#WhyItMatters mostra a dura batalha por notícias do ciclismo feminino

Erika Sallum

O respeitadíssimo site australiano Cycling Tips era uma das poucas fontes legais de informação sobre mulheres ciclistas e suas conquistas. Batizado de Ella, sua editoria de women’s cycling era feita por mulheres e trazia de tudo um pouco: cobertura de provas, perfis de atletas campeãs, histórias inspiradoras e muita coisa bacana sobre equipamentos para nós.

Infelizmente, o site também padeceu da crise que tem assolado a mídia nos últimos anos e preciso demitir a equipe do Ella. Ficou ali uma lacuna triste, a jogar na nossa cara como somos, nós ciclistas mulheres, pouquíssimo valorizadas por marcas, jornalistas, influenciadores e, claro, competições (veja o Tour de France feminino tão minguado em tamanho e campanha de marketing).

Uns meses atrás, o Cycling Tips resolveu arregaçar as mangas: se as marcas — que tanto celebram, muitas vezes da boca para fora, a importância de mais mulheres pedalando — não apoiam, então eles mesmos iriam dar um jeito de ressuscitar a editoria feminina.

Em vez de anunciantes pagando, eles criaram o VeloClub, no qual os internautas se associam e pagam, conjuntamente, para receber uma cobertura decente sobre bikes e mulheres.

Para explicar seus motivos, os jornalistas do Cycling Tips não fazem rodeios:

Stories matter. Coverage matters. Normalising women in sport matters.

Covering the women in cycling and telling their stories is the most important thing we can do for the current and upcoming generation of cyclists.

(Em tradução livre: “Histórias importam. Cobertura da mídia importa. Normalizar as mulheres no esporte importa. Fazer cobertura jornalística sobre mulheres no ciclismo e contar suas histórias é a coisa mais importante que podemos fazer para a atual e as próximas gerações de ciclistas.)

A caramanhola de membros do Velo Club do Cycling Tips está quase cheia!

A meta é chegar a 1.000 membros do clube, o que possibilitaria manter financeiramente, por um ano todo, uma equipe toda dedicada à cobertura de ciclismo feminino.

Até agora, eles lutam para pelo menos chegar a 700 assinantes do VeloClub, o que já permite que tenham repórteres enviados para os grandes eventos ciclísticos femininos, como o Giro Rosa, o La Course (o Tour de France delas) e o campeonato mundial de ciclismo de estrada.

Essa iniciativa do Cycling Tips, apesar de não ser nova no mundo do jornalismo-em-eterna-crise, é de uma valentia desconcertante. Ah, é, as marcas estão cagando (sorry meu português, mas é necessário) para ciclismo feminino? Então vamos nos financiar de outro modo — conseguindo verba de quem realmente se importa com o tema (os leitores!).

A holandesa Marianne Vos, uma das atletas que apoiam o movimento #WhyItMatters (Foto: Reprodução)

O Cycling Tips não brinca em serviço: sua ideia veio embalada em uma genial campanha de divulgação, baseada na hashtag #WhyItMatters, ou seja, por que, ora bolas, esse assunto importa?

O site convidou ciclistas pica das galáxias, como a holandesa Marianne Vos (uma das maiores atletas de todos os tempos), para nos perguntar — e responder! — a essa pergunta: Por que cobrir ciclismo feminino importa?!

O comentarista esportivo australiano Matt Keenan vai direto ao ponto: “Porque eu quero que minha filha veja que ela é capaz de fazer tanto quanto meu filho”.

A norte-americana Alison Tetrick, que já foi ciclista profissional e hoje se especializou na modalidade gravel (não sabe o que é? Leia aqui que eu explico), resume otimamente:  “Importa porque isso não tem a ver apenas comigo, ou com você. Tem a ver com todo mundo”.

Ao longo do vídeo, que reproduzo aqui a seguir, os participantes vão falando que ciclismo feminino é uma tema que beneficia marcas, consolida a comunidade da bike, fortalece as futuras gerações. Coroando o filme, Vos “the Boss” esclarece aos mais desavisados: “Não é algo que importa por ser uma causa feminista ou algo do tipo. Importa porque nos ajuda a iluminar a beleza desse esporte”.

Ciclismo feminino importa! Mulheres fazendo esportes, quer seja correndo, nadando, voando de asa delta, importam. Se a indústria que vive disso não percebeu algo tão óbvio — e que nem sempre uma causa rende logo milhões de dólares a essas empresas –, então internautas e plataformas de informação como o Cycling Tips são atores cruciais nessa jornada. Porque, afinal, WOMEN’S CYCLING MATTERS.

Para mais informações sobre como participar, acesse womenscyclingmatters.com

E não deixe de ver este curto e maravilhoso vídeo da capanha: