Jovens de Londres contra-atacam crimes com o Bikes Up, Knives Down
Londres, no Reino Unido, vive atualmente uma epidemia de crimes envolvendo armas brancas como facas. Os protagonistas são, em sua maioria, jovens de classe média baixa de regiões mais carentes como East London.
Os crimes com facas e armas perfurantes atingiram neste ano seus índices mais elevados desde 2010, segundo reportagem do jornal britânico The Guardian. Só na Inglaterra e Wales no período entre setembro de 2017 e setembro de 2018, o sistema criminal do país lidou com 21.381 casos desse tipo. Cerca de 4.500 das ocorrências foram cometidas por crianças, algumas de apenas 10 anos, de acordo com o Ministério da Justiça, em reportagem do Independent.
Para tentar conter a onda de esfaqueamentos, um grupo de jovens vindos dos bairros mais afetados decidiu se unir. E sua maior ferramenta para contra-atacar a violência são, veja só, suas bikes, em um movimento sensacional batizado de Bikes Up, Knives Down (em tradução bem livre, algo como Bikes Sim, Facas Não).
Um novo documentário, “Knives Down, Bikes Up”, acabada de ser lançado sobre o tema (assista na íntegra logo a seguir), com cenas poéticas e entrevistas em off com criadores do movimento. Um deles, cujo apelido é Jake 100 (@jake100_), tem apenas 19 anos, mas um sólido senso do quanto uma simples bicicleta pode mudar a cultura de raiva que permeia a juventude londrina.
“Se você dá a garotos e garotas a oportunidade de fazerem o que têm vontade, desde que seja algo positivo, você acaba afastando-os de coisas ruins com as quais podem se envolver”, diz ele, no filme, em uma referência aos rolês de BMX, bikes fixas e mountain bikes que sua galera curte fazer pela capital inglesa. “Nós não estamos forçando essa molecada a pegar uma bike. Estamos apenas mostrando para eles as possibilidades, unindo jovens com os mesmos problemas e o mesmo background.”
Duas vezes por ano, o movimento organiza o pedal Bikestormz, que chega a reunir mais de 4.000 pessoas — em eventos não exatamente “tranquilos”, criticados por muitos londrinos ao verem uma multidão de jovens dominando as ruas e empinando a roda da frente (“dando um grau”, como se diz por aqui, ou wheelie, em inglês).
O diretor do novo filme, Matt Dempsey, contou em uma recente entrevista ao site do Barbican Centre, que os índices de criminalidade só aumentaram enquanto ele e sua equipe estavam na fase de produção do curta-metragem, o que lhe deu ainda mais foco e força para continuar com o projeto.
O Bikes Up, Knives Down foi criado de forma absolutamente despretensiosa, sem nenhum grande apoio por trás. Não deseja ser um exemplo de “boa conduta” para ninguém, muito menos pode ser visto como uma organização formal.
Tratam-se de garotos que amam pedalar e que viram em uma paixão em comum a chance de mostrar novos caminhos além de rivalidades, ódio e brigas. Por isso mesmo, é um movimento de um frescor impressionante. Atualmente os ciclistas contam com o apoio da prefeitura e da polícia de Londres para organizar os eventos. Há um canal de vídeos, o Bike Life TV, para fortalecer o senso de comunidade, e pessoas de outros locais da capital e de várias faixas etárias são acolhidas, incluindo ciclistas de quase 40 anos.
No ano passado, a iniciativa atraiu a atenção de outros filmmakers, Conor Cronin e Ronan Gallagher, que produziram um minidoc de beleza também comovente (na íntegra, no final deste texto).
Simples no conceito — a bike muda vidas e une pessoas –, mais simples ainda na realização de suas ideias por meio de pedais e amizades reais e virtuais, o Bikes Up, Knives Down vem dando uma lição de esperança para quem achava que furar os outros com uma faca era uma válvula aceitável para seu próprio sofrimento. Agora, para essa galera, pedalar em grupo parece bem mais legal.