Gay’s Okay defende a diversidade na cena ciclística
Ciclistas adoram falar sobre velocidade, recordes, força, treino. Muitos ainda curtem fazer piadas e brincadeiras machistoides e homofóbicas para descrever algum colega mais devagar ou não tão treinado ou “corajoso”. “Mas é uma bicha mesmo, né? Tá com medinho de pedalar comigo e ver quem ganha, hein, viado?”, vivia dizendo um colega meu do mountain bike aos companheiros de trilha. Em suas andanças pelo mundo nos últimos seis anos — durante as quais trabalhou como bike messenger em nove cidades, em seis países –, o escocês Allan Shaw também percebeu a cultura “macho man” que permeia o universo da bike. E decidiu que queria ajudar a acabar com isso.
“Apesar de eu ser homossexual assumido e confiante, e de ter sido quase sempre bem aceito por outros ciclistas com quem convivi, dei-me conta do quanto essa atitude preconceituosa pode intimidar as pessoas”, diz ele, que tem 28 anos e atualmente vive em Copenhague, na Dinamarca.
Allan resolveu criar um projeto de roupas e objetos para ciclismo que fosse também um manifesto pela inclusão daqueles que não se identificam com os tradicionais modelos sociais de gênero. Irreverente, linda, colorida, toda good vibes, a Gay’s Okay produz caps (bonés de ciclismo), camisetas e moletons descolados — que podem ser usados por ciclistas e não ciclistas, queers, gays, heteros, lésbicas, pouco importa; o que importa é a diversidade e o respeito. Parte da renda é revertida para entidades que promovem a inclusão da comunidade LGBTQ+.
Conversei com Allan sobre seu projeto, sua paixão por bikes e, claro, sobre inclusão e empoderamento na cena ciclística.
Como começou a ideia de criar a Gay’s Okay?
ALLAN SHAW: A Gay’s Okay foi criada, originalmente, para empoderar e dar maior visibilidade aos bikes messengers queers (gay, lésbicas, bissexuais, pansexuais etc.). A comunidade dos bike messengers — como o resto da comunidade ciclística — é dominada por homens hetero. Mas também é uma comunidade que atrai todos os tipos de pessoas alternativas e maravilhosas. O primeiro cap que produzi teve apenas 100 unidades, porém logo descobri que nossa mensagem não se tornou popular apenas entre a comunidade LGBTQ+, mas entre muita gente simpatizante.
Foi aí que eu percebi que havia uma real oportunidade de encorajar um ambiente totalmente novo, que incentive e celebre a liberdade de todo mundo ser quem quiser. Desde então eu comecei uma loja online, criei dois novos modelos de cap, camisetas e me comprometi a dividir parte dos lucros com organizações de apoio às causas LGBTQ+.
Como são criados os produtos?
Eu tenho uma rede de colaboradores: ciclistas, bike messengers, designers, artistas, que me ajudam nas criações. A Gay’s Okay é uma marca coloridíssima, de mensagens poderosas. É também um projeto sobre amigos! Eu acredito no processo colaborativo, de unir diferentes ideias, de trabalhar junto para chegar a um produto final. Conto com gente como Pedro Toda, bike messenger fodástico e um talentoso artista gráfico, e Jody Barton, artista consagrado internacionalmente e que também pedala. Não se trata de um projeto de um homem só — a Gay’s Okay é sobre todo mundo!
E o que a bike representa para você nesse contexto todo?
Para mim, a bike sempre foi uma prova da minha força, da minha capacidade e de liberdade. Em cima do selim, posso ir para onde quiser, posso superar qualquer obstáculo. Esse auto-empoderamento é sagrado para mim, por isso se tornou muito importante ajudar outras pessoas a quebrar barreiras para pedalar. Nesse sentido, a Gay’s Okay é uma forma de dizer a essas pessoas todas que elas são maravilhosas e que elas têm um amigo aqui.