Egan Bernal vence o Giro d’Italia e amplia a força da bike na América Latina

Dois anos atrás, eu escrevia neste blog, com enorme emoção, que o colombiano Egan Bernal havia vencido a mais mítica competição do ciclismo de estrada, o Tour de France. Pois bem: o jovencito de 24 anos, nascido em Bogotá e criado no município de Zipaquirá, acaba de conquistar mais uma das três Grandes Voltas: o Giro d’Italia!

Não é a primeira vez que um colombiano vence o Giro. Em 2014, o conterrâneo Nairo Quintana cravou seu nome na história da competição italiana, e ainda levaria a Vuelta a España, a terceira Grande Volta, em 2016.

Entretanto o sonho de Quintana de vencer um Tour de France e se tornar, assim, o primeiro latino-americano a subir no lugar máximo do pódio na tríade do ciclismo mundial foi ficando cada vez mais distante com os anos.

Com sua vitória de hoje, no 104ª Giro d’Italia, Bernal enche a América Latina de esperança e prova, mais uma vez, que um país em desenvolvimento pode, sim, gerar grandes ídolos da bike — basta governo e sociedade terem seriedade, foco e incentivo, como há na Colômbia.

Bernal na etapa de contra-relógio do Giro 2021 (Foto: Giro d’Italia)

Nação de talentos ciclísticos, como Mariana Pajón, a maior estrela feminina da história do BMX, a Colômbia tem uma das relações mais lindas do mundo com a bicicleta. Não é apenas o território montanhoso andino que explica o sucesso do país nesse esporte.

Desde a década de 1950, quando aconteceu a primeira Volta à Colômbia, que o amor por esporte e bike tem acalentado corações colombianos, ajudando a melhorar a autoestima nacional tão dilacerada por anos e anos de guerra civil e miséria.

Além de Quintana e Bernal, o país tem outros astros, como Rigoberto Urán, Esteban Chaves e Fernando Gaviria, para citar os contemporâneos. Mas, lá atrás, vibrou com performances surreais de nomes como Martín Emilio Rodríguez (o famoso Cochise), Luis “Lucho” Herrera e Fabio Parra.

Nenhuma nação da América do Sul ama mais a bicicleta do que a Colômbia. Lá, a final de um Giro d’Italia para o país inteiro e pode ser assistida até em botecos na beira da estrada. Foi em Bogotá que nasceram as primeiras ciclovias do continente, a partir de um movimento universitário que abriu no muque espaço para bicicletas, em 1974.

Como já escrevi aqui quando Bernal venceu o Tour de France, a conquista de Egan Bernal não é apenas do ciclismo, e nem só da Colômbia, mas é de toda a Latinoamérica — onde demoramos tanto para compreender o poder transformador da bike, mas onde também aprendemos isso na marra com nossos Bernals, Nairos e Luchos.

(Foto: Giro d’Italia)