Tour du Faso: a volta ciclística mais legal da África
Apesar de eurocêntrico, elitista e predominantemente branco, o ciclismo felizmente também movimenta nações para muito além da França, Itália e afins.
Na África, há atualmente voltas ciclísticas queridíssimas pela população local, a exemplo do Tour du Rwanda e do Tour du Cameroun. Porém não há evento de “estrada” (aqui entre aspas devido às vias bem pouco pavimentadas do continente) mais festejado do que o Tour du Faso.
País empobrecido de 18,6 milhões de pessoas e sem saída para o mar, Burkina Faso organiza essa volta há longevos 32 anos! Em 2019, ela acontece entre 25 de outubro a 3 de novembro.
O Tour du Faso foi criado em 1987, durante o regime de Thomas Sankara, que tomou o poder e começou a implementar políticas de extrema esquerda, até ser substituído em um golpe por Blaise Compaore (que ficaria no comando por 27 anos).
São dez etapas para completar mais de 1.300 km em meio à savana africana. Poucas delas contam com o que nós conhecemos como “asfalto”. Boa parte é mesmo composta por um misto de vias praticamente de terra ou pedregulhos.
Em 2019, o evento chega com novidades: algumas das etapas vão passar pelo Togo, em um gesto de aproximação com o vizinho.
Como em Ruanda, o ciclismo une os habitantes e enche de orgulho uma nação acostumada a ditadores, golpes de estado, crises de ebola e outros tormentos. Por tudo isso, o Tour du Faso é considerado uma das voltas mais legais e entusiasmadas da África – e uma fascinante oportunidade para se conhecer mais sobre a história e a cultura de lá.
Bati um papo com Yanesmanegré Bruno Sawadogo, presidente da Fédération Burkinabè de Cyclisme e também do comitê organizador do tour, que é chancelado pela UCI (a União Ciclística Internacional).
(Veja a poeira que é pedalar por lá neste trailer de documentário alemão de 2014 dirigido por Wilm Huygen)
De que forma o Tour du Faso contribui para fortalecer o ciclismo e a própria nação?
O Tour du Faso é um dos mais importantes eventos de ciclismo da África. É uma bela vitrine para nosso país, tanto no plano nacional como no internacional. Leva o esporte para as pequenas cidades por onde passa e inspira jovens a seguir essa carreira.
Há atualmente, por exemplo, 18 ciclistas daqui participando em três equipes. Temos vagas limitadas, por isso nossos ciclistas dão tudo de si para merecer um lugar na seleção final.
Quais são as principais dificuldades de se organizar o tour?
Todo ano temos dificuldade em controlar nossos gastos. O governo faz esforços e nos ajuda, e sua contribuição representa um terço do orçamento. Os outros dois terços são pagos por patrocinadores, nem sempre temos diversas marcas contribuindo em um país com nossa situação econômica.
Quantos ciclistas participam geralmente do tour?
São cerca de 17 equipes e algo em torno de 100 ciclistas profissionais.
O Tour du Faso frequentemente recebe competidores internacionais, em especial da Europa, onde os atletas contam com mais infraestrutura e grana para treinar. Como os ciclistas locais se sentem tendo de competir ao lado dos estrangeiros?
Nosso tour é uma oportunidade para uma importante troca cultural e esportiva. O percurso aqui é bem plano, o que favorece nossos ciclistas, que não ficam incomodados com a presença dos europeus.