Documentário mostra a coragem das garotas que pedalam no Afeganistão

Erika Sallum

Há um ditado no Afeganistão que diz: “Se você sentar e eu sentar, outros vão sentar. Se você levantar e eu levantar, outros se levantarão também”. Um grupo de meninas e mulheres afegãs levou o ditado além — se você pedalar e eu pedalar, então outras certamente pedalarão. E, com o vento no rosto e as mãos no guidão, essas ciclistas se transformaram em símbolos de resistência feminina. Ganharam atenção internacional, foram indicadas ao Prêmio Nobel da Paz e são as principais estrelas de um documentário que estreia neste mês de abril.

Dirigido pela norte-americana Sarah Menzies, Afghan Cycles levou anos para ser realizado. Começou com uma visita da diretora ao país e uma ideia inicial de fazer do projeto apenas um curta-metragem sobre meninas corajosas que pedalam em um terra arrasada pela guerra e pela pobreza. Mas, durante as filmagens, Sarah e sua equipe perceberam que as ciclistas eram, na verdade, autênticas ativistas de direitos humanos das mulheres, e por isso mereciam um documentário de fôlego. Foram anos e anos para arrecadar grana para finalizar o filme, que fica pronto agora e deve conquistar muitos prêmios em festivais pelo mundo (veja o trailer a seguir).

Afghan Cycles retrata uma nova geração de jovens afegãs que estão pedalando sua própria revolução. Elas estão desafiando barreiras culturais e de gênero, usando a bicicleta como um veículo literal e metafórico de liberdade, empoderamento  e mudanças sociais”, diz Sarah, em um texto sobre seu filme.

A ciclista Frozan focada em seu treino, apesar das ameaças (Foto: Jenny Nichols)

O documentário acompanha, de 2013 a 2017, a trajetória de ciclistas da Equipe Nacional de Ciclismo Feminino do Afeganistão, na capital, Cabul. Para muitas delas, ser atleta resulta em ameaças e violência não apenas de desconhecidos, mas de suas famílias. Por conta disso, uma das personagens centrais do filme acaba imigrando para a França quando a equipe vai competir na Europa. Em determinado momento, o foco das câmeras de Sarah deixa de ser Cabul e as atletas para se deslocar pelo interior, no Vale de Bamiyan, no centro do país. Lá, ela acompanha um grupo de meninas locais que, a bordo de suas mountain bikes, fazem compras, passeiam, vão à escola — demonstrando uma independência raras vezes vista na região.

“Quando eu cheguei pela primeira vez ao Afeganistão, encontrei um grupo de garotas idealistas que não tinham medo de pedalar. Porém, com a escalada da violência dos talebans, a situação foi mudando. O que era inicialmente um filme sobre ciclismo acabou se tornando um projeto sobre a evolução dessas mulheres tão fortes. Tem sido uma honra para mim poder compartilhar sua história de determinação e paixão”, conta Sarah. Uma lição de força de vontade, de amor à bike e de certeza de que o poder das mulheres, seja lá qual for o país, é muito maior do que se pensa.

A equipe nacional de ciclismo feminino em um treino, em 2014 (Foto: Divulgação)
As irmãs Masoma e Zahra em uma pausa do treino, em 2014 (Foto: Jenny Nichols)
Zahra puxa o pelotão de atletas em treino perto de Cabul (Foto: Jenny Nichols)