Filme mostra que tamanho do corpo pouco importa para quem ama pedalar

O novo documentário “All Bodies on Bikes”, lançado nesta semana, joga na nossa cara um dos maiores preconceitos no universo da bike: pessoas gordas — ou, como gostamos de chamar de maneira fascistinha, “acima do peso” ou “fora de forma”, como se existissem um peso ideal e um condicionamento certo a ser atingido.

O filme, produzido pela sempre competente produtora norte-americana Sweetgrass Productions, tem apenas 13 minutos, mas cada segundo que passa nos enche de emoção e esperança: enfim, os tempos estão mudando e já passa da hora de acelerarmos nossas bicicletas e deixar a gordofobia para trás. Chega!

“All Bodies on Bikes” é estrelado por Marley Blonsky, cicloativista que já liderou o movimento With These Thighs (Com Estas Coxas), que defende a diversidade de corpos na bike (entrevistei-a para este blog, leia mais aqui), e Kailey Kornhauser, que esteve na capa da revista Bicycling proclamando que “every body is a cycling body” (todo corpo é um corpo para se pedalar).

Bem produzido, com cenas lindas de uma cicloviagem de dois dias que a dupla fez recentemente pelo estado do Oregon (USA), o curta-metragem dá um tapa na cara de nós, que em gigantesca maioria acredita que ser um bom ciclista significa, sempre, ser magro.

“Ser rápido não é o que te faz ser um ciclista experiente’, diz Kailey no filme. “Para ser ciclista, você só precisa ser uma pessoa que pedala uma bike.” Simples assim.

Kailey, aliás, dá belíssimos depoimentos ao longo do documentário, cutucando a ferida desse problema: por que associamos gordura com sentimentos negativos? Por que achamos quase sempre que ser gordo é ser preguiçoso, feio?

Ela revela ainda que, por um longo tempo, usou a bike como forma de punição; era preciso sofrer para conseguir o corpo desejável. Pedalar virou parte da obsessão de queimar calorias, assim como uma perigosa restrição alimentar que a deixava com tonturas e vertigens.

Um dia, Kailey contactou Marley, atraída pela desenvoltura com que esta pedalava, sem vergonha do próprio corpo e mandando um baita recado para nossa sociedade doente: ela não estava ali para “consertar” seu corpo, muito menos para fazer com que parecesse menor.

Juntas, a dupla resolveu lutar pela inclusão no universo da bike. Ao final do filme (assista abaixo, na íntegra), elas se unem a outros ciclistas gordos, em um pelotão admirável de corpos “fora do padrão” — que pedalam por amor à bike, por diversão e para nos fazer entender que todos nós, sem exceção, podemos e devemos sentir o prazer inenarrável que a bicicleta nos proporciona.