Projeto empodera refugiados por meio da bicicleta no Reino Unido

Erika Sallum

Foi em um trabalho orientando refugiados, ainda na época da faculdade, que o britânico Jem Stein ficou sabendo que um deles não tinha mais que 35 libras para viver a semana toda – e, em uma cidade caríssima como a capital inglesa, o recém-chegado mal conseguia se locomover por conta dos altos preços do transporte público. Ao fazer uma breve pesquisa, Jem se assombrou com outra informação: milhares de bikes são abandonadas ou jogadas fora no Reino Unido todos os anos. Bingo!, surgia ali o embrião do que viria a ser o The Bike Project, uma organização sem fins lucrativos que recolhe bicicletas descartadas para reformá-las e doá-las a refugiados. Com suas magrelas, eles podem ir e voltar do emprego e passear nas horas vagas, ganhando independência e conhecendo melhor o lugar aonde foram em busca de uma nova vida.

Refugiados do The Bike Project em oficina de mecânica (Foto: Divulgação)

O projeto cresceu e hoje também organiza oficinas para ensinar aos refugiados o básico sobre mecânica de bikes, para que possam fazer manutenção e pequenos reparos. Há ainda um workshop para ensinar mulheres refugiadas a pedalar — muitas chegam ao Reino Unido sem ter tido qualquer contato com uma bike. Com essa nova e poderosa ferramenta, elas (e eles também) se sentem mais autoconfiantes. Uma ideia simples que tem mudado a vida de milhares de pessoas desde que o The Bike Project foi criado.

Ao aprender o básico sobre mecânica, os refugiados tornam-se mais independentes (Foto: Divulgação)

Conversei com Anna Chapman, porta-voz do The Bike Project, para saber melhor como tem sido o trabalho deles:

Como se deu o início do The Bike Project?
No começo, não foi fácil. Levou um tempo até encontrarmos as melhores fontes de bikes descartadas (doadores individuais, prédios comerciais etc.) e estabelecermos um sistema de coleta confiável e regular — agora isso funciona bastante bem. Temos centros espalhados por Londres onde as pessoas podem levar as bikes que não usam, depois recolhemos todas elas e trazemos para nossa oficina para restaurá-las.

Como a bike pode contribuir para a vida de um refugiado?
Os benefícios de pedalar para a saúde física e mental são largamente conhecidos e comprovados. A bicicleta é realmente uma ferramenta valiosíssima em muitos aspectos. Os refugiados que ajudamos são, em geral, pessoas muito desfavorecidas, que sofreram traumas enormes e que estão tentando recomeçar a vida em um cidade grande e desconhecida. A bike se torna, para eles, uma ferramenta inestimável, que os leva de um lugar a outro, que lhes dá mais liberdade, mais confiança e maior qualidade de vida.

Quantas pessoas vocês já atenderam desde que o projeto foi criado, em 2013?
Até agora nós já doamos 2.700 bicicletas, e estamos no meio de uma campanha na qual esperamos chegar a 3.000 em pouco tempo.

Como as oficinas de mecânica impactam a vida dos refugiados?
Em nossos cursos, eles podem aprender o básico de manutenção de bikes, o que certamente os ajudará a cuidar de suas bicicletas e aproveitá-las ao máximo. E passam a ser capazes de fazer pequenos reparos, quando necessário.

E o projeto específico para incentivar mulheres a usarem mais a bicicleta, como surgiu?
Nós criamos esse projeto quando percebemos que apenas homens apareciam para participar de nossas iniciativas. Descobrimos que muitas refugiadas simplesmente não sabiam pedalar. Talvez não tenham tido nenhum tipo de incentivo para isso em seus países de origem. Muitas chegam ao Reino Unido sem qualquer autoconfiança para sentar em um selim e tentar andar de bike. Foi aí que decidimos desenvolver uma programa especial para ensiná-las a pedalar, com uma equipe toda composta só de mulheres, para que se sintam à vontade. Após seis semanas de curso, elas ganham uma bike, capacete, luzinhas e uma trava de segurança, além de uma confiança enorme em si mesmas.

Este vídeo mostra como é uma oficina de mecânica do projeto: