algumas perguntas sobre o Favelaframa e os crits.

Por que você quis criar uma equipe de bike?
HENRIQUE LEANDRO DE AZEVEDO A equipe surgiu a partir de nossa paixão de competir e correr com provas protagonizadas por bikes fixas, como critérios e competições de pista. Atualmente somos em dez pessoas, e nossa família não para de crescer!

Qual a grande dificuldade de correr um crit?
A maior dificuldade para o rider é acertar a relação no dia da corrida (a relação da única marcha disponível na bike fixa; se for muito pesada, pode ser contraproducente; se for muito leve, o ciclista pode sofrer para acompanhar o pelotão).

O que você mais curte em critérios?
A adrenalina que permeia toda a corrida, e o ambiente entre as equipes e seus integrantes antes e depois dos eventos.

Vocês participam de provas em outras modalidades da bike?
Sim, especialmente ciclocross e ciclismo de estrada.

Os brasileiros Erica Harumi e Luis Porto, de uniforme azul, no Red Hook de 2018 (Foto: Gabriel Rodrigues)
Com dez ciclistas, o Favelaframa se tornou a maior equipe de brasileiros em crits (Foto: Divulgação/Favelaframa)
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