Geógrafo chileno documenta de bicicleta o recuo dos glaciares sul-americanos

O geógrafo chileno Marcos Cole, 36, sempre foi um aficionado por montanhas, fotografia e bicicletas.

Guia de montanha e também autodidata em glaciologia, ele decidiu unir as três paixões em uma expedição de bicicleta pelos glaciares de seu país. O objetivo: fotografá-los para documentar os estragos que as mudanças climáticas têm causado nessas geleiras tão peculiares e delicadas da América do Sul.

Cole tem passado os últimos anos documentando glaciares na América do Sul, com e sem bici (Foto: Reprodução)

Foram seis meses pedalando, partindo do norte do Chile, até chegar ao sul do país, onde Cole sofreu um acidente e teve sua bike destruída. Desde então, ele continua sua jornada de proteção aos glaciares por meio da fotografia, só que agora usando diversos meios de transporte. Além das fotos, atualmente ele dá palestras pelo continente falando de sua experiência e da situação das geleiras.

A seguir, ele responde a algumas perguntas do Ciclocosmo e revela seu amor pela natureza — de preferência em cima de uma bicicleta:


Glaciar no Valle Exploradores, no Chile, registrado por Marcos Cole (Foto: Reprodução)

Por que você decidiu documentar os glaciares de bike?
MARCOS COLE A ideia de viajar de bike fotografando os glaciares do Chile teve origem em três paixões minhas de muitos anos. A primeira são os glaciares, que descobri em minha juventude, quando comecei a praticar montanhismo aos 16 anos. A segunda paixão é a fotografia, hobby que iniciei na mesma época em que passei a escalar montanhas. E, por fim, claro, a bike, esporte que pratico desde que me conheço por gente. Aí decidi combinar esses três amores em uma viagem pelo Chile assim que o governo do país rejeitou meu pedido de ajuda para estudar glaciologia na França — um fato que me deixou extremamente triste.

Quantos quilômetros você pedalou nestes meses de expedição?
Eu não fiquei marcando minha quilometragem, mas certamente mais de 5.000 km em seis meses.

Quais os objetivos principais de seu projeto?
Primeiramente, fotografar o maior número possível de glaciares dos quais pudesse me aproximar de bicicleta. Assim eu conseguiria comparar essas fotografias com imagens antigas tiradas por diferentes exploradores e cientistas. Tudo para mostrar os efeitos das mudanças climáticas nos glaciares. Em segundo lugar, meu objetivo foi promover a bicicleta como um meio de transporte eficiente na luta contra o aquecimento global. E, por fim, queria contar o que presenciei em talks ou em livro, para divulgar a diversidade dos glaciares chilenos e promover sua proteção.

Cole na Sierra Velluda, montanha mais alta da região de Bio Bio, no Chile (Foto: Reprodução)

O que você viu de mais impressionantes em seus pedais pela região dos glaciares?
Vi tantas coisas interessantes nesses meses de viagem, incluindo, claro, o pôr do sol mais incrível da minha vida, quando cruzei o deserto do Atacama sozinho. Mas o mais impressionante foi mesmo constatar a velocidade com que os glaciares chilenos estão diminuindo — tipo situações como chegar a um lago onde, menos de 70 anos atrás, ficava um glaciar enorme. Além das belezas do Chile, também muito me impressionei com a ajuda de tantas pessoas com as quais topei pelo caminho, e que não queriam nada em troca.

Onde começou e terminou sua jornada?
Iniciei a expedição em Arica, no norte do Chile, uma cidade à qual cheguei de avião com minha bicicleta. De lá, pedalei pelas montanhas dos Altiplanos até a Patagônia. Terminei no sul, em Villa O’Higgins, onde sofri um acidente e quebrei minha bike. Mas, a partir de então, continuei minha viagem fotografando os glaciares chilenos usando outros meios de transporte. Já são mais de 20 anos estudando e explorando os glaciares do Chile e de outros países.