2017: um ano complicadíssimo para a bike em SP
No último dia do ano, vale uma reflexão breve sobre os revezes que nós, ciclistas de São Paulo, sofremos ao longo de 2017. Fazia tempo que a bike não via seu espaço se encolher tanto na capital. Enquanto alguns poucos anos atrás ganhamos ciclovias e tínhamos a impressão de que a cidade se tornava cada dia mais bike friendly, hoje a sensação é a de que voltamos muitas e muitas pedaladas atrás — caminho inverso ao de outras megalópoles mundo afora que têm colocado a bicicleta como uma das chaves centrais para a solução de seus problemas de mobilidade.
Eis alguns fatos marcantes que nos entristeceram em 2017:
> O número de ciclistas mortos na capital cresceu 55% entre janeiro e outubro deste ano, em comparação com 2016. No total, foram 31 mortes, enquanto no mesmo período do ano passado morreram 20 ciclistas. Os dados foram divulgados em novembro pela Infosiga, iniciativa do governo de São Paulo que monitora e estuda as mortes no trânsito. Entre as fatalidades houve tragédias como a do motorista que atropelou e matou um ciclista, arrastado por 5 km no capô do carro, entre Osasco e São Paulo.
> Em novembro, o prefeito João Doria sancionou projeto de lei que altera critérios para a implementação de ciclovias, faixas compartilhadas ou ciclofaixas em São Paulo. A lei determina que a criação de novos trechos cicloviários só pode ocorrer após a realização de audiências públicas e apresentação de estudos de demanda e impacto viário. Na prática, dificulta a criação de novos espaços para a circulação de bikes na cidade. O prefeito sempre deixou claro seu desgosto com as ciclovias implementadas pelo antecessor Fernando Haddad — neste mês de dezembro, por exemplo, Doria estreitou a ciclovia da rua Líbero Badaró, no centro da cidade, para criar faixa de estacionamento de carros, como noticiou a Folha.
> No dia 20 de dezembro, sem dar explicações, a Universidade de São Paulo publicou no Diário Oficial do Estado a resolução número 7458 que determina que a prática de ciclismo esportivo dentro da Cidade Universitária será permitida apenas a ciclistas cadastrados — para estes, “será emitida uma autorização e uma identificação visual, que deverá ser afixada de forma visível na respectiva bicicleta e capacete”. Não há muitas informações, no link fornecido pela USP, sobre como e quando esse cadastro deve ser realizado.
> Milhares de ciclistas da capital e outras cidades foram impedidos pela Polícia Militar, no dia 10 de dezembro, de realizar a “Tradicional Descida a Santos”. O passeio, que larga de São Paulo, foi considerado uma ameaça à circulação de veículos no sistema Anchieta/Imigrantes pelo juiz Celso Lourenço Morgado, da Vara de São Bernardo do Campo. O resultado foi uma cena terrível, em que cerca de 3.000 ciclistas (incluindo muitas famílias) tiveram de dar meia-volta após abordagem truculenta da PM.
Que 2017 vá embora levando consigo os ventos contra a bike. E que 2018 traga novas esperanças para quem pedala por aqui.