KOM Challenge de Taiwan: a mais dura subida ciclística do mundo
Se a mais longa subida do ciclismo de estrada fica na Colômbia, onde se localiza a mais dura piramba desse esporte? Em Taiwan, quem diria! Por isso, uma vez por ano, centenas de ciclistas do mundo todo rumam para essa belíssima ilha da Ásia Central para testar corpos e mentes no desafio KOM Challenge, que em 2017 acontece nesta sexta-feira (20 de outubro). A apenas 180 km da costa da China, Taiwan tem território pequeno (com área menor que o Estado do Rio de Janeiro), mas no qual ficam montanhas altíssimas. São 275 picos com mais de 3.000 metros de altitude (a montanha mais alta do Brasil, o Pico da Neblina, tem 2.995 metros). Com paisagens de tirar o fôlego, estradas lisinhas, subidas matadoras e tesouros culturais, Taiwan é um prato cheíssimo para quem ama bike.
A largada do KOM Challenge acontece no nível do mar e chega a 3.275 metros de altitude em apenas 105 km de percurso. KOM é a gíria ciclística para “king of the mountain” (rei da montanha), e em se tratando desse desafio taiwanês é preciso ter tanto pernas como cabeça forte. O trajeto começa com subidas leves, que aos poucos vão ficando cada vez mais íngremes. Após pedalar por uns 80 km com média de inclinações de 6% (grau de dificuldade), chega-se aos assustadores 9,5 km finais, com pirambeiras de até 22%. Se na largada o clima é tropical e quente, no final os ciclistas precisam encarar quedas de temperatura bruscas, com os termômetros despencando de mais de 30ºC para 5ºC.
Durante o percurso, os competidores passam por alguns dos cartões-postais mais estonteantes da ilha, como o Parque Nacional de Taroko, na província de Hualien. Duas semanas atrás, fui pedalar em Taiwan, a convite do departamento de turismo do país, e constatei na prática: ali ficam algumas das estradas mais seguras e lindas do planeta para se explorar de bicicleta. Conheci de bike as províncias de Hualien, Taitung e Pingtung, no leste de Taiwan, e em todas elas as ruas e rodovias contam com espaço amplo reservado exclusivamente para bikes (motos também podem trafegar, mas é raro isso acontecer). Foram quatro dias pedalando quase 340 km. Passei por regiões da costa, com autoestradas beirando um mar azulzinho. Subi 10 km de uma serra verdejante, que lembra a Serra do Mar brasileira, mas com templos budistas a cada curva de estrada. Cruzei o território indígena, no qual dominam tribos que em nada lembram os chineses da etnia han e que têm raízes comuns com os povos da polinésia e os maoris da Nova Zelândia. E comi alguns dos quitutes mais deliciosos, com pratos que são, na verdade, uma fusão das culinárias chinesa, japonesa e indígena.
O KOM Challenge está aos poucos se tornando conhecido dos ciclistas estrangeiros. O italiano Vincenzo Nibali e o australiano Cadel Evans, ambos vencedores de Tour de France, vão competir este ano lá. Os brasileiros ainda fazem fila e pagam rios de dinheiro para competir em provas consagradas nos EUA e na Europa, mas logo perceberão que existem outros destinos incrivelmente interessantes para serem descobertos — como Taiwan e nossa vizinha Colômbia, ainda pouquíssimo explorada de bike por nós.
São muitas horas de voo até chegar do Brasil a Taiwan. Mas vale cada gota de esforço. E, lá no país, você gastará pouco com alimentação e hospedagem. Em suas próximas férias ciclísticas, tente sair do lugar comum e vá descobrir as joias dessa ilha maravilhosa.