Mulheres pedalam Tour de France inteiro em protesto por igualdade de gênero
Enquanto o Tour de France 2019 masculino brilha como um dos maiores eventos esportivos do planeta durante 21 dias de emoção, a reduzidíssima versão feminina da competição aconteceu nesta sexta-feira (19 de julho) de forma tímida: apenas uma etapa (de 121 km), quase nenhuma cobertura de mídia, pouca informação sobre a prova e grandes ciclistas mulheres um tanto frustradas por terem de aceitar que — pelo menos, ufa! — há uma tentativa de dar alguma força a elas nessa modalidade tão dominada pelos homens.
Batizado de La Course, o Tour de France feminino é um dos grandes exemplos de como marcas e a comunidade ciclística em geral poderiam fazer muito mais pela igualdade de gênero.
A prova de uma só etapa, que existe desde 2014, surgiu após um movimento internacional de um grupo de ciclistas, entre elas a estrela holandesa Marianne Vos (que venceu a edição 2019!), para que uma versão do Tour para mulheres voltasse a acontecer após tímidas edições femininas da competição terem existido entre 1984 e 2009. Houve até um abaixo-assinado que conseguiu 10 mil assinaturas em dois dias e 100.000 em três meses.
Entretanto os anos se passaram e o La Course nunca ganhou a dimensão que se esperava — de se tornar um evento com várias etapas e diferentes tipos de percursos, no qual velocistas e escaladoras (especialistas em montanhas) pudessem mostrar todo seu talento, resultando em uma prova competitiva e interessante de acompanhar.
Mas quem disse que nós, mulheres, nos contentamos com pouco?! Nunca, muito menos agora na era das redes sociais, na qual podemos atrair a simpatia de muitas outras com fotos e vídeos!
Neste ano, dez corajosas ciclistas estão pedalando TODAS as etapas do Tour de France, durante 21 dias e 3.460 km, para chamar a atenção para a desigualdade de gênero no esporte e para inspirar futuras gerações de garotas e subir na bike e lutar por seus direitos. Pedalam no mesmo trajeto sempre um pouco antes de os astros do Tour dos homens.
Elas não foram as primeiras a fazer isso. Em 2015, três francesas enfrentaram o duro percurso do Tour de France, inaugurando o projeto Donnons des elles au vélo J-1.
O objetivo é o mesmo desde então: lutar para que sejam criadas voltas ciclísticas de várias etapas para elas, para que assim conquistem mais espaço na mídia, mais visibilidade e, como consequência, mais patrocinadores e salários que se equiparem aos homens.
Em 2019, as francesas ganharam a companhia das InternationElles, com atletas do Reino Unido, Estados Unidos e outros países. Contando a equipe toda, incluindo manager e treinadores, estão participando dos esforços sete países de três continentes, o que dá uma dimensão mais diversa à empreitada.
Como quase sempre no ciclismo feminino, elas não podem se “dar ao luxo” de viver só de seu esporte. No InternationElles, há advogada, psicóloga, cientista, administradora, todas fazendo jornada dupla para incentivar seu esporte e a luta pelos direitos das mulheres em geral.
Semelhante ao que se passa em outros esportes — e na sociedade como um todo –, nós, mulheres, ganhamos menos e recebemos apoio infinitamente menor de marcas. Porém, como as meninas do InternationElles estão mostrando, temos todas as condições de encarar competições desafiadoras como um Tour de France.
Não basta criar uma prova de uma só etapa para “inglês ver”. Poxa, a gente quer torcer por nossas ídolas ciclísticas, como a holandesa Anna van der Breggen e a australiana Tiffany Cromwell, para citar aqui apenas duas (são muitas!).
Queremos mais. Podemos mais. Merecemos mais. Se for preciso pedalar o mundo todo para provar isso, vamos lá.