Projeto ‘Disc Brakes’ une ciclismo e música em rádio e bate-papo com esportistas

Erika Sallum

Ciclistas “de performance” são seres estranhos que dormem cedo, acordam cedo e muitas vezes levam uma vida um tanto monástica. Mas nem por isso deixam de curtir (alguns) prazeres, como a música — há aqueles, por exemplo, que não pedalam sem o fone de ouvido. Ou melhor: todos nós, ciclistas ou não, gostamos de música, em maior ou menor grau e seja lá qual for o estilo. Foi com essa ideia em mente que dois ciclistas de estrada proeminentes na cena internacional decidiram criar um projeto que abordasse não apenas o esporte que amam, mas também suas paixões musicais.

Daí nasceu o Disc Brakes (Freio a Disco, que nome legal!). O projeto surgiu a partir do encontro de Angus “Gus” Morton, ciclista australiano que, ao lado do irmão Lachlan, tem produzido lindíssimos documentários sobre liberdade e ciclismo batizados de Thereabouts, e Charlie Stewart, cofundador da elegante marca britânica de roupas de ciclismo Albion. São duas das figuras mais cool a surgir no ciclismo recente e que, com ideias e atitudes, vêm ajudando a transformar o lifestyle desse esporte.

Gus Morton em cena do primeiro episódio de Thereabouts (Foto: Divulgação/Thereabouts)

O Disc Brakes tem promovido encontros e bate-papos com ciclistas para falar de música. Em um meio onde as conversas com atletas giram 100% em torno de treinamento, alimentação e provas, é um respiro de alegria poder ouvir podcasts em que contam quais músicas marcaram suas vidas e o que curtem escutar. Além do site, o Disc Brakes tem postados seus podcasts no Soundcloud. Há ainda uma rádio, em que Gus e Charlie selecionam o que gostam de ouvir.

Conversei com Charlie sobre o Disc Brakes, sobre música e os planos para o projeto.

Como surgiu a ideia de criar o Disc Brakes?
CHARLIE STEWART Tudo começou quando eu entrevistei Gus para o site da minha marca de roupas de ciclismo, a Albion. Na entrevista, pedi que ele fizesse uma playlist, e a partir dessa seleção começamos a falar sobre música, sobre o que gostamos (tipo nossa terrível fase de nu metal na adolescência) etc. Isso nos fez pensar em como seria interessante convidar esportistas para falar de música, o que daria uma perspectiva diferente sobre essas pessoas – e, claro, seria um respiro à mesmice das perguntas sobre treino, nutrição e outros temas chatos.

Ciclistas dormem e acordam cedo, quase nunca vão para festas ou shows e muitos não escutam música com frequência. Tem sido complicado encontrar ciclistas com vontade de falar disso?
Olha, para ser sincero, não tem sido nenhuma dificuldade. Todo mundo tem algum tipo de gosto musical – pode ser terrível, pode ser ótimo, mas toda pessoa tem um gosto por um tipo de música, e isso revela aspectos essenciais de quem ela é. Beethoven disse certa vez: “A música é uma revelação mais elevada que toda sabedoria ou filosofia” (e, ainda que ele fosse bem parcial nessa frase, eu concordo). Pessoas que não escutam música devem ser vistas com certa suspeita, na minha opinião.

Quais são os planos para o Disc Brakes?
Temos planos grandes. Estamos pensando em nos unir a um outro grupo de podcasts, cujo nome não podemos ainda revelar. Temos a espanhola (e ciclista) Sami Sauri fazendo estágio conosco, e isso pode vir a ser uma ótima oportunidade para ela. Neste ano, Gus vai embarcar em um tour com palestras motivacionais para executivos do Vale do Silício, nos EUA. E eu estou escrevendo um livro sobre Luk Thung, um estilo de música do norte da Tailândia.

Que tipo de música vocês curtem?
O gosto musical do Gus é bastante influenciado por Bizkit, Creed, The Strokes and Nicolas Jaar. É um mistureba só, o que explica bastante sobre ele. Já eu, hip hop “real” foi uma influência forte na minha juventude. Tenho uma vasta coleção de discos produzidos pelo DJ Premier. Adorava dubstep até cerca de 2010, antes que o gênero ficasse destruído – foi uma época incrível, com artistas como Mala, Loefah, Kode 9. Agora, mais recentemente, eu meio que consolidei meu gosto musical em torno de coisas antigas e novas de vários gêneros e várias partes do mundo. Os últimos três álbums adicionados no meu Spotify, por exemplo, são a trilha sonora de The Wicker Man, e os discos AZD do Actress e Betaloops do Devon Who.

Como vocês têm financiado o projeto?
Por meio de mineração de moeda digital, a partir de um modelo novo e inovador descentralizado que nega a necessidade de bancos para se sustentar.