Vá para a terra em 2020!
Quer uma boa resolução ciclística para 2020 (além de “vou comprar uma bike e fazer exercício”)?
Pegue sua bicicleta e vá para a terra encarar trilhas, sentir a natureza, pedalar e rir como se não houvesse amanhã, ficar com a perna maravilhosamente marcada por mato que raspa na pele nos singletracks ou coberta de poeira e areia. Não há jeito de se divertir mais em cima de uma bike do que em terrenos fora do asfalto.
Quando eu comecei a pedalar, uns 13 anos atrás, ou você fazia “speed” (ciclismo de estrada) ou mountain bike — e o MTB resumia-se quase sempre ao que conhecemos hoje como cross-country, que nada mais é do que explorar uma trilha longa, com bastante estradão de terra batida e alguns trechos de mato fechado.
Atualmente, graças aos deuses da bike, a cena é outra. Ainda existem as maravilhas do cross-country, mas novas modalidades injetaram ânimo extra a quem curte um conceito bem antigo, porém que entrou na moda: aventura.
Surgiram assim, as “adventure bikes”, que são uma sensacional combinação de estrada e terra, para quem quer começar o dia pedalando no asfalto, depois entrar em algum trecho off-road. Explorar, desbravar, curtir as mudanças do terreno, sair da “noia” do Strava e tentar novas habilidades são alguns dos atrativos do que também se convencionou chamar de “gravel”.
No Brasil, o gravel teve o azar de chegar quando nossa economia iniciava seu caminho rumo ao abismo. Dólar nas alturas, pouco dinheiro no bolso, e assim fomos (quase) deixando a onda passar, enquanto babávamos não só pelas bikes como por provas de gravel, como a Dirty Kanza, que acontece anualmente no Kansas (EUA) e virou uma das competições mais legais da modalidade.
Mas, devagarzinho, estamos conseguindo fazer nossos pedais na terra. Tem ajudado bastante a iniciativa de marcas nacionais de apostar nesse filão, como a mineira Sense, que vem lançando modelos honestíssimos para a prática do gravel, porém a preços mais camaradas que as importadas.
E ainda há a vantagem de que as bikes de gravel são ótimas para usar na cidade durante a semana, pois aguentam bem o “tranco” de nossas ruas esburacadas.
Em 2020, vamos até mesmo sediar uma etapa de BikingMan, um circuito mundial de provas de ultradistância que mistura trechos desafiadores em estradas de asfalto e de terra, com muuuuuuita subida.
Sua prova mais famosa é o Inca Divide, no Peru (falei dela neste post aqui), mas existem edições em diversas partes do mundo. No dia 7 de junho, será a largada da etapa brasileira, que terá 1.000 km, com 17.000 metros de altimetria acumulada. No percurso, passagens pela Mantiqueira, Itatiaia, Vale do Paraíba, entre outros lugares — com 70% de asfalto, 25% de terra e 5% de bloquetes ou paralelepípedos.
Veja o teaser das etapas do BikingMan em 2020:
Temos ainda a Diverge Gravel Race, patrocinada pela Specialized, marca que fabrica as bikes de gravel Diverge e que sempre incentivou bastante a modalidade. A prova tem se mostrado um sucesso, com percursos de 100 km e 65 km, sempre mesclando terrenos variados.
Em São Paulo, grupos como o Fuga.cc volta e meia organizam rolês de gravel para apresentar a mais “estradeiros” o prazer da terra.
Brasileiros também têm se lançado em expedições de gravel fora do país, como os mineiros do Peloton pelo Mundo (Instagram @pelotonpelomundo). Eles estão fazendo uma viagem de fim de ano pelo Atacama, no Chile, pedalando em uma das paisagens mais surreais para quem curte bike.
A revista norte-americana Bicycling (que tem versão brasileira, na qual eu trabalho) também sacou o poder dessa tendência e lançou recentemente uma espécie de “bíblia” do gravel, com dicas de treinamento, equipamentos, nutrição, tudo voltado para quem quer se aperfeiçoar no esporte.
Há outras vertentes ciclísticas off-road que também transformaram a ida para as trilhas em diversão garantida — escreverei logo mais sobre o enduro, que aos poucos ganha adeptos por aqui.
Resumindo: que nosso 2020 não seja apenas repleto de bicicletas, mas que elas rumem para a terra, voltem para o asfalto, fujam para os paralelepípedos de vez em quando, em um vai-e-vem de aventuras esplendorosas em duas rodas!