Novo site ‘Que Bike Eu Compro?’ ensina tudo para quem quer adquirir uma magrela
É tanta informação e modelos de bicicleta por aí que até os ciclistas mais experientes já passaram este nervoso: que raios de bike eu devo comprar? Parece uma pergunta simples, mas não é. Na enxurrada de opções do mercado, amigos e vendedores de bicicletaria podem até ajudar — mas é mesmo você que precisa decidir.
Enfim esse problema encontrou uma belíssima solução: o recém-lançado site Que Bike Eu Compro?, que entrou no ar esta semana. Feito por algumas das pessoas que mais entendem de mobilidade urbana e de cultura de bike do país, o site é uma “mão na roda” online — e gratuita! –, criada para ajudar a encontrar o melhor modelo de bicicleta de acordo com o que o(a) ciclista precisa.
Usar o site é fácil, fácil. Basta responder a algumas perguntas, como “em qual tipo de terreno você pretende usar sua bike?”, “qual a inclinação do terreno?” e a atividade que fará (levar os filhos na escola, ir e voltar do trabalho etc.), e em seguida o site sugere o modelo mais indicado às suas necessidades.
Há ainda dicas de segurança e de manutenção, e um providencial dicionário de “bicicletês” (afinal, talvez você precise de um “cáliper” ou terá problemas com seu “rapid fire”).
O Que Bike Eu Compro? é o mais novo projeto de um grupo de pessoas que há anos vem se dedicando a incentivar o uso da bike e a ocupação dos espaços públicos nas cidades brasileiras. Junta no oGangorra, essa trupe acredita que as bikes inspiram as pessoas e transformam as cidades. É gente tarimbadíssima como Aline Cavalcante, cicloativista que estrelou a parte brasileira do documentário Bikes vs Carros, do diretor sueco Fredrik Gertten. Além de Aline, oGangorra também é formado por velhos conhecidos de quem curte bike no Brasil — Pedro Ishikawa, Brunno Carvalho, Albert Pellegrini, Laura Sobenes e Evelyn Araripe.
O Ciclocosmo conversou com Albert Pellegrini, advogado e consultor jurídico e de mobilidade do oGangorra sobre o novo site:
Qual o principal desejo/expectativa de vocês em relação a Que Bike Eu Compro?
ALBERT PELLEGRINI: O principal desejo é educar as pessoas. E desenvolver a cultura da bicicleta contribuindo para melhorar o mercado.
Por que acaba sendo tão difícil para uma pessoa escolher que bicicleta comprar?
Não temos no Brasil uma consolidada cultura da bicicleta. Quem está fora desse universo, em geral, não conhece nada a respeito, o que gera uma insegurança. Quando alguém procura uma loja para comprar uma bike, pode-se ter duas experiências: (1) a loja tem um vendedor que entende do assunto, mas vai te empurrar algo que não se adequa a sua necessidade. Essa pessoa terá uma má experiência pedalando, e a bicicleta vai ficar parada num canto da casa. Ou (2) ela vai a uma loja que não tem vendedor, tipo um hipermercado ou site, compra uma bicicleta barata esperando que atenda a seus anseios. Daí ela descobre que os componentes são de plástico, que o modelo não é do seu tamanho etc. E vai acabar encostando a bicicleta na garagem do prédio para sempre. Existe um contingente enorme de bicicletas paradas em garagens de condomínios. Então é preciso explicar e educar quem quer comprar uma bicicleta para saber o que realmente precisa, de acordo com o uso pretendido.
Por que temos no Brasil tantos modelos de mtb para sendo usados nas cidades, quando na verdade nem sempre é a melhor opção? O mercado acaba “empurrando” esses modelos aos clientes? Há uma falsa ideia de que as mountain bikes vão aguentar melhor o asfalto das cidades?
Na imaginação das pessoas, as mountain bikes são mais bonitas, tem freio a disco, suspensão. Isso decorre da intenção do mercado que produz esses modelos inadequados para o uso urbano. Claro, se alguém quer andar com uma bicicleta de contrarrelógio no trânsito, ele ou ela tem esse direito. Entretanto grande parte das pessoas não sabe o que quer. O mercado se aproveita disso e empurra bicicletas com componentes baratos e até mesmo inseguros, envoltos numa aura esportiva de enorme apelo. As verdadeiras bicicletas urbanas no Brasil são as conhecidas e consagradas “Barra Forte”, “Poti”, entre outras. Mas elas são vistas pela maioria das pessoas como bicicletas para trabalhadores de baixa renda, olha-se para elas com preconceito. E assim optam por algo inapropriado quando a melhor opção é a boa e velha Barra Forte.
Como vocês imaginam que o site Que Bike Eu Compro cresça? A ideia é ele servir de base de dados também, né?
A base de dados é aberta para qualquer um analisar. Mas pretendemos vender análise dos dados para projetos específicos, lançar o site em outras línguas e, em breve, efetivamente dar a opção de compra para o usuário. Estamos na fase de captação de recursos para o desenvolvimento dessa segunda fase.
Quanto tempo levou para desenvolver o projeto como um todo? Há patrocinadores por trás?
Levamos um ano e meio. Um pouco mais do que esperávamos. Gastamos muito tempo estudando a experiência do usuário para desenvolver um produto que fosse intuitivo, fácil de lidar, não técnico, de comunicação leve e moderna. Tivemos muita preocupação nos detalhes — inclusive há um link específico que explica a questão de gênero na experiência de se pedalar. Por enquanto tivemos um patrocinador somente, mas estamos buscando outros para a segunda fase.