Tour de France enfim veta as ‘garotas do pódio’
Enfim, uh-la-lá!, divulgou-se nesta semana que o prestigioso Tour de France vai acabar de vez com a cultura das “garotas do pódio”. A tradição era tão antiga quanto o próprio Tour: na hora da premiação em cada etapa da maior competição de ciclismo do planeta, lá estavam sempre elas, sorridentes, de pernas à mostra, prontas para saírem nas fotos dando um beijo na bochecha dos ciclistas campeões.
As “podium girls” tornaram-se praticamente um dos símbolos das Grandes Voltas — como são chamadas as três principais competições em etapa do mundo (além do Tour, também o Giro d’Italia e a Vuelta a España). Se décadas atrás eram selecionadas entre as meninas mais bonitas dos vilarejos por onde passava o pelotão de atletas, nos últimos tempos as vagas eram preenchidas por um extenso processo em agências de modelos. Muitas eram estudantes, sempre abaixo dos 30 anos, e por contrato eram proibidíssimas de interagir com os ciclistas (fora o beijinho, claro) — caso contrário, acabavam sendo demitidas da função, pela qual muitas vezes ganhavam 1.000 ou até mesmo 2.000 euros.
Entretanto, após discussões de igualdade entre gêneros ganharem mais espaço e depois de cenas deploráveis como a do campeão mundial Peter Sagan “brincando” de apertar a bunda de uma das moças, foi ficando cada vez mais insustentável a presença das garotas no pódio. Um enchente de críticas ao “costume”, visto por muita gente como sexista, foi aos poucos transformando a cultura das podium girls em anacronismo.
Não se trata de uma prática apenas das Grandes Voltas. Muitas das provas europeias de um só dia também contratam mulheres para “embelezar” a festa (sério, afe…). Porém alguns organizadores foram se ligando de que era preciso mudar. Em 2016, o australino Tour Down Under — após o governo tirar seu apoio, declarando-se contra o uso das meninas — decidiu trocar as podium girls por jovens ciclistas. “Nós queremos, sim, incentivar as meninas, mas para que sejam atletas, mecânicas, empresárias”, disse o ministro dos esportes da Austrália na época.
No ano passado, a Vuelta a España anunciou que não mais contrataria as jovens. Ou seja, se o Giro d’Italia não se tocar, será, já neste ano de 2018, a última Grande Volta totalmente sem noção do calendário do ciclismo profissional. Bem-vindo, novos tempos!