Fechado desde os Jogos do Rio, o magnífico Velódromo Olímpico é reaberto

Era uma tristeza sem fim: uma das mais incríveis obras do Parque Olímpico da Barra da Tijuca (RJ), o Velódromo estava fechado desde os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Isso em um país — ou melhor, continente – muito carente de espaços assim para treinos e competições de pista, a vertente mais plasticamente linda do ciclismo.

Mas felizmente a galera do Rio, com incentivo da Federação de Ciclismo daquele Estado, arregaçou as mangas e batalhou duro até fazer com que o Velódromo Olímpico fosse, enfim, reocupado. Desta sexta-feira (26) a domingo (28), o local reabre oficialmente para receber o Campeonato Estadual de Pista 2017, que integra a programação da 1ª edição do Rio Bike Fest, um evento para celebrar a bicicleta que também contará com um passeio ciclístico de 20 km, apresentações de BMX Freestyle e uma feira de negócios de ciclismo, entre outras atrações.

Atleta testa pista do Velódromo do Rio, pouco antes da Olimpíada, em 2016 (Foto: Ricardo Borges/Folhapress)

Com pista de madeira e todo coberto (temos alguns poucos velódromos no Brasil, mas com piso de concreto e ao ar livre), o Velódromo Olímpico é uma maravilha ciclística e um projeto único na América Latina. Possui piso de pinus siberiano, o tipo mais rápido do mundo para as bikes de pistas deslizarem com perfeição. A obra foi projetada pelos mestres alemães da Schuermann, um grupo de arquitetos e designers especializadíssimos em velódromos, como o da Olimpíada de Beijing.

Antes mesmo do início do campeonato que começa amanhã, o Velódromo já tem recebido gente, perdendo aos poucos aquele ar de isolamento. Desde o início de maio, há treinos às terças, quintas e sábados — entretanto apenas para atletas federados e que tenham feito uma clínica sobre pedalar em velódromos (no valor de R$ 50). Após o evento deste final de semana, a ideia é continuar com os treinos e também organizar outros projetos ali, como por exemplo iniciativas sociais que tragam mais pessoas para conhecer o espaço e para aprender sobre ciclismo de pista. “É uma emoção enorme saber que o Velódromo Olímpico volta a funcionar”, disse ao Ciclocosmo o cearense Gideoni Monteiro, nome mais conhecido do Brasil no ciclismo de pista e o primeiro atleta a representar o país em uma Olimpíada na modalidade em longos 24 anos (o último representante nosso havia sido Fernando Louro, em Barcelona 1992).

A seguir, Gideoni fala um pouco mais da importância de a gente ter um velódromo desse nível no Brasil:

O cearense Gideoni Monteiro no Velódromo Olímpico do Rio (Foto: Reprodução Facebook Gideoni Monteiro)

Qual a importância do Velódromo Olímpico para o esporte no Brasil e para o país em geral?
GIDEONI MONTEIRO: O Velódromo do Rio é um grande legado olímpico. É muito mais que apenas um local de competições. A partir dele, o Brasil pode construir novos talentos, formar novos atletas. Fora isso, poderia ser o local de treino da nossa seleção brasileira. E ainda poderia receber pessoas com um sonho de experimentar a sensação de se pedalar em um velódromo e de se aproximar do ciclismo.

Você pedalou no Velódromo  durante os Jogos. O que acha dele? É de fato muito bom, tecnicamente falando?
O Velódromo do Rio é, sem dúvida, uma das obras mais bonitas de parques olímpicos. Mas suas qualidades vão além da estética. Ali foram quebrados 33 recordes durante os Jogos – ou seja, é uma obra muito bem-feita, realizada por arquitetos com altíssima expertise na área. Cada vez mais, os velódromos olímpicos vão se sofisticando, aprendendo com os erros passados, e o do Rio é o auge desse aprendizado. É um lugar que preza pelos mínimos detalhes, com pista de madeira impecável. É uma ferramenta importante para o esporte brasileiro.

Para quem não entende muito de ciclismo de pista, qual a importância de se ter um piso de madeira tão boa como a do Velódromo do Rio?
Um velódromo de madeira engloba muitas ótimas características que não só o piso. É um local coberto, onde não há a interferência de variações de vento, sol e chuva. A velocidade do ciclista não é afetada, por exemplo, por rajadas de vento. Ali podemos ter parâmetros com outros velódromos pelo mundo, não precisamos sair do país para treinar direito.

Como a sociedade como um todo pode se beneficiar com a abertura permanente do Velódromo do Rio?
Além disso tudo que eu acabei de mencionar, há ainda um fator social interessantíssimo em um velódromo como o do Rio: a vantagem de podermos chamar para lá crianças e jovens para terem suas primeiras experiências com bike. Algo que fica difícil com o trânsito das cidades, os perigos e as inseguranças. Dentro do velódromo, temos um ambiente seguro, acolhedor. Tem-se assim uma ferramenta não apenas de performance, mas de inclusão social, de educação por meio da bicicleta. Um velódromo ensina resistência, disciplina, foco, e é por si só um belo instrumento de transformação social.

O Velódromo do Rio, em foto tirada pouco antes da Olimpíada, em 2016 (Foto: Ricardo Borges/Folhapress)