Marcas de roupas de bike enfim tentam ser mais conscientes e sustentáveis

Erika Sallum

O boom pelo qual o mundo da bike vem passando, aqui e lá fora, também se deve em boa parte a uma revolução no conceito de se vestir para pedalar. Se antes valia qualquer camisa de ciclismo (conhecidas como “jerseys”) e o que se via eram pelotões terrivelmente multicoloridos e com roupas esportivas de gosto duvidoso, hoje esse cenário mudou bastante.

Com o surgimento de marcas como a britânica Rapha, o mercado foi injetado com uma alta dose de estilo, e quem pedala aos poucos ganhou mais noções sobre moda. Levaram-se ainda alguns anos até que outras iniciativas aparecessem, mas hoje é impressionante ver a multiplicação de marcas com criações cada vez mais elegantes e eficientes — no Brasil também, mesmo em nossa absurda crise econômica, como as jerseys do Daemon Cycling.

A Isadore Apparel, da Eslováquia, se juntou à campanha Fashion Revolution (foto: Divulgação)

Agora uma nova e bem-vinda tendência começa a sofisticar ainda mais o mercado de roupas de bike: produtos mais sustentáveis, eco-friendly e que também incentivam o consumo consciente e uma cadeia de produção mais transparente.

Um belo exemplo acaba de ser dado pela eslovaca Isadore Apparel, famosa entre ciclistas de estrada que curtem jerseys discretas, de modelagem impecável e “Euro style”. A empresa se uniu à campanha mundial Fashion Revolution, criada há seis anos para expor o impacto da moda no mercado de trabalho e no meio ambiente. Ficaram famosas suas fotos de trabalhadores segurando cartazes com os dizeres “I made your clothes” (Eu faço suas roupas), com o objetivo de mostrar o ambiente mais “saudável” das fábricas usadas por marcas antenadas a essas questões.

Fotos dos funcionários que produzem as roupas de bike da Isadore (Foto: Divulgação)

Ao aderir à campanha (#whomademyclothes), a Isadore também escancarou aos clientes onde são feitas suas peças — 56% na Eslováquia, 15% na República Tcheca, 15% na Lituânia, 11% na Itália etc. Ou seja, ali não se usam “sweat shops” exploradores em países em desenvolvimento, prática que felizmente vem abalando gigantes da indústria da moda como a Zara.

A Maad faz jerseys com tecido orgânico tingido com plantas (Foto: Divulgação)

A moda ciclística consciente também vem dando as caras na forma de produtos confeccionados com materiais mais amigáveis à natureza, caso da Maad Cycling. Lindíssimas e diferentes do que se vê por aí, as jerseys da Maad são feitas pela italiana Franka Ramia, que mora em Barcelona. O tecido selecionado é orgânico, tingido manualmente a partir de plantas e minerais locais, além de restos de comida. Cada camisa acaba sendo única — e as estampas de folhas são, na verdade, as próprias plantas que deixaram suas “digitais” no pano.

A norte-americana Danny Shane é outro case de sucesso. Criada no Texas, a marca desenvolveu um tecido que mistura poliéster e carvão de bambu. Como se sabe, o poliéster, muito usado em vestuário esportivo, é extremamente prejudicial ao meio ambiente, tanto em sua confecção quanto pelas partículas que libera quando é lavado — e que vai depois para o fundo dos oceanos. A marca ainda usa poliéster, mas pelo menos é reciclado.

A texana Danny Shane faz suas roupas a partir de um tecido que usa poliéster reciclado e carvão de bambu

Localizada nos Alpes franceses, a Matchy Cycling inovou: suas jerseys mais recentes são feitas a partir de garrafas de plástico recicladas. A marca diz que passou a utilizar matéria-prima 100% reciclada, divulgando que em uma jersey recicla seis garrafas de plástico. E garante que o tecido é respirável, confortável, durável e perfeito para quem pedala. Suas peças são elegantes, misturando um ar clássico do ciclismo europeu com ventos mais moderninhos do mundo da bike.

Fora isso, a empresa não utiliza nenhum tipo de embalagem de plástico e todas as suas etiquetas são feitas de papel reciclado.

Cap, corta-vento e jersey femininos da eco-friendly Matchy Cycling

Além de garrafas de plástico recicladas, as jerseys e outras criações da britânica GRN também usam redes de pesca, restos de carpete, de outros tecidos e de produtos descartados de nylon. Seus criadores também afirmam que 80% do tecido utilizado contém material reciclado e 20% de Lycra, para dar flexibilidade e compressão. Em seu site, também são vendidas carteiras para ciclistas produzidas manualmente a partir de câmeras de pneus de ônibus, pelo coletivo Sapu, da Indonésia.

Restos de redes de pesca, carpetes e tecidos descartados são a matéria-prima das peças da marca GRN

Existem outras empresas do mercado de bike fazendo esforços semelhantes — e que, só por isso, já merecem nossos parabéns. Pedalar é estar no outdoor, aproveitar a natureza, amar o ar livre e as paisagens que passam ao redor. Vestir-se bem para pedalar deixa treinos e rolês mais divertidos, e pode ser um baita incentivo na hora que bate aquela preguiça. Mas curtir a bicicleta sem nenhum compromisso com o meio ambiente ou com condições decentes de trabalho é, no mínimo, bizarro. Pense nisso na próxima vez que for comprar uma roupa de bike.