Pesquisa revela que bike poderia elevar PIB de SP

Qual o real impacto do uso da bicicleta em uma cidade como São Paulo? Quais os reflexos que o aumento do número de ciclistas teria por aqui em áreas como mobilidade urbana, economia, meio ambiente, saúde? Esse tipo de pesquisa ainda é rara em países como o Brasil, onde governos federal, estadual e municipal pouco focam suas energias em saber melhor como e se a bicicleta poderia contribuir para o desenvolvimento.

Turista durante passeio de bicicleta pelo centro de Sao Paulo. (Foto: Divulgação)

Por isso é com grande interesse que temos de observar os resultados de um estudo inédito realizado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), com patrocínio do banco Itaú Unibanco, divulgado nesta quinta-feira (10 de maio). A pesquisa, realizada em São Paulo em 2017, buscou estimar os impactos possíveis do uso da bicicleta como meio de transporte na cidade de São Paulo. Para isso, o CEBRAP realizou entrevistas domiciliares (com 1.100 ciclistas e não-ciclistas, entre 20 de setembro e 10 de outubro), comparou dados de condições de vida, combinou estimativas populacionais e gastos públicos, em uma tentativa de estimar os principais impactos que o uso da bike teria em níveis individual e social.

As conclusões da pesquisa são surpreendentes, mesmo para quem, como nós, ciclistas, já está cansado de saber que a bicicleta teria resultados extremamente positivos para a cidade como um todo se existissem, de fato, políticas públicas para incentivar mais pessoas a pedalar. Agora temos números para comprovar nossos “achismos”. Na área de saúde, por exemplo, segundo a pesquisa, se a população do município incorporasse a bike em suas atividades físicas, haveria uma economia anual de R$ 34 milhões no Sistema Único de Saúde (SUS) só em internações por doenças cardiovasculares e diabetes.

Na economia, os resultados positivos também foram mensurados. Em relação aos gastos mensais dos indivíduos, calculou-se quanto cada pessoa economizaria com transporte caso utilizasse a bike em “viagens pedaláveis” (aquelas de até 8 km entre origem e destino, realizadas entre 6h e 20h, por pessoas com até 50 anos), em dias úteis. O impacto em nossos bolsos seria considerável, em especial nas classes mais baixas (economia de 14% na renda mensal, ou R$ 214, em média) — veja a tabela abaixo.

Os pesquisadores também projetaram um aumento do PIB municipal levando em consideração o ganho de tempo no deslocamento caso parte das viagens de ônibus e carro fosse substituída por bicicleta, o que geraria um aumento na produtividade (não só para ciclistas, mas para a população em geral). “Se o potencial ciclável das viagens realizadas de automóvel e ônibus em São Paulo fosse aproveitado, haveria um acréscimo de aproximadamente R$ 870 milhões no PIB municipal por ano”, diz Carlos Torres Freire, coordenador do CEBRAP responsável pela pesquisa.

Há um capítulo dedicado inteiramente ao meio ambiente, que calculou o impacto da redução da emissão de poluentes a partir da substituição de ônibus e carros por bicicleta. De acordo com o estudo, 31% das viagens de ônibus poderiam ser feitas de bike, o que levaria a uma diminuição de 8% do CO2 emitido por esse meio de transporte. Quando se leva em conta os automóveis, até 43% dessas viagens poderiam ser substituídas por bicicleta, o que representaria uma redução de 10% das emissões. Somando tudo, poderíamos nos ver livres de 18% das emissões de CO2 resultantes dos transportes no município. Não é pouca coisa. Ainda sobre o meio ambiente, os pesquisadores também calcularam quanto os ciclistas da capital já contribuem atualmente para a diminuição desses gases: são 3% de redução de CO2 devido a viagens feitas em bicicleta.

Ainda sobre o impacto do meio ambiente, porém na dimensão individual, constatou-se que os ciclistas sentem muito mais prazer, relaxamento e satisfação, além de menos estresse, ao transitar pela cidade do que aqueles que não pedalam. “Os resultados de nosso trabalho mostram que os ciclistas tendem a ter menos estresse e irritação, menos medo de se atrasar e menos desconforto se comparado à população da cidade”, explica Torres Freire.

A pesquisa também ajudou a esclarecer melhor o perfil e os hábitos de quem pedala e de quem não pedala em São Paulo, em relação a classe social, que tipo de meio de transporte utiliza mais, quantos dias por semana usa a bike e as ciclovias, e por aí vai (como mostram algumas das tabelas aqui publicadas, tiradas diretamente do estudo do CEBRAP). Cerca de 31% da população estaria disposta a usar a bicicleta para se deslocar — e, dentre essas, apontam que os principais motivos para isso são as melhorias na infraestrutura cicloviária (31%) e maior estímulo à atividade física (30%). Entretanto ainda falta muito para que mais pessoas pedalem por aqui: metade da população não demonstra nenhuma vontade de incorporar a bike em sua rotina.

 

“Se políticos e a população em geral têm dificuldades de compreender por que é importante incentivar o uso da bicicleta em grandes cidades como São Paulo, nosso estudo joga luz em muitas respostas”, diz Torres Freire. “Trata-se de uma pesquisa bem robusta, feitoa com muita dedicação e cuidado. Mas nem de longe capta todo o potencial do uso da bike nas cidades.”

Governantes, se não acreditam em nós, que pedalamos diariamente por uma capital caótica como a nossa, pelo menos vejam esses números — e comecem já a pensar em políticas públicas que fomentem o uso da bike, e logo!