Clube de ciclismo em Goma, no Congo, dá esperança a região marcada por guerras

Erika Sallum

Uma incrível, porém silenciosa revolução está acontecendo na África, em países tão diversos quanto Congo, Eritreia, Ruanda e Etiópia. Essa revolução chega pedalando, liderada por atletas e gente comum apaixonados por bicicletas e que enfrentam bem mais que duras montanhas ou horas de treino sob sol escaldante. Contra a pobreza, o preconceito e a falta de grana e de infraestrutua, a bike surge como ferramenta importantíssima no processo de restauração da autoestima e da esperança de todo um continente.

Um exemplo extraordinário é o Goma Cycling Club, um clube de ciclismo criado há cerca de dois anos no turbulentíssimo leste da República Democrática do Congo (RDC). Localizada às margens do lago Kivu, a cidade de Goma sempre esteve envolvida nas guerras recentes que assolaram o país e seus vizinhos, como Ruanda.

Não há estrada esburacada ou bike ruim que impeça esses congoleses de pedalar (Foto: Reprodução/Goma Cycling Club)

Os muitos conflitos no Congo — um deles conhecido como a Guerra Mundial Africana, entre 1998 e 2003 — já causaram a morte de mais de 6 milhões de pessoas. Trata-se de uma região das mais frágeis do continente, onde doenças, pobreza extrema e rivalidades étnicas ainda marcam o dia a dia da população.

Introduzida por colonizadores belga, a bike por décadas era “coisa de brancos”, mas essa história enfim começou a mudar.

Quem disse que é preciso bike “top” e roupas caras para pedalar? (Foto: Reprodução/Goma Cycling Club)
Provavelmente a camiseta mais “cool” entre os clubes de ciclismo por aí (Foto: Reprodução/Goma Cycling Club)

Por tudo isso, o Goma Cycling Club é muito, mas muito mais que apenas um grupo de amigos que adora pedalar. No vídeo a seguir, Charles Guy Makongo, presidente do clube, vai direto ao ponto: “Goma é conhecida por guerras e catástrofes. O que queremos com o ciclismo aqui é construir uma nova realidade”. No início, eles viviam escutando que “estradas e ruas foram feitas para os carros”. Mesmo assim, com apenas algumas bicicletas de qualidade para pedalar (e muitos modelos “pau para toda obra”), seguiram em frente. Nas raras e novas estradas asfaltadas (até pouco tempo atrás não havia rua pavimentada por lá), os ciclistas foram abrindo seu espaço e fazendo os motoristas entender que era preciso dividir a via e respeitar a bike. “Nós temos problemas com estradas, com segurança, com equipamentos, com falta de roupas adequadas para pedalar. Mas somos otimista e acreditamos que por meio do nosso trabalho nós vamos mudar Goma.” Já estão mudando.

O Olympic Channel lançou neste ano uma série de vídeos muito bem feitos, batizada de Africa Cycling Revolution, mostrando como a bike tem mudado o cotidiano de muitos africanos. Este aqui, belíssimo, traz o Congo e o Goma Cycling Club como tema — não deixe de assistir (tem legendas em português).

Este vídeo, “caseiro” e falado em francês, mostra um pouco mais da “vibe” da galera e da paixão dos integrantes do Goma Cycling Club pelo ciclismo e sua força transformadora: