Coletivo brasileiro do Sul transforma pedais em filmes poéticos

No ciclismo de estrada internacional, tem sido abundante nos últimos anos a produção de conteúdo de extrema beleza. Fotos, vídeos, zines, espalhados por meios que vão do Youtube ao impresso, vem mostrando que pedalar pelas estradas se tornou muito mais que um esporte — é um estilo de vida único e sensacional.

Diferentemente das produções de ação e adrenalina de modalidades como o BMX ou enduro, as imagens da “road life” prezam a perspectiva pessoal de quem filma, foca em pequenos grandes detalhes, joga o olhar do espectador para cenas em que muitas vezes nada acontece, porém tudo está acontecendo.

Que o diga o duo Lachlan e Angus Morton, dois irmãos australianos precursores da ideia de que o ciclismo de estrada é muito mais do que conquistas atléticas. Sua série de filmes Thereabouts tem inspirado centenas de bikers mundo afora.

No Brasil — onde temos pedalado mais, porém registrado e produzido pouco e muito aquém de nosso potencial (preguiça, talvez?) –, um dos grupos que mais sacou a poesia por trás de cada aventura no asfalto é o COG.CC, com seis integrantes espalhados por Curitiba, Joinville e Blumenau.

Munidos de câmeras Sony RX100 (uma das melhores compactas que existem), eles captam algumas das mais belas imagens do ciclismo de estrada nacional, como pode ser visto em seu Instagram (@cog.cc) e canal no YouTube. Nesta quarta (26 de junho), às 19h, lançam a segunda parte do projeto cinematográfico Out of Boundsassista aqui ou abaixo:

O filme, como o primeiro (assista aqui), é despretensioso ao mostrar uma das expedições do grupo pelo sul do país.

Não há a intenção de exibir técnicas de filmagem, louros da performance ou recordes de quilometragem. Os meninos do COG.CC emocionam pelo amor que sentem pelo simples ato de se reunir e compartilhar um prazer comum. Pegam suas bikes e lançam-se no mundo, com uma jovialidade ingênua que encanta e toca o espectador.

Chuva, frio, vento, nada disso é obstáculo para os COG irem para a estrada (Fotos: Reprodução)

Há um estilo europeizado em suas fotos e vídeos — mas o Sul do Brasil é nossa região mais europeia. Boa música, arte bem feita e um olhar sensível completam o conteúdo do sexteto ciclístico mais elegante do país.

Com o sexteto, o espectador pedala junto pelo Sul do Brasil (Fotos: Reprodução)

As fotos postadas pelo grupo em suas redes sociais, assim como os filmes que publicam em seu canal no YouTube, chamam há tempos minha atenção. Bati um papo com um dos integrantes, Arthur Maas, de 25 anos. O COG.CC também é formado por Ciro Hoeller, 26 anos; Diego Mendes, 29 anos; Levi Koch, 33 anos; Luiz Testoni, 26 anos; e Marlon Hammes, 34 anos.

O que move um grupo de ciclistas a registrar seus momentos em movimento, em um esporte complicado de captar exatamente por causa disso?
Pensamos em compartilhar e inspirar. Estaríamos registrando esses momentos de qualquer maneira, e levar isso para uma plataforma maior do que cada uma de nossas contas pessoais parece fazer sentido. É sobre manter uma conexão na comunidade, e mostrar o ciclismo de dentro para fora de uma maneira artística.

O COG.CC tem um estilo mais internacional — os vídeos e fotos de vocês poderiam ser confundidos com produções europeias. Isso se deve em parte pelas origens e natureza mais europeias do Sul do Brasil? Vocês refletem sobre essa escolha estética quando filmam?
Temos muita sorte e muito azar ao mesmo tempo. Essas imagens podem gerar tanto o que consideraríamos elogios, ao sermos comparados às nossas inspirações, como também podem nos fazer parecer só mais um grupo de pedal no meio de tantos gringos. O cuidado e a reflexão sobre tudo que fazemos é constante. Somos pessoas bastante críticas e estamos sempre buscando o novo.

Vocês almejam algo ao filmar? Tipo patrocinadores? Ganhar público? Muito do conteúdo que se tem produzido no mundo da bike acaba se restringindo ao Instagram. A ideia de vocês é continuar nesse meio, ou expandir para projetos que englobem outros formatos?
Não almejamos conseguir vários patrocínios, até para não tornar comercial algo tão puro que produzimos. O que temos feito é apresentar propostas para que apoios viabilizem as produções. Buscamos reconhecimento artístico e ganho de alcance. Nossa principal plataforma para vídeo é o YouTube, antes de tudo. Além de ser mais adequada, ela nos permite legendar, compartilhar de maneira mais ampla. Em segundo lugar, usamos o Instagram junto com o IGTV porque é mais focado no nosso nicho, tornando mais fácil de alcançar as pessoas de maneira assertiva, apesar das limitações que às vezes nos impedem de realizarmos algumas ações.

Como vocês captam as imagens? Todos vocês filmam? 
A fiel Sony RX100 é sempre nossa principal escolha. Nessa última viagem que gerou o filme, tivemos quatro dessas câmeras poderosas, mas compactas. Em momentos de muita chuva, nós usamos um iPhone XS, e recentemente recrutamos um Galaxy S9 para suprir essa necessidade também. Nesse último projeto, tivemos acesso a um equipamento para captação de voz para a locução do vídeo. Foram poucas frases, mas não poderíamos deixar de dar a atenção merecida aos detalhes. Sobre captação de imagem, todos tentam contribuir de alguma forma. Marlon é sempre quem acaba focando mais nessa parte de criação e direção — além de muito talentoso, ele sempre tem um roteiro em mente quando saímos para pedalar e dá as direções do que acha que devemos filmar para contar uma história da melhor maneira possível.Por fim, por que vocês amam pedalar? 
Existem tantos motivos! Podemos citar as amizades, a exploração, a aventura, a possibilidade de criar algo que que vai ficar em nossas memórias para sempre. A bicicleta foi sempre tão ativa em nossas vidas que não pedalar seria como perder um pedaço de nós. Hoje somos todos muito gratos pelas amizades que fizemos por causa da bicicleta, ainda mais quando olhamos para trás e vemos o que o COG se tornou no decorrer dos anos.