Bogotá amplia ciclovias contra a pandemia; México estuda fazer o mesmo
Ontem postei aqui um texto explicando os cuidados na hora de se pedalar nesta época de pandemia. Fui surpreendida com leitores um tanto furiosos, me mandando não pedalar e ficar em casa. Um deles, fofo, de nome Luciano, mandou até um “vtnc” ao se despedir em seu email.
Como escrevi ontem, a situação mundial é ainda bastante incerta e, acima de tudo, devemos respeitar o que for decidido pelas autoridades de saúde. Na Espanha e na Itália, por exemplo, sair de bike está proibido, a não ser que seja para se deslocar ao médico ou a algum compromisso inadiável — e, nesse caso, qual melhor meio de transporte para isso? A bike, claro.
Em outras partes do mundo, porém, alguns governos perceberam que a bicicleta pode, sim, contribuir na luta contra a pandemia.
Veja a recente decisão tomada por Claudia López, prefeita de Bogotá, na Colômbia, um dos países nos quais a bike ocupa um espaço importante na identidade nacional. A cidade, de cerca de 7,6 milhões de pessoas, está expandindo sua malha cicloviária como medida de urgência contra o coronavírus.
A prefeita restringiu a circulação de veículos automotores, na esperança de melhorar a qualidade do ar da poluída Bogotá.
“Se aumentar a poluição do ar, aumentarão certamente as enfermidades respiratórias. Isso levará mais pessoas aos pronto-socorros, mais gente lotará os hospitais, limitando a capacidade que temos de responder ao coronavírus”, disse ela aos jornais locais.
Para isso, entre outras medidas, foram criados corredores emergenciais para bikes, em algumas das principais avenidas de Bogotá, como mostra o mapa abaixo:
O fechamento dessas avenidas já acontece nos finais de semana, e agora será permanente em horários específicos todos os dias, para que mais pessoas deixem carros e outros veículos e se locomovam pela cidade de bike.
Bogotá ganhará 76 km de ciclovias temporárias (sendo 22 km a partir do fechamento de sete grandes avenidas), além dos 550 km de vias já existentes para bicicletas.
Os trechos emergenciais das sete avenidas ficarão abertos para bikes das 6h às 8h e das 17h às 19h30, horários de maior movimento.
Em uma declaração oficial da prefeitura, López disse que a bicicleta “como meio de transporte individual, representa uma das mais higiênicas alternativas de prevenção contra o vírus”. E ainda afirmou que a cidade sofre três grandes ameaças atuais: a péssima qualidade do ar, as doenças respiratórias sazonais e, agora, o coronavírus.
Por isso, medidas como as novas ciclovias foram consideradas urgentíssimas, para evitar um colapso ainda maior do sistema de saúde de lá.
Na quarta-feira (18), uma ONG que estuda mobilidade nos Estados Unidos postou que a Cidade do México está estudando tomar medidas semelhantes. A organização, chamada Queen Anne Greenways, com sede em Seattle, publicou um mapa de como seria essa nova malha cicloviária mexicana:
A prefeitura de Nova York informou que tem havido um crescimento de 50% no uso de bike em algumas áreas da cidade, desde que começou a pandemia.
Muitos nova-iorquinos sabem que é bem melhor pedalar que pegar metrô ou ônibus lotado.
Tomando os devidos cuidados — como higienizar a bike e jamais pedalar muito perto de outras pessoas –, a bicicleta pode e deve ser uma ferramenta para que as pessoas contribuam na luta contra a pandemia.
E, antes de os haters mandarem seus phynos “vtnc”, é essencial aprendermos com outras cidades e países que já perceberam, anos-luz de nós, o poder da bike.
Nem é preciso concordar comigo: baste ler a coluna muito sabida de Peter Walker, no The Guardian de hoje. Ele escreve que a bicicleta, apesar de nos levar para fora de casa, não incentiva aglomerações e ainda é uma forma de as pessoas se mexerem um pouco.
Walker revela ainda que a Federação Britânica de Ciclismo escreveu para o secretário de saúde implorando para que coloquem “pedalar” entre as atividades recomendadas durante o surto do vírus.
Ele acrescenta que um grupo de 50 acadêmicos escreveu uma carta aberta ao governo do Reino Unido pedindo veementemente para que as autoridades não desencorajem as pessoas a pedalar e a caminhar nesta fase de pandemia — salientando a importância vital para a saúde pública no combate ao sedentarismo (que mata e adoece milhares de pessoas todos os anos).
Bons pedais e lave as mãos!