Guia das maiores Clássicas de Primavera

Enquanto as Grandes Voltas (Giro d’Italia, Tour de France,Vuelta a España) não chegam, o calendário do ciclismo de estrada 2019 começa a se eletrizar com as Clássicas de Primavera, na Europa. Tratam-de de provas mais curtas que as voltas em etapas, em geral de um dia de duração, e que oferecem ao público algumas das mais emblemáticas cenas desse esporte.

Tradicionais (algumas com mais de 100 anos), costumam misturar dificuldades extremas ao longo de percursos implacáveis, que incluem trechos de terra e/ou paralelepípedo, além de subidas de lascar. Muitos astros do ciclismo, como o eslovaco Peter Sagan, adoram participar, o que deixa essas competições ainda mais imperdíveis.

Sangue, suor e lágrimas fazem parte do roteiro de provas como Paris-Roubaix, na França, e Tour de Flanders, na Bélgica. Subidas terríveis são as protagonistas, como o Mur de Huy, que faz parte da também belga La Flèche Wallonne — uma ladeira horripilante de 1,3 km com média de 9,8% (como o ciclismo classifica o grau de dificuldade das subidas) e um trecho absurdo de 25%, íngreme para dedéu. O público europeu vibra como jogos de futebol por aqui: gritos, cartazes, gente fantasiada, cerveja e muita animação caracterizam a torcida presente nos acostamentos.

Em São Paulo, cafés com temática de bike como o King of the Fork, o Velo 48 e o Lanterne Rouge sempre contam com amplas TVs passando várias das Clássicas ao vivo. Chame os amigos, peça um bom cafezinho e curta essas batalhas de titãs em duas rodas, em algumas das mais belas rotas europeias.

A seguir, preparei um guia com informações e datas das principais Clássicas de Primavera para você não deixar de participar dessa festança. Algumas importantes, como a italiana Strade Bianche, já rolaram, por isso fique de olho para não perder as outras. A lista segue em ordem cronológica:

MILÃO-SANREMO

Quando: 23 de março
Onde: Itália
Por que assistir: Com mais de 100 anos de idade, é uma das cinco “Monumentais” Clássicas de Primavera, como são chamadas as provas mais longas e importantes desta época. O percurso tem 291 km, pelo qual já pedalaram mitos como o belga Eddy Merckx, o maior vencedor da competição até hoje, com sete títulos. Apesar de a maior parte do trajeto não ser de grande dificuldade, os quilômetros finais cortam duas subidas duras, terminando em uma descida traiçoeira na qual os mais ambiciosos arriscam a vida para pisar no pódio. Como se tudo isso não bastasse, a prova passa por cinematográficas paisagens italianas.

GHENT-WEVELGEM

Quando: 31 de março
Onde: No berço do ciclismo de estrada, na região de Flanders, na Bélgica
Por que assistir: Com extenuantes 251 km, a prova te dá a chance de ver grandes ídolos quase sempre encharcados de chuva, morrendo de frio e lutando para vencer estradas sinuosas. Trata-se de uma competição boa para sprinters (velocistas), pois não conta com tantas subidas assim — porém algumas são de chorar, como a Kemmelberg, de paralelepípedo, 1,3 km de extensão e gradiente que chega a 23%. Apesar de ficar a uns 30 km da linha de chegada, a Kemmelberg é um ponto estratégico, que separa “os homens dos meninos”, como se diz no ciclismo.

TOUR OF FLANDERS (ou RONDE VAN VLAANDEREN)

Quando: 7 de abril
Onde: Bélgica
Por que assistir
: Pergunte a um belga qual o dia da primavera mais legal de todos, e quase sempre a resposta será a data do Tour de Flanders. A “Ronde” está na 103o edição, e em seus quase 268 km rolam algumas dos momentos mais históricos do ciclismo. Muitos apontam-na como a mais dura das Clássicas, devido a seus trechos íngremes de paralelepípedo e clima miserável típico da Bélgica. Subidas como a de Bosberg já entraram para as lendas do esporte, sendo palco de duelos fantásticos de nomes como Tom Boonen e Fabian Cancellara (ambos com três vitórias no evento).

PARIS-ROUBAIX

Quando: 14 de abril
Onde: França
Por que assistir
: Que os belgas me desculpem, mas não há Clássica como a Paris-Roubaix. Conhecida como o “Inferno do Norte”, teve a primeira edição em 1896 e até a celebrity eslovaca Peter Sagan já penou para vencê-la, em 2018. Seus trechos de paralelepípedo, que levam à fronteira com a Bélgica, se tornaram mundialmente famosos. O final é triunfal: para completar o trajeto de 257 km — sendo 54 km de paralelepípedo –, é necessário dar voltas no Velódromo de Roubaix, onde os competidores precisam ter energia para o sprint derradeiro. Desde sua criação, foram vitoriosos 56 belgas, contra 30 franceses. A foto acima, da mão de um dos ciclistas após a prova, mostra o sofrimento que é pedalar em trechos de pavés trepidantes. Se tiver que escolher uma Clássica para ver neste ano, fique com esta.

AMSTEL GOLD RACE

Quando: 21 de abril
Onde: Holanda
Por que assistir
: Na terra dos Países Baixos, cerca de 30 curtas subidas íngremes dão o tom a essa prova relativamente “nova”, inaugurada em 1966. A marca de cerveja Amstel é a patrocinadora do evento desde sua primeira edição. O percurso já mudou bastante ao longo dos anos, mas costuma ter por volta de 260 km. Uma boa nova é que, desde 2017, após um intervalo de 14 anos, acontece uma versão feminina da competição. O maior vencedor de sua história foi o holandês Jan Raas, com cinco títulos.

LA FLÈCHE WALLONNE

Quando: 24 de abril
Onde: Bélgica
Por que assistir
: Uma das mais prestigiosas Clássicas é também uma das mais difíceis. São quase 196 km, culminando no belga Mur de Huy, citado no começo deste texto. Curiosidade: a prova sempre acontece em uma quarta-feira, para que os ciclistas tenham alguns dias para se recuperar antes de outra Spring Classic renomada, a Liège–Bastogne–Liège. Em seu pódio, já pisaram nomes como Eddy Merckx, Bernard Hinault, Fausto Coppi e, mais recentemente, Cadel Evans e Alejandro Valverde (seu maior ganhador, com cinco vitórias). Paisagens rurais misturam-se a vilarejos e construções históricas — se for passar férias na Bélgica, considere visitar o país na época do evento, para ver de perto a alegria dos locais na torcida por seus ídolos.

LIÈGE–BASTOGNE–LIÈGE

Quando: 28 de abril
Onde: Bélgica
Por que assistir
: Parte das Cinco Monumentais, a prova é carinhosamente chamada de a “Velha Senhora”, por ser uma das mais antigas — sua primeira edição se deu em 1892. São 256 km de pura emoção. Muitos entusiastas apontam-na como a Clássica mais casca-grossa de todas. Após seguir para Bastogne, os corajosos competidores pagam seus pecados no retorno a Liège, quando enfrentam mais dez subidas ferozes, quase sempre longas e íngremes. No YouTube você pode achar cenas antigas de Eddy Merckx (seu maior vencedor) e outras lendas dando tudo de si para completar o evento.