Novo livro mostra como a bike pode salvar as cidades de seus piores erros
Copenhague tornou-se nas últimas décadas o paraíso de urbanistas conscientes e de gente que ama bikes: na capital da Dinamarca, 41% de todos os deslocamentos diários de casa para o trabalho acontecem de bicicleta, e 62% dos habitantes escolhem pedalar para ir trabalhar ou estudar, segundo dados do governo.
Lá apenas 12% dos residentes usam carro, e até parte das lixeiras são instaladas na direção em que os ciclistas pedalam, para que possam jogar o lixo enquanto estão em movimento.
Sonho, né? Mas, para se chegar a essa realidade, que para nós brasileiros soa utópica, foram décadas de debates, discussões urbanísticas, erros e acertos. Parte das lições aprendidas por Copenhague, além de outras boas soluções para transformar cidades a partir do uso da bicicleta, foi compilada em um novo livro, Copenhagenize: The Definitive Guide to Global Bicycle Urbanism.
A obra é de autoria do jornalista canadense Mikael Colville-Andersen, que na última década ganhou fama com seu blog Cycle Chic e sua organização Copenhagenize, especializada em bicicletas e urbanismo. Midiático, Mikael participa de TEDs pelo mundo advogando o poder da bike para revolucionar cidades e esteve à frente do boom de ciclistas que invadiu capitais do mundo todo — incluindo menos sortudas como São Paulo.
O autor é um tanto verborrágico em seu livro, que muitas vezes parece uma transcrição de suas palestras. Mas isso em nada tira o poder de suas palavras em cada página. Ali está muito bem contextualizada a agressiva transformação sofrida em todo o planeta com a adoção dos veículos motorizados como o centro da vida do cidadão urbano.
Esprememos os pedestre em calçadas, priorizamos vias exclusivas para automóveis, deixamos a bicicleta, outrora fiel companheira, em situação de ostracismo e criamos o caos do trânsito e dos acidentes com carros. Tudo em nome da indústria automobilística, e não das pessoas que vivem nesses lugares.
Em seu livro, Mikael mostra o absurdo de antiquadas teorias de engenharia de trânsito, que ainda usam modelos dos anos 1960 para, por exemplo, determinar a velocidade máxima permitida em determinadas ruas. Ainda vivemos achando que progresso é ampliar ruas e avenidas — mesmo sabendo que isso, na prática, apenas tem trazido mais e mais automóveis e problemas.
Mikael não está interessado na bicicleta como ferramenta para uma boa saúde, muito menos como esporte ou até para defender o meio ambiente. Como ele explica, os habitantes de Copenhague usam tanto a bike pela simples razão de que ela proporciona viagens mais rápidas do que outros tipos de deslocamento.
“A bicicleta pertence à cidade. É a mais perfeita sinergia entre tecnologia e o desejo humano por se mover de um ponto a outro. É o mais perfeito veículo urbano já inventado”, diz ele.
Mas, para que a bike seja aproveitada em toda sua glória por urbanistas e suas cidades, é preciso que pensemos em ciclovias realmente funcionais, em projetos urbanos que parem de valorizar o transporte passivo (carros) e foque no transporte ativo (bikes, pedestres), em ideias práticas que ajudem o que todos nós queremos em uma cidade: ir de um ponto A ao B da forma mais prática, barata, rápida possível.
Por isso, Mikael conclama uma “redemocratização do asfalto”, onde se leve em conta as necessidades de quem habita as cidades, e onde as ruas foquem em pedestres e ciclistas. Gastamos trilhões para fazer vias exclusivas para carros, mas reclamamos da grana gasta pela prefeitura para conceber ciclovias — ainda metemos o pau em “ciclistas doidos” que enfrentam diariamente o trânsito absurdo de lugares como São Paulo.
O livro Copenhagenize mostra que transformar cidades não é tão complexo e caro assim. Desde o século 19 temos a nossa frente uma das melhores soluções para isso: a bicicleta. Copenhague já provou como a bike pode tornar nossas vidas muito mais felizes, em todos os sentidos. Alguns paulistanos também já sacaram isso.
- Livro: Copenhagenize: The Definitive Guide do Global Bicycle Urbanism
Autor: Mikael Colville-Andersen
Editora: Island Press
Quanto: US$ 18,56 (papel, sem o frete); US$ 24 (Kindle), na amazon.com