Em meio à crise mundial do coronavírus, a bicicleta se mostra (de novo!) uma forma de locomoção ideal: além de meio de transporte limpo, ajuda a evitar aglomerações, te faz mexer o corpo e ainda colabora para desanuviar a cabeça e mandar embora as bad vibes.

Mas alguns cuidados devem ser tomados, seja você um bike messenger, um atleta focadão ou um ciclista urbano. Parece meio óbvio escrever aqui coisas como “não pedale em grupo”, porém ontem mesmo, na ciclovia da Marginal Pinheiros, dava para ver noiados ciclistas pedalando forte em pelotão, em uma clara demonstração de egoísmo e falta de visão sobre si e sobre o resto do planeta.

Por isso, resolvi bater um papo com Fernanda Rodrigues Lima, médica do esporte do HC-USP e da Clínica Move e ciclista nas horas vagas.

Ela explica que praticar exercícios físicos regulares e de intensidade moderada (que os ciclistas conhecem como zonas 2 a 3) deixa o sistema cardiopulmonar mais saudável, melhora a imunidade contra infecções e também ajuda no sono e no humor.

“Em uma situação como a atual, manter o bom humor é fundamental”, diz Rodrigues Lima.

A médica ressalta ainda que se deve evitar pedaladas intensas e dietas para perder peso neste momento, tudo para proteger nossa imunidade.

Leia a entrevista a seguir antes de pegar sua bike. A situação está bastante incerta, então respeite qualquer medida das autoridades — na Itália, desde o dia 11 de março, não se pode pedalar, por exemplo. Se por acaso proibirem as atividades outdoor, obedeça imediatamente.

O quão perigoso é pedalar ao ar livre atualmente?
FERNANDA RODRIGUES LIMA Treinar ao ar livre ainda está permitido, desde que o ciclista não pedale em pelotões (mesmo que pequenos) e que  tenha higienizado o guidão da sua bicicleta. É importante também evitar paradas em cafés ou lugares com aglomerações. Agora o ideal mesmo é evitar sair de casa.

Que medidas devemos tomar, como ciclistas, para não piorar a situação geral? Tipo assoar o nariz enquanto pedala, isso se deve evitar?
Como ciclistas, temos que seguir as recomendações dos órgãos de saúde, como lavar bem as mãos, evitar contato físico, manter o distanciamento social. É recomendável não treinar em ambientes fechados nos quais haja compartilhamento de equipamentos (musculação e bicicletas de spinning, por exemplo). É super importante evitar assoar o nariz ou cuspir durante um treino. Como o vírus é transmitido por secreções, gotas desse material podem cair nas mucosas da boca, nariz e olhos e contaminar alguém próximo. Use um lenço descartável, se for o caso. E tente não tocar demais o rosto.

Você disse que se deve evitar treinos intensos agora. Por quê? E como avaliar o que é intenso, nesse caso?
O que as pesquisas sobre  imunidade e exercício mostram é que treinos muito intensos (como dar tiros ou sprints com potências altas) ou de longa duração (mais de 2 horas, por exemplo) podem promover uma queda temporária da imunidade nas horas seguintes ao treino, favorecendo infecções de vias aéreas. Portanto, em meio a uma pandemia, não faz sentido se expor a treinos como esses, especialmente agora que cancelaram competições e eventos esportivos. O ideal é tentar manter o condicionamento físico e ficar o mais saudável possível.

Além disso, é recomendável dar uma atenção redobrada ao carboidrato durante e reposição no pós-treino. Agora não é o momento de fazer dietas restritivas para perder peso. Essas dietas, em especial as low-carb, também podem interferir na resposta imunológica a infecções.

Se eu for pedalar com alguém, e a gente manter distância, vale?
Desde que se consiga manter a distância recomendada.

Que outros cuidados você recomendaria?
Muita atenção ao usar bicicletas compartilhadas. O ideal é limpar o guidão antes com álcool gel, usar luva e evitar levar a mão ao rosto. Outro ponto importante: assim que terminar o treino, imediatamente tirar a roupa suado e tomar banho o quanto antes. Em hipótese alguma treinar com febre: ao menor sinal de qualquer sintoma gripal, tire dúvidas com um profissional médico.