Nos meses que antecedem o verão europeu, Mallorca (ou Maiorca, em catalão), no arquipélago das Baleares, se torna um lugar dos sonhos para quem ama pedalar — seja por esporte, cicloturismo ou apenas para sentir o vento no rosto de vez em quando.

Localizada no mar Mediterrâneo, é a maior ilha dessa província e comunidade autónoma espanhola, reunindo todos os ingredientes para ciclistas e triatletas: estradas de asfalto perfeito, com poucos carros, montanhas desafiadoras e cercada de paisagens absurdas e um mar clarinho que premia quem se atreve a explorar a região em duas rodas.

Foi para lá que viajei na semana passada, de férias, com a “missão” de descobrir se Mallorca era mesmo tudo isso que falam — e é, sim!

Que fique claro logo de cara: se você procura desafios extenuantes, de altimetria sufocante, melhor ir para os Alpes ou a Colômbia (bem mais perto, em conta e ainda pouco explorada por nós, brasileiros). A maior subida de Mallorca não passa dos 15 km, porém dá para fazer várias montanhas no mesmo dia e voltar para o hotel com as pernas em frangalhos.

O charme da ilha não está apenas na beleza. Nos meses de fevereiro a maio, quando o frio ainda se faz presente porém com o calor já anunciando sua chegada, a região fica repleta de bikes de todos os tipos, especialmente as de estrada e triathlon. Não é todo dia que se tem o enorme prazer de pedalar ao lado de um oceano azul turquesa, cercado de bicicletas de cores e design diversos, em uma atmosfera que exala esporte e amor pela bicicleta.

Para quem curte ciclismo de estrada, o ideal é programar a viagem para até fim de maio, quando ainda não há tantos carros de turistas, e se hospedar no norte da ilha, onde ficam as montanhas. No meu caso, o local escolhido foi um hotel a poucos quilômetros do vilarejo murado de Alcúdia.

Perto dali, ficam alguns dos pedais mais famosos de Mallorca, como a monumental montanha de Sa Calobra (com 9,5 km e média de 7%) e Cap Formentor (um trajeto de uns 50 km, com sobe-e-desce inacreditavelmente belo que termina em um farol que é o cartão-postal do ciclismo local).

Se você prefere pedalar sozinho ou em dupla, as estradas são tranquilas e de fácil acesso. Eu acabei indo com um grupo de triatletas mineiros, reunidos pelos simpaticíssimos criadores do Peloton pelo Mundo. Assim pude conhecer outros ciclistas, pegar vácuo na roda de novos amigos e dar risadas nos jantares pós-pedal.

Mas lá não tem mistério: basta pesquisar esses pedais conhecidos em apps como o Strava — e também vale se perder, sem preocupação com roteiros definidos ou planilhas de treino.

Palma, a capital da ilha, é a maior cidade, com um centro antigo repleto de atrações turísticas como a catedral e o castelo. Suas ruazinhas também oferecem preciosidades ciclísticas elegantes, entre elas os cafés-lojas das marcas Rapha, britânica, e Café du Cycliste, francesa. Além de um espresso bem tirado, você pode admirar as roupas de ciclismo — caras, elitizadíssimas, porém de qualidade impecável.

Nem pense em se aventurar de bike por lá na alta temporada. Calor extremo, baladas intermináveis (Ibiza é vizinha) e muitos carros tornam os pedais no mínimo perigosos.

Não esqueça de levar roupas de frio para pedalar. Na semana passada, encaramos temperaturas gélidas que bateram nos 7 graus Celsius, com descidas com ventania cortante. Entre os itens, um protetor de pescoço e boas luvas de dedos longos fazem a diferença.

Mesmo com o termômetro não muito amigável, os dias em abril costumam ser azuis — mas, por ser uma ilha, Mallorca volta e meia recebe chuvas fortes repentinas. Esteja preparado psicologicamente para pedalar molhado.

Nada que estrague alguns dos pedais mais lindos que você terá a chance de fazer na vida.