Cicloviagem só de mulheres alerta: vá logo conhecer o mundo de bike!

Erika Sallum

No total, foram 400 km de sobe e desce pelo sul de Minas de Gerais, com duríssimos 7.000 metros de altimetria. Tudo isso em seis dias. Nos alforjes, apenas o básico, como umas poucas peças de roupa e ferramentas. Quem acha que viajar de bike é perigoso ou “roubada”, mais uma informação: no grupo, apenas mulheres, amigas que trazem em comum o amor pelo vento no rosto, pela sensação de liberdade de usar a força das próprias pernas e pela simplicidade que a bicicleta nos obriga a aceitar dia após dia. “Desencanamos de maquiagem, secador e outras vaidades. É incrível como nessas cicloviagens a gente aprende a desapegar e ser feliz com muito pouco”, conta uma das ciclistas, Renata Mesquita, acostumada a encarar provas de longas distâncias como as dos desafios de Audax.

Seis amigas, seis dias de pedal, 400 km, 7.000 de altimetria e uma enxurrada de endorfina (Foto: Arquivo pessoal)

O ponto de partida e chegada seria Caconde, no sul de Minas, onde vive a família de Renatinha. “A ideia era cair na estrada, conhecer lugares bonitos e nos divertir”, diz ela. Pois lá foram as amigas (a rota completa você pode ver aqui), decididas a pedalar não apenas em asfalto, mas também por percursos de terra — em uma tendência que vem crescendo nos últimos anos, de mesclar diversos terrenos em um mesmo rolê, em nome da pura aventura. Para isso, levaram consigo “adventure bikes” (no caso, as Diverge, da Specialized), que se saem bem tanto em estrada como em trajetos off road, graças à suspensão, freios a disco, pneus mais largos e geometria do quadro mais robusta e confortável.

Renatinha Mesquita com o sorriso de quem sabe o quanto viajar de bike é incrível (Foto: Arquivo pessoal)
Foto do grupo, que fortaleceu a amizade ao fim da jornada (Foto: Arquivo pessoal)

Além das bicicletas, muniram-se de alforjes do tipo “bike packing”, presos no quadro ou guidão, menores e mais leves que os tradicionais (que, em geral, precisam de bagageiro preso atrás, o que deixa tudo mais pesado). O objetivo era viajar “leve”. Para aproveitar a cerveja pós-pedal de cada dia, reservaram com antecedência as pousadas em que iriam ficar. Fora isso, a única obrigação era curtir a paisagem, sem o estresse de um treino “de performance” e do corre-corre da rotina de São Paulo.

No primeiro dia, de Caconde a Alpinópolis, pedalaram 110 km, com 2.000 metros de altimetria — um belo esforço, ainda mais carregando bagagem. “Descobri que de Guaxupé a Bom Jesus da Penha é um trecho bem legal para treinar. O asfalto é ótimo, o movimento é baixo, tem uma serra bem dura e a paisagem é maravilhosa”, diz Renata. “E só alegria com a comida mineira: barata e gostosa.” O segundo dia, até Capitólio, foi mais brando, com 66 km e 1.000 metros de altimetria. No terceiro dia, descansaram em Capitólio para curtir cachoeiras locais. Ali, três amigas precisaram ir embora, para passar a virada de ano com a família. No quarto dia, já com as pernas um pouco mais renovadas, encararam 97 km com 1.500 metros de ascensão, até Carmo do Rio Claro. Chuva e sol se alternavam, tornando as manhãs e tardes ainda mais desafiadoras. Depois, até Areado, foram mais 50 km com 860 metros de ascensão (ufa!), mas as celebrações de réveillon pesaram. “Bebemos na noite anterior. Foram 50km se arrastando. Rolou tempestade, muita subida e mais paisagens lindas. Pelo menos a ressaca passou… Daóra a vida!”, diverte-se Renatinha. No último dia, para retornar a Caconde, mais lenha: 76 km e 1.400 metros de ascensão.

“Na chegada, escorreram lágrimas de alegria. Foi incrível! Mais uma experiência maravilhosa em cima da bicicleta. Ficamos mais sábias, mais experientes e mais fortes. É uma sensação tão boa…”, completa a ciclista. Para quem sonha em se lançar em uma trip desse tipo, mas vive adiando por receios, a moça dá um conselho: “Não precisa ser corajoso, não precisa ser forte, não precisa do melhor equipamento, não precisa ter homem, só precisa da sua vontade e do espírito aventureiro. Viva!”.

As adventure bikes Diverge usadas pelas amigas (Foto: Arquivo pessoal)
Teve terra, teve lama, teve sorriso, é o que importa (Foto: Arquivo pessoal)