Zine retrata o amor do Japão pelas bikes

O paulista Ricardo Ampudia, 34, voltou de uma viagem ao Japão com mais de 300 fotos mostrando a íntima relação dos habitantes daquele país com a bike.

O jornalista e designer tinha uma ideia da forte ligação dos japoneses com a bicicleta, porém se surpreendeu ao perceber como a magrela está intrinsicamente inserida no dia a dia de quem vive em cidades como Tóquio.

Após um extenso processo de seleção das imagens, a experiência acabou se transformando no zine “Jitensha – Um jornada visual pela cultura da bicicleta no Japão” (“jitensha” significa bicicleta em japonês).

Com um bonito design gráfico, a publicação de 30 páginas mostra o peculiar estilo japonês de quem se desloca em duas rodas nas cidades nipônicas, as pilhas de bike estacionadas por todas as partes, os habitantes despretensiosamente despreocupados com o olhar estrangeiro de Ampudia e sua câmera.

Feito artesanalmente, “Jitensha” pode ser encomendado por R$ 25, diretamente com o autor, pelo email riampudia@gmail.com.

A seguir um bate-papo com Ampudia sobre sua encantadora publicação, que nos faz querer viajar para a Ásia e passear de bicicleta pelas ruas estreitas e avenidas do Japão.

Como você teve a ideia de fazer um zine a partir de sua viagem?
RICARDO AMPUDIA Na verdade, eu já tinha pensado nisso antes de viajar. Sabia que no Japão havia uma cultura de bike muito forte, e fui pensando em retratar isso quase como uma pesquisa etnográfica. O zine foi o produto final após bater mais de 300 fotos.

O que mais te agradou no Japão em relação ao povo e à bike?
Acho que a naturalidade com que a bicicleta se inclui na cidade e na vida das pessoas. Não é como um esporte, uma cultura urbana ou ativismo; no Japão, andar de bike revela-se natural como pegar um trem ou um carro

Como você abordava as pessoas a serem fotografadas?
Eu não abordava ninguém. Queria retratar essa naturalidade, então ficava sempre atento para boas cenas e composições. A maioria das imagens foi tirada com o celular, então era algo de sacar uma cena e fazer a foto. A barreira da língua é muito difícil por lá. Pouca gente fala inglês, os japoneses são muito prestativos e educados, porém não muito abertos.

Gosto muito da foto da mãe com a criança e compras. Esse tipo de bicicleta é muito comum lá. Na frente das escolas infantis, há estacionamento em fila dupla de mamacharis. É incrível porque não traz aquela consciência de “temos um filho, precisamos de um carro”, mas sim “temos um filho, precisamos de uma bike maior”.

Eu estava na fila do mercado quando vi a cena e fiz a foto dali mesmo, usando a porta de moldura.

Também gosto da que está na capa. Era na ilha de Naoshima, bem conhecida por seu um museu a céu aberto. A foto mostra só um pescador no fim do expediente, pegando a magrela e voltando para casa, traduzindo bem a naturalidade do transporte lá.

Que outras coisas te impressionaram por lá sobre as bikes?
Os bicicletários públicos. No Japão, há muita infraestrutura para bicicleta, você encontra estacionamento por todos os lados, muita sinalização de onde pode e onde não pode andar e parar. Entrei em um bicicletário em Uno que tinha dois andares, abarrotado de magrelas. Para quem fica carregando dois cadeados para prender bike em poste em São Paulo, escorre até uma lagriminha…

Você se inspirou em algum outro projeto semelhante para fazer o zine?
Eu leio bastante sobre bikes e também adoro fotolivros e fotografia em geral. Não me inspirei em nada específico, mas eu gosto muito do trabalho da Copenhagenize, que estuda a bike por essa perspectiva urbanística e cultural.

Você pedala há quanto tempo?
Pouca gente começa a pedalar adulto, então é mais correto dizer que eu voltei a pedalar há uns 12 anos. Eu tinha saído da faculdade e o único esporte fazia era rolar no sofá. Comecei a procurar bicicletas e achava tudo muito caro, até que passei em uma bicicletaria de bairro e um cara estava se desfazendo de uma Caloi 10. Andar em uma bike de estrada pela primeira vez é como explodir sua cabeça para um universo novo. Nunca mais parei.