Obrigada, mulheres que nos inspiram a pedalar sempre em frente
No Dia Internacional da Mulher, não tem como a gente não lembrar de algumas manas que, em cima da bike e fora dela, nos inspiram a pedalar sempre em frente, a não levar desaforo para casa, a seguir vencendo as pirambas da vida e, principalmente, a jamais desistir.
Nos últimos anos, cresceu vertiginosamente o número de mulheres que viram na bicicleta uma ferramenta de transformação, seja fazendo esporte ou se locomovendo pelas cidades. O Brasil não ficou de fora dessa tendência: por aqui, vemos cada vez mais mulheres vencendo seus medos para praticar um ato de coragem absurda: pedalar neste país machista, violento e onde governantes e motoristas ainda relutam em admitir o poder que tem a bike de mudar vidas e nações inteiras.
Seria impossível colocar aqui todas as mulheres que vêm me inspirando nestes anos, mas fiz uma seleção muito pessoal de minas que me surpreendem a cada dia. Muitas delas já deram entrevista aqui neste Ciclocosmo, sempre atento à importância dessa luta para todas nós.
Marina Kohler Harkot
Ah, Marina… você não podia faltar nesta lista. Cicloativista e pesquisadora arretada sobre mobilidade, a ciclista morreu aos 28 anos, em novembro de 2020, quando pedalava em São Paulo. O motorista José Maria da Costa Junior, de 33 anos, estava bêbado quando a atingiu. O Brasil perdeu, assim, não apenas uma lutadora pelos direitos de quem pedala, mas um talento brilhante em entender que as cidades devem ser pensadas para as pessoas, e não para os carros. Marina se foi, porém sua lembrança ficará sempre conosco. Feliz dia da mulher, Marina!
Galera sensacional da TransEntrega
Não adiantar tentar entrevistar a equipe dessa iniciativa incrível de entregador@s de São Paulo — já tentei várias vezes, e nada. Pouco importa: assim como projetos semelhantes, entre eles o Señoritas Courier, o TransEntrega é um serviço de bike messenger formado pela comunidade LGBTQI+ consciente não apenas sobre seu valor na sociedade, mas sobre questões de sustentabilidade e responsabilidade social e ambiental. Tem de ser muuuuuito valente para ocupar esse espaço numa cidade como São Paulo — e ainda fazer isso em cima de uma bicicleta.
Bugesera Women Cycling Team
Criado em 2020 em Ruanda, na África centro-oriental, a equipe de ciclismo feminina surgiu no interior desse país devastado por um genocídio em 1994 que acabou com a vida de cerca de 800 mil pessoas. Como já explique neste blog (leia aqui), Ruanda é um exemplo de como a bicicleta pode ajudar a acabar com rivalidades étnicas e reerguer a autoestima de um país inteiro. Ver uma equipe de meninas num distrito isolado de uma nação que ainda pena para cicatrizar as feridas do passado é algo de uma beleza emocionante. O jornal ruandês The New Times fez um vídeo bem legal com as atletas:
Juliana Hirata
Essa intrépida bióloga paulista está pedalando sozinha do Alasca até a Argentina desde 2016 (já escrevi sobre ela aqui). Juli não possuía experiência prévia com cicloviagem, mas tinha dentro de si uma vontade enorme de entender melhor o continente americano, em especial a América Latina. Viaja apenas com sua bagagem, um sorriso no rosto e um coração gigante, sempre pronto a ajudar quem precisa. Juli Hirata me inspira a não deixar que o amor pela aventura ciclística se apague, mesmo em tempos de pandemia.
Erica Elle, do Level Up Cycling Movement
A norte-americana Erica Elle se encantou pela bike, porém logo percebeu que havia bem pouco acolhimento para pessoas como ela — mulher, negra e amadora. Em vez de guardar a bike na garagem e desencanar de se “meter onde não é chamada”, ela criou o Level Up Cycling Movement (leia mais aqui), para ampliar o espaço de negros (mulheres e homens) no universo do ciclismo. O projeto organiza pedais com foco na diversidade, ensina pessoas a começar a pedalar e espalha a ideia de que a bike é para todos, independentemente de gênero, classe social, raça etc.
Talita Noguchi, do Las Magrelas e Chave Quinze
Impossível pensar na força de uma mulher e sua bike e não citar Talita Noguchi. Sua bicicletaria Las Magrelas, em São Paulo, tornou-se um ponto de encontro da diversidade, onde mulheres, lésbicas, trans, gays e toda a comunidade LGBTQI+ pode chegar, tirar dúvidas, fazer amizades, arrumar algum problema mecânico e — principalmente — se sentir em casa. Além de sua bike shop, Talita também faz parte do maravilhoso projeto Chave Quinze, que há anos posta vídeos com tutoriais de mecânica de bike.