Fotógrafo faz homenagem poética ao sofrimento do solitário treino indoor

O fotógrafo curitibano Diego Cagnato tem dedicado boa parte da carreira a registrar o universo que envolve as bicicletas. Mas suas lentes raramente estão na linha de chegada, no pódio, nos recordes. Seu interesse vai muito além das glórias do esporte ou das reações endorfinadas de quem ama bike. Ele costuma estar sempre lá onde há as dores e o sacrifício de pessoas que precisam vencer muitas coisas — preguiça, grana, problemas de saúde — para se dedicar à paixão de pedalar. Por isso suas imagens e vídeos são pura poesia, que tocam mesmo aqueles que ainda não perceberam o poder transformador da bicicleta.

Os detalhes do mundo das bikes é o que quase sempre motiva este fotógrafo curitibano (Foto: Diego Cagnato)

Seu mais recente projeto “For Those Who Suffer, I Salute You” (Para Aqueles Que Sofrem Eu Vos Saúdo) é focado em um dos momentos mais íntimos e que exigem mais determinação do ciclista: o treino indoor. Monótono, dolorido, o treino indoor acontece longe de outros olhos. Sofre-se sozinho, na sala de casa, ou na varanda do apartamento. Seja porque o dia está chuvoso ou por falta de tempo de sair com a bike na rua, o fato é: treinar dentro de casa é para os fortes de mente. Diego sabe disso — assim, vem escolhendo personagens da cena paulistana para fazer fotos e vídeos curtos de beleza ímpar.

A terceira parte do projeto foi lançada hoje. Bati um papo com Diego, que você pode conferir a seguir, juntamente com os vídeos e alguma imagens. Neste link aqui, você pode ler a história completa de cada personagem, com direito até a uma lista de músicas que eles curtem ao pedalar em quatro paredes.

Amanda Russo é a terceira personagem do projeto “For Those Who Suffer, I Salute You” (Foto: Diego Cagnato)

Como surgiu a ideia da série? Por que registrar o momento do treino indoor de um ciclista?
Quando resolvi me mudar para São Paulo, morei um tempo na casa de um casal de amigos, e o Paulo Zapella sempre foi um dos ciclistas mais focados que eu conheço. Várias vezes eu o via treinando em casa nos dias de chuva ou quando tinha algum compromisso e não podia treinar na rua. Um dia cheguei em casa e percebi que ali havia uma boa ideia de foto. Resolvi pegar a máquina e registrar. As pessoas estão acostumadas apenas a ver o que acontece nos treinos a céu aberto ou nos aplicativos de bike… Então me veio essa ideia: criar uma série em que mostro as pessoas que amam tanto o que fazem encontrando uma maneira de continuar a pedalar independentemente das dificuldades.

Qual o desafio na hora das filmagens?
É conseguir transmitir o que eu sinto quando estou ali com a pessoa durante o treino dela. É um momento do personagem estar dedicado 100% ao treino. Eu tento ser o menos invasivo possível, sempre brinco que é para a pessoa treinar como se eu não estivesse ali. Minha ideia é ser um espectador, quase como um “voyeurismo esportivo”. Para mim, esses momentos de entrega física e mental são de uma beleza indescritível.

Como você seleciona os personagens que vão entrar?
Até agora só fotografei amigos, justamente por conhecer as rotinas de treinos e ser mais fácil de lidar com agendas e expectativas. Mas a ideia daqui para frente é ampliar isso.