Como Paris está se tornando a ‘capital mundial da bike’

Em 2014, Paris se propôs um desafio: até 2020, se transformar na “capital mundial da bicicleta”. Cinco anos depois, a cidade está caminhando — ou melhor, pedalando — velozmente para cumprir a promessa.

Para isso, o governo municipal desenvolveu um “Plan Vélo de la Ville de Paris: 2015-2020”, detalhando tudo o que precisava ser feito para que mais parisienses se locomovessem de bicicleta — incluindo um investimento de 150 milhões de euros para dobrar a malha cicloviária e melhorar a infraestrutura em geral.

Segundo o plano, Paris ganharia, até o ano que vem, 1.400 km de vias reservadas para bikes. Estamos em dezembro de 2019, e a capital já conta com 1.000 km — duas vezes mais que os espaços que o governo municipal vêm delegando às motos. Por vias cicláveis, incluem-se ciclovias sinalizadas com pintura no chão, outras separadas dos carros e também corredores de ônibus onde é permitida a circulação de bicicletas.

Junte-se a isso mais estações de bikes compartilhadas e autoridades que estão focando em tornar a bike um dos mais importantes meios de transporte em uma capital que sofre com trânsito e metrô lotado.

Mapa da infraestrutura cicloviária do Plano da Bike de Paris

Os resultados são surpreendentes: desde o período do pós-Guerra (quando começaram as primeiras medições de trânsito), o número de deslocamentos em automóveis diminuiu 5% entre 2010 e 2018, na região de Île-de-France, onde fica Paris.

Claro que esse dado não se deve apenas à bike, mas principalmente ao investimento em transporte público. Entretanto o aumento nas viagens realizadas em vélo também têm ajudado a tirar os carros da capital.

De setembro de 2018 a setembro de 2019, por exemplo, houve um crescimento de quase 54% na quantidade de pessoas que usam a malha cicloviária. Se o mês de comparação for fevereiro de 2018 e 2019 — quando o frio afugenta grande parte dos ciclistas –, o salto foi de 145%.

Exemplo de ciclovia protegida dos carros (Foto: Divulgação/Prefeitura de Paris)

Apesar de ainda faltarem 400 km para que o objetivo de 1.400 km de vias seja 100% alcançado, outras melhorias foram realizadas para incentivar mais pessoas a pedalar. Foram investidos 7 milhões de euros na criação de mais de 10.000 vagas para estacionar as magrelas.

As famosas Vélib’, como são chamadas as bikes para alugar na cidade, enfrentaram um período de degradação, com parisienses furiosos reclamando do mau estado das bicicletas e problemas na hora do pagamento. Mas agora há mais unidades disponíveis, com um serviço que tem passado por reestruturação para atender às demandas do Plan Vélo.

U-lá-lá, que inveja dos ciclistas urbanos parisienses, não é mesmo? (Foto: Mal Langsdon/Reuters)

Outra sacada genial da estratégia em favor da bike em Paris tem sido a construção da Réseau Express Vélo (REVe), uma rede de pistas expressas totalmente protegidas dos veículos motorizados e que vão cortar a cidade de norte a sul e de leste a oeste.

A primeira fase da REVe está para ser inaugurada agora e vai de D’Ivry-sur-Seine até Javel, do Bois de Vincennes ao Bois de Boulogne e da Porte d’Aubervilliers ao Châtelet.

Para complementar a REVe, outras ciclovias menores serão interconectadas a ela, para que andar de bike em Paris seja rápido, fácil, barato, seguro, saudável e divertido.

Que um dia nossos governantes se inspirem em exemplos assim, em vez de apagar ciclovia, proibir ciclista de pedalar em universidade pública e fazer de tudo para que levar a bike em metrô e ônibus seja um pé no saco.