Novo app americano permite denunciar maus motoristas
Cena comum para quem anda de bicicleta em São Paulo: do nada, você leva uma “fechada educativa”, na qual o motorista quase te mata para te fazer entender que “lugar de bike é na calçada”. O veículo arranca e vai embora, e não há nada a se fazer além de amaldiçoar o imbecil.
Um novo aplicativo, lançado neste mês nos Estados Unidos, quer acabar com esse tipo de atitude de quem dirige veículos motorizados, ao permitir que ciclistas reportem mau comportamento e violência por parte de quem fica atrás do volante.
O app, batizado de OurStreets, vai além, ao fazer com que as denúncias dos usuários formem um grande banco de dados sobre motoristas perigosos. E mais: essas informação poderão ser consultadas e utilizadas como base de pesquisas para prefeituras, ativistas e estudiosos do tema.
O aplicativo foi criado por Daniel Schep e Mark Sussman a partir de uma conta deles no Twitter chamada @HowsMyDrivingDC, que possibilitou a residentes de Washington DC mandar um tuíte com a placa de um carro e receber informações de multas e infrações do condutor do veículo (puxadas de um banco de dados público). A conta do Twitter logo virou um aplicativo de mesmo nome, no qual passou a ser possível detalhar que tipo de infração determinado motorista havia cometido, como estacionar em ciclovias, e até dizer se o carro é particular, táxi ou veículo público.
Mais até do que um mecanismo de defesa direta do ciclista no trânsito, o OurStreets tem como grande trunfo a gigantesca quantidade de informação reunida por seus usuários. Com isso, pesquisadores e autoridades poderão detectar problemas específicos que precisam ser trabalhados com políticas públicas eficientes.
O recém-lançado OurStreets funciona, por enquanto, apenas nos Estados Unidos, mas a ideia é expandir sua atuação para mais países.
Bati um papo com Mark Sussman, co-criador do app, para saber mais sobre o OurStreets:
Por que vocês decidiram criar o app OurStreets?
Primeiramente, para capturar de alguma forma violações do espaço público tão comuns, porém que passam muitas vezes batidas, como estacionar bloqueando uma ciclovia. Ao registrar essas infrações, temos em mãos informação sólida para melhorar a segurança e a infraestrutura das ruas.
Outro objetivo nosso é ajudar a dar munição a grupos ativistas em favor da mobilidade urbana, para que eles consigam dados essenciais para suas causas.
E, claro, queríamos empoderar os usuários mais vulneráveis das cidades, que são os pedestres e os ciclistas, por meio de uma ferramenta que os conecta uns com os outros, para que se sintam mais seguros e protegidos.
O quão efetivo o OurStreets pode ser em mudar a forma como motoristas se comportam em relação a ciclistas?
Alguns tipos de maus comportamentos de motoristas nunca vão mudar. Mas, a partir do momento em que fornecemos a governantes e pesquisadores informação sobre violações no trânsito, estamos contribuindo para que sejam criadas novas formas de proteger os ciclistas. E assim, aos poucos, vai crescendo o respeito a quem pedala na mesma rua que você dirige.
Como vocês esperam manter o app, em termos financeiros?
Temos alguns caminhos para fazer dinheiro com o OurStreets e, dessa forma, conseguirmos sobreviver. Um deles é trabalhar em conjunto com departamentos de trânsitos de várias cidades para integrar as informações captadas pelo aplicativo a seus projetos de planejamento urbano. Outra ideia é criar parcerias com empresas de micromobilidade, como as de patinente compartilhada – por meio do OurStreets, elas ficam sabendo dos problemas criados por seus produtos e, assim, conseguem resolvê-los mais rapidamente. Entretanto temos consciência de que somos um app novo e que precisaremos de, no mínimo, um ou dois anos para que prefeituras, empresas de micromobilidade e pesquisadores percebam as oportunidades de parcerias conosco.
Vocês planejam se expandir para outros países?
Hoje é possível usar o app em qualquer lugar dos Estados Unidos, e nós já estamos analisando pedidos para funcionar em outras partes do mundo. Não sabemos exatamente quando, mas vamos nos expandir internacionalmente logo.